Meu pai foi submetido a um cateterismo na cidade de Patos de Minas. Ele só foi lá fazer o exame porque em Paracatu não tem profissionais e equipamentos, nem público nem privado, para a realização do procedimento. Nem público, nem privado. Confesso que senti inveja dos patenses.
E o motivo de invejar o município vizinho? Patos tem pelo menos 100 anos a menos do que Paracatu e no entanto ostenta uma qualidade de vida e uma infraestrutura muito maior do que a nossa cidade. Os patenses desfrutam de uma cidade limpa, com trânsito organizado e com criminalidade dentro da média, mesmo com mais gente morando lá do que aqui. Patos tem 50% mais habitantes do que Paracatu. São 84 mil contra 124 mil habitantes. Mas não é sobre trânsito, limpeza pública e violência a minha inveja. É sobre saúde.
O atendimento de meu pai foi feito no Hospital Vera Cruz, uma instituição particular que atende pacientes do SUS, particulares, de planos de saúde e do Ipsemg, como o meu pai. E que atendimento. Da recepção até o médico que realizou o exame, todos foram extremamente cordiais e eficazes. E não foi só com meu pai, foi assim com outros três pacientes que fizeram o mesmo procedimento no mesmo dia. Dois eram do SUS e um particular. Todo mundo tratado de forma absolutamente igual. Mas não é sobre atendimento a minha inveja. É sobre saúde.
Lá mesmo, descobri que a cidade possui outros três hospitais particulares com o mesmo nível de excelência. Não os conheço, mas todo mundo com quem conversei confirmou que são bons hospitais. Juntos devem somar 200 ou 300 leitos em apartamentos, enfermarias, prontos socorros e UTIs. Baseando-me no movimento que percebi no Vera Cruz, todos os hospitais vivem bem movimentados e devem manter boa taxa de ocupação dos leitos. É sobre isso a minha inveja.
Ora, porque Patos de Minas com metade a mais de habitantes consegue manter 4 hospitais particulares de qualidade e Paracatu não consegue manter nenhum? Com todo respeito ao hospital particular existente em Paracatu, mas a infraestrutura de lá é muitas vezes maior. E fiquei pensando no que poderia motivar a ausência de investimentos no setor de saúde suplementar em Paracatu. Será mesmo que somos incapazes de mobilizar empresários e profissionais para investir em um hospital de 60, 70 leitos, com capacidade de ofertar atendimento ambulatorial e de emergência em várias especialidades? Se fizermos um cálculo grosseiro e dividir 124 mil habitantes por quatro hospitais dariam 31 mil habitantes para cada hospital em Patos. Será que nossos 84 mil habitantes seriam tão pobres que não sustentariam UM hospital? Sem contar os de cidades vizinhas que também dirigem-se a Patos de Minas.
Reconheço também que o Hospital Municipal de Paracatu, que é parte do SUS, recebe elogios de todos que o procuram, mas é claramente insuficiente para atender inclusive os que tem plano de saúde ou que podem pagar pelo atendimento. Já passou da hora de motivarmos uma grande campanha em busca de investidores, seja entre os empresários de Paracatu, seja de outras cidades, para que a prefeitura doe um terreno e estabeleça um incentivo fiscal para que seja instalada uma unidade hospitalar de qualidade. Eu acho que Paracatu já cansou de pagar Patos, literalmente.
