MME aposta na Mina de Ouro de Paracatu para dobrar a produção até 2017 no País

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A Kinross, oitava maior produtora de ouro do mundo, comprou a Rio Paracatu no momento oportuno. Em 2005, ano da aquisição, o ouro só estava começando a se valorizar. Quando entraram na mina, os canadenses ainda descobriram que a reserva era maior. O projeto que elevou a produção de 5 toneladas para 15 toneladas por ano também ampliou em mais de 30 anos o tempo de vida útil da mina. Para a indústria do ouro, não houve crise.

Em 2008, dois meses depois da quebra do banco Lehman Brothers, a Kinross comprou o primeiro moinho de proporções gigantescas para a mina. Outros dois, um pouco menores, vieram em seguida. O quarto começou a ser montado no mês passado.

Em todo o País, a produção de ouro também começou a crescer a partir de 2005, com novos projetos e expansão das minas em atividade. Segundo o Plano Nacional de Mineração, do Ministério de Minas e Energia, a produção deve dobrar entre 2009 e 2017, passando de 57 toneladas para 130. Em 2008, a China, líder mundial, produziu quase 300. O levantamento diz que, se a previsão se confirmar – e a cotação ficar na casa de US$ 1,2 mil -, o ouro pode se consolidar como o segundo bem mineral do País, atrás do minério de ferro, em valor de exportação, movimentando cerca de US$ 3 bilhões ao ano.

Meio ambiente.
Com a expansão, a mina virou a maior empregadora de Paracatu, com cerca de mil funcionários. Na cidade, ela passou a despertar reações díspares. Para uns, é geradora de renda e de emprego. Para outros, é altamente poluente. À frente da Fundação Acangaú, um médico, um procurador da Justiça, alguns engenheiros, além de outros profissionais, tentaram barrar o avanço da mina, alegando uma concentração acima dos limites legais de arsênio, um metal que, em níveis muito altos, é tóxico.

Pesquisadora do Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Patrícia Rezende não mediu o nível do ar da região, mas detectou concentração alta do metal no leito do rio que cruza a cidade. "Mas concluí que ele não se desprende do sedimento. Portanto, não polui as águas", diz Patrícia. A Kinross diz que monitora constantemente a qualidade do ar da região, que seguiu todas as etapas do licenciamento e que a quantidade de arsênio nos rios é um passivo da época do garimpo na cidade.

Quantidade real de ouro, ainda é mistério

É proibido fotografar e filmar o pequeno bunker onde estão guardadas as valiosas barras, que deixam a cidade duas vezes por semana

Ao mostrar o pequeno bunker onde ficam guardadas as barras de ouro, o engenheiro de minas Marcos Paulo Gomes, gerente de operações da Mineração Rio Paracatu, faz um comentário que resume bem o espírito da atividade: "Tanta coisa para sair essa miséria de ouro!" A fundição – onde são fabricadas as barras de ouro – é a fase mais artesanal de todo o processo. O movimento do seu forno é menor que o de uma padaria de bairro, um ritmo que contrasta radicalmente com o que se vê no restante da mina. Para produzir 500 barras de cerca de 30 quilos (14,8 toneladas), as máquinas tiveram de remover 44 milhões de toneladas de minério no ano passado.

Embora artesanal, a fundição é uma área mais tensa. E o calor só reforça essa sensação. A temperatura do pequeno forno chega a 1500° C. Para se proteger do calor e dos respingos do material, o funcionário encarregado pela feitura das barras veste um uniforme parecido com o de um astronauta antes de se posicionar perto do forno. Quando o processo termina, ele fica desesperado para tirar a roupa. O corpo fica visivelmente suado e a roupa permanece quente alguns minutos depois. Ao longo do dia, ele pode repetir esse trabalho dez vezes.

A área é neuroticamente vigiada. Nas fotos desta reportagem, o funcionário da fundição não pôde mostrar o rosto, com medo de ser identificado. Eles contam que, numa outra mina, a família de um funcionário do mesmo setor foi sequestrada e o resgate pedido foram barras de ouro. "Ninguém pode saber que trabalhamos aqui", diz um deles. Antes de a reportagem deixar a sala, eles quiseram ver as fotos e eliminaram algumas delas.

Ali, só se entra com autorização. O ouro sai do cofre em carro forte duas vezes por semana, em horários não determinados. O "procedimento" (os funcionários nunca falam a palavra transporte) é cercado de sigilo. Não pode ser fotografado e nem visto por visitantes. Por questões de segurança, o helicóptero que leva as barras embora de Paracatu não pode ficar mais do que um minuto em solo. "O recorde foi de 46 segundos", gaba-se um dos profissionais da área de segurança.

A barra que sai de Paracatu não é totalmente pura. O processo de refino ocorre numa fábrica na região do aeroporto de Guarulhos (SP). Dali, 100% delas são enviadas para exterior. Os clientes da Kinross são grandes bancos estrangeiros e joalherias.

