A grande mídia tem comentado com real admiração a frequência e insistência com que o Papa Francisco tem pedido para que rezem por ele. O gesto mais significativo foi precisamente do alto do balcão da Basílica Vaticana. Imediatamente após sua eleição, já revestido de paramentos pontifícios, o jesuíta então Cardeal Jorge Mário Bergóglio, nosso Papa Francisco, “franciscanamente” estende os braços aos fiéis que na maior vibração o aclamam na Praça S. Pedro e diz: “rezem para mim“!
Esse gesto e esse pedido o Santo Padre os tem repetido à exaustão, a ponto de chamar a atenção da imprensa mundial. Não por menos, no decorrer da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, o Papa era delirantemente aplaudido pela massa juvenil sempre que estendia os braços e repetia: “rezem para mim”.
De certa forma, não vejo grande novidade nisso. A bem da verdade, aprendi a fazer o mesmo com Dom Antônio Filipe da Cunha SDN, primeiro bispo de Guanhães. Convivi com ele pouco tempo, mas o suficiente para aprender a lição. Em todo documento que assinava, nas cartas que escrevia, nos editais que publicava e em diversos pronunciamentos públicos, Dom Filipe terminava assim: “rezem para mim que eu rezo para vocês”!
“Bom mestre, melhor discípulo”, aprendi rápido a lição. Vejam: vinte e sete anos antes da eleição de Papa Francisco, na ensolarada e dardejante tarde de 14 de setembro de 1986, na Praça do Rosário em Paracatu, diante de incontável multidão de fiéis, ao final de minha homilia na Missa de posse como 4º bispo de Paracatu, num gesto profético e franciscano, estendi as mãos e implorei; “rezem para mim que rezarei para vocês”!
Por muito tempo fui repetindo esse gesto e o mesmo pedido até que me veio de adotar uma variante: “minha gente, peçam a Deus que eu erre menos e acerte mais”, o que vem a dar quase no mesmo. E como um refrão de uma música interminável, saí diocese afora pedindo e insistindo: “peçam a Deus que eu erre menos e acerte mais”. Às vezes, acontecia que, ao visitar paróquias ou escolas ou departamentos públicos, dava de frente com um grande cartaz, bem à vista de todos, com essas precisas palavras: “peçam a Deus que eu erre menos e acerte mais. Dom Leonardo“.
Creio que o povo rezou mesmo. Tanto assim que, a bem da verdade, quando me ponho diante de minha consciência, sempre que faço meu “exame de consciência“, tenho a impressão de que minha vida foi menos de erros que de acertos. Erros eu os tive… e ainda os tenho, na certa. Quem não os tem? Mas devo ter também meus acertos e, modestamente pensando, julgo que não foram e não são poucos.
Vai daí que, quando me propus escrever essas memórias, relatando casos e outras tantas histórias de meu ministério, me veio esse nome: “Acertos e desacertos de um bispo missionário itinerante”. Espero de quem ler essas memórias que não interprete como um inicial “desacerto” o título proposto. De uma coisa estou certo: creio que já é um grande acerto contar sempre com algum desacerto. Por isso, você também, leitor e leitora amigos, façam isso por mim: peçam a Deus “que eu erre menos e acerte mais” ou que meus desacertos sejam menos numerosos que meus acertos.
Por: Dom Leonardo de Miranda Pereira, Bispo Emérito da Diocese de Paracatu
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