FILOSOFAR É PRECISO – por Tarzan Leão

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Quando surge na Jônia – colônia fundada na costa asiática da Grécia – por volta do século VI a.C., a Filosofia se ocupava basicamente com o que os primeiros filósofos denominam de physis. Embora traduzida sempre por natureza, a palavra physis quer dizer bem mais que isso: é também a realidade que está em pleno movimento; gênese, origem, manifestação.

De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida como período pré-socrático. Esse período abrange o conjunto das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto até Sócrates. Os filósofos anteriores à Sócrates se preocupavam em determinar o que é uma coisa. Os pré-socráticos ocuparam-se em explicar o universo e examinavam a procedência e o retorno das coisas. Os primeiros filósofos gregos tentaram responder à pergunta: Como é possível que todas as coisas mudem e desapareçam e a Natureza, apesar disto, continua sempre a mesma? Para tanto, procuraram um princípio a partir do qual se pudesse extrair explicações para os fenômenos da natureza. Um princípio único e fundamental que permanecesse estável junto ao sucessivo vir-a-ser. Tales vai dizer que o princípio de tudo é a água; Anaximandro, o infinito indeterminado (ápeiron), Anaxímenes, o ar; Heráclito, o fogo; Pitágoras, o número; Empédocles, os quatro elementos: terra, água, ar, fogo, em vez de uma substância única. Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes acreditavam que as coisas têm por trás de si um princípio físico, material, chamado arké.

Para Cícero (Marco Túlio Cícero, ou Marcus Tullius Cicero, Arpino, 106 a.C. — Formia, 43 a.C.), filósofo, orador, escritor, advogado e político romano, o criador desse vocábulo é Pitágoras de Samos, um pré-socrático. Segundo essa tradição, quando o príncipe Leonte perguntou a Pitágoras em que arte ele era versado, este teria dito: em nenhuma arte, sou apenas um estudioso, um amigo da sabedoria, um filo-sofós. Por esse tempo ainda não havia essa separação que existe hoje entre os vários saberes (ciências). Assim, quando alguém se dedicava a qualquer tipo de estudo especulativo (não prático, pois o trabalho braçal era destinado aos escravos), era chamado de filósofo. Por essa razão que a filosofia é chamada de “a mãe da ciência”, pois antes das ciências modernas existia apenas a filosofia.

A grande singularidade do pensamento filosófico nascente, no entanto, consistiu no rompimento provocado com o mundo dos mitos. Se antes a explicação vinha toda da Teogonia de Hesíodo, agora se buscava na própria razão uma explicação para o que tanto inquietava o espírito dos primeiros filósofos: de onde viemos? Como surgiu a vida? Pois, “a noite segue o dia. As estações do ano sucedem-se uma á outra. As plantas e os animais nascem, crescem e morrem. Diante desse espetáculo cotidiano da natureza, o homem manifesta sentimentos variados – medo, resignação, incompreensão, admiração e perplexidade. E são precisamente esses sentimentos que acabam por levá-lo à filosofia. O espanto inicial traduz-se em perguntas intrigantes: o que é essa natureza (physis), que apresenta tantas variações? Ela possui uma ordem ou é um caos sem nexo? Em suma: o que é a physis?”

Há, também por assim dizer, uma ideia de ordem (cosmos) e que inquieta o espírito grego. Esses primeiros cientistas estavam convictos de que não estamos à mercê dos deuses e que existe uma ordem no mundo. Que há uma lógica que governa a natureza, mas, que foge ao humor e à instabilidade emocional dos deuses do Olimpo. Não é por castigo divino que a natureza se revolta, como ocorreu recentemente no Haiti ou nos grandes centros urbanos brasileiros: terremotos, enchentes. É sempre possível e sensato buscar uma explicação racional. Não foram os rios que invadiram as cidades. Foi justamente o contrário: as cidades invadiram os rios. E, como diria Brecht, “do rio que tudo arrasa, se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas, as margens que o oprimem”. Quanto aos terremotos, de acordo com a Wikipédia, “um sismo, também chamado de terremoto, é um fenômeno de vibração brusca e passageira da superfície da Terra, resultante de movimentos subterrâneos de placas rochosas, de atividade vulcânica, ou por deslocamentos (migração) de gases no interior da Terra, principalmente metano. O movimento é causado pela liberação rápida de grandes quantidades de energia sob a forma de ondas sísmicas.”

O nascimento da Filosofia é chamado de “o milagre grego”. De fato, esse é o maior legado que os gregos nos deixaram: a disposição para a admiração, e mais: a capacidade de sempre buscar na razão a explicação para todos os fenômenos que nos cercam, ainda que essas explicações sejam temporárias e logo substituídas por outras mais convincentes.
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