A última grande mina no Brasil

Sob um sol quente e um ar seco, a paisagem da mina de ouro de Paracatu (Minas Gerais, a 488 quilômetros de Belo Horizonte) choca ainda mais. A imagem é de terra arrasada, cenário de um filme apocalíptico. Quase não há homens em campo. Apenas retroescavadeiras abastecendo caminhões gigantes, que vão e vêm abarrotados de minério. Pipetas de ouro, não se vê ali desde os tempos do Império. Só montanhas de pedras. E muita poeira. A mina, hoje a maior do País em movimentação de minério, não para de crescer para atender à corrida mundial pelo ouro.

Desde o ano passado, todos os dias, pontualmente às 16 horas, 180 buracos são detonados com explosivos, desmontando 180 mil toneladas de uma só vez. Até 2040, prazo para o fim da exploração da Rio Paracatu, a parte noroeste terá "mergulhado" cerca de 200 metros de profundidade, cinco vezes mais do que hoje. Na última grande reserva de ouro descoberta no País e com o menor teor do mundo, nenhum grama pode ser desperdiçado.

A cada tonelada de minério extraída, sobra apenas 0,4 grama de ouro. Nas minas subterrâneas do Chile e dos Estados Unidos, por exemplo, essa relação pode chegar a 15 gramas por tonelada. "Para tirar ouro nesse teor, é só movendo terra daqui para ali e desmontando montanha. O ouro de Paracatu é muito fino, não é simples recuperá-lo", explica o engenheiro de minas Aldo Ferreira, sócio da consultoria Metal Data.

Explorada pela canadense Kinross desde 2005 – quando foi comprada da anglo-australiana Rio Tinto -, a mina saiu de uma produção de 5 toneladas por ano para as atuais 14,8 toneladas. Neste ano, deve chegar ao pico de 17 toneladas e depois variar entre 15 e 16 por ano até o fim da vida útil da mina, segundo as previsões do presidente da Kinross no Brasil, José Roberto Freire. O projeto de expansão, iniciado em 2008, consumiu investimentos de US$ 570 milhões.

Todo esse esforço tem muito sentido econômico. Apesar das condições adversas, a mina é lucrativa. O ouro atingiu no ano passado um patamar histórico e não para de bater recordes (veja gráfico abaixo). Na última semana, a cotação da onça (medida usada internacionalmente, que equivale a 31,1 gramas de ouro) rondou US$ 1,4 mil, cinco vezes mais que no fim da década de 90, quando a mina de Paracatu sofreu a sua pior crise. "Mesmo que caísse a um patamar de US$ 700, a mina ainda seria lucrativa. Mas não cai mais, porque as minas pequenas fechariam e, com a produção menor, o ouro voltaria a subir", afirma Freire. "Isso dá uma situação muito estável financeiramente à mina."

Crise. A recente escalada do ouro foi provocada por diversos fatores – alguns mais e outros menos determinantes. Na segunda categoria estão a ascensão da classe média na Índia, que passou a consumir mais joias em ouro, e a redução da oferta do metal – está cada vez mais difícil encontrar novas reservas; nas que existem, os teores só caem.

Mas o que empurrou o ouro para patamares acima de US$ 1 mil foi a crise financeira mundial. O economista Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria, gosta de dizer que o valor do ouro é a soma das inseguranças do mundo. "Durante crises, há fortes distorções de preços, porque os investidores fogem de outras aplicações e buscam o ouro para se proteger. A alta do ouro tem pouco a ver com o aumento real da demanda", diz Blanche.

A corrida do ouro começou em 2006, quando o banco central americano baixou a taxa de juros. "Naquela época, os investidores viram que o ouro poderia render mais do que os títulos do Tesouro", explica Blanche. Com o acirramento da crise e a desvalorização do dólar e do euro, mais e mais investidores passaram a comprar ouro para se proteger. Bancos centrais de países emergentes decidiram diversificar suas reservas comprando ouro, tornando-se alguns dos principais compradores do metal.

Há também um quarto fator, menos conhecido, ajudando a semear a alta do ouro. Trata-se de um fundo criado em novembro de 2004 pelo Conselho Mundial do Ouro (World Gold Council), quando o interesse pelo metal estava começando a aumentar. Composta por mineradoras internacionais, até então a entidade lutava para sobreviver. Ao transformar as barras em instrumentos negociáveis na Bolsa de Nova York, o fundo acabou democratizando o mercado de ouro. Hoje é o maior proprietário privado mundial do metal, com um estoque diário de US$ 30 milhões, segundo reportagem recente do Wall Street Journal. A sua reserva atual é maior que a do Banco Central da Suíça. O megainvestidor americano George Soros é um de seus cotistas mais famosos, com centenas de milhões de dólares investidos.

O ouro, na visão de Blanche, não voltará mais à casa dos US$ 300, mas, assim que a economia americana voltar a crescer e a taxa de juros subir, vai haver uma corrida no sentido contrário, para vender o ouro e realizar os lucros desses últimos quatro anos. "Esses movimentos especulativos são muito rápidos. Eu não me preocupo com as mineradoras, porque elas fazem planos de longo prazo, mas com uma legião de pequenos e médios investidores", diz o economista.





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