Paracatu de luto. Morre o Sr. Vasco Praça, pai do ex-Prefeito Vasquinho

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O Sr. Vasco Praça, chamado por muitos de “Vascão ou Vasco Pai”, pai do ex-prefeito de Paracatu, Vasco Praça Filho, faleceu aos 82 nos, na noite desta segunda-feira (25/05) em Brasília. Ele vinha lutando contra uma leucemia mieloide aguda nos últimos anos. 

Vasco Praça nasceu em Pirapora (MG) mas com poucos meses foi para Paracatu (MG), cidade onde cresceu. Aos 11 anos, começou a trabalhar para ajudar no sustento da família e seguiu o caminho do pai, no comércio. Aos 16 anos, seguindo como comerciante, foi para Brasília com o tio-padrinho. De lá voltou para trabalhar na Coopervap, trabalho esse que abriu caminho para que se dedicasse também à criação de gado leiteiro e cavalos.

Em Paracatu, Sr. Vasco construiu uma história de muito trabalho e amor pelas causas sociais.

O corpo de Vasco Praça chega a Paracatu ás agora a tarde e será velado no cemitério Santa Cruz entre 15 e 17 horas.

Vasco Praça deixa esposa, 3 filhos, 5 netos e uma e uma cidade inteira de luto pela perda desse grande cidadão.
 
Do Museu da Pessoa, extraímos biografia de Vasco Praça

Vasco Praça, nascido em Pirapora, vindo com seis meses pra Paracatu, portanto eu considero mais paracatuense do que piraporense.

Meu pai era filho de produtores de vinho, a região dele é Barqueiros do Douro, fabricava vinho do Porto e, com a ascensão de Salazar, que mandou em Portugal muito tempo, houve uma reforma agrária, e eles viviam, moravam num sítio, e a família era muito grande, com essa divisão, ele preferiu vir pro Brasil. Veio pra cá com 14 anos de idade, junto com uma família de vizinhos que mais tarde foram industriais famosos no Rio de Janeiro, fazendo aquele brim Triunfador, sabe? É um brim cáqui que ficou famoso. Ele foi morar no Vasco da Gama e lá ele nadou e remou, e foi campeão dez vezes lá na Lagoa Rodrigo de Freitas. Depois, então, dos 18, 19 anos, veio pra essa região vender mercadoria, como se fosse um mascate.

Ele representava ferragem. Ele tinha um mostruário, 11 malas que vinham numa caminhonete e se abria, mostrava pro comerciante e o comerciante escolhia isso, fazia o pedido e vinham depois as coisas. Mas antes, ele teve uma fase, logo que ele saiu do Vasco da Gama, que ele vinha pra cá de mula, era tropa, tropeiro. Ele viajou muito de tropa de burro, mula, até aqui, porque não tinha estrada, né?

Minha mãe era descendente de uma família que chamava Porto Paranhos, que era essa família Porto, que veio pra Paracatu, e esses portugueses da família Porto ficaram muito ricos, depois é que foi acabando tudo, dividindo.

Nós morávamos ali na Praça Cristo Rei, ali tinha uma igreja antiga, chamava Igreja do Amparo. Aqui em Paracatu tinha três igrejas mais importantes: a Matriz, que era a igreja dos brancos; o Rosário, que é a igreja dos pretos; e o Amparo, que era a igreja dos pardos. Essa igreja, a porta dela quase dava em frente lá em casa, sabe? Era uma rua estreitinha. Esse avô meu, bisavô, que chama Ricardo Serafim da Costa Porto, construiu diversas casas em volta dele, então nós moramos a vida inteira numa casa que foi construção desse bisavô, moramos até hoje lá.

O que usava muito aqui em Paracatu era ir jogar futebol, as peladas nesse largo, e ir pra Praia do Vigário, que era uma praia famosa aqui, que morou um padre, é a razão da praia ser Praia do Vigário, e a gente tinha uma verdadeira loucura pra chegar fim de semana e ir pra Praia do Vigário e outro córrego que passava no fundo, que chamava Córrego das Meninas, sabe, então era essa a distração nossa. Cinema, começou então a adaptar esse teatro a um cinema a loucura era ver, assistir aqueles filmes de cowboy, contra os índios, no Texas.

Eu já, aos 11 anos, fui trabalhar com caixeiro viajante, como caixeirinho, do comércio, então, eu não tinha tempo de estudar, além de tudo, a gente tinha uma loja que construiu umas vitrines e naquele tempo não tinha vitrine em Paracatu, e essas vitrines ficavam abertas à noite e precisava de ficar lá vigiando.

Era uma loja perfeita, sabe, tinha agulha, botão, nós tínhamos como se fosse, assim, um livro de renda guipir. A gente aprendia esse negócio, lese, cetim duchesse, tudo isso nós aprendíamos lá. A loja foi, talvez, assim, um banho de civilização pra gente.
Eu fui trabalhar cedo desse jeito porque o meu pai teve um negócio, uma água no joelho e não aguentou andar durante seis, oito meses, e minha mãe, que era prima desse pessoal da loja, pediu pra arranjar um emprego pra ajudar na despesa de casa. Então eu fui trabalhar por causa disso… E a vida, apesar dessas dificuldades todas, me deu uma oportunidade tremenda, eu já assisti desfile de moda no Copacabana Palace com 17 anos, sabe, quando o Brasil começou a desenvolver nessa parte de tecidos, fazer organdi, coisa, eu fui pro Copa assistir desfile. Porque eu, lá na loja, era o único que tinha Ginásio, então o Criolo Pimentel me mandou pra lá porque, por pior que fosse, eu pelo menos já tinha Ginásio, né?

Nós acabamos formando 26 [no Ensino Fundamental]. Desses 26, nós fomos pra esse teatro e tinha o orador da turma, como uma formatura de universitário, os diretores da escola, naquele tempo era Doutor Moacir Silveira Santos que era o diretor, e as famílias embaixo, na plateia, assistindo, vibrando. Na hora que chamava um lá, palmas, né, e tal, porque era uma coisa importantíssima pra nós. Isso era tão importante que aqui tinha um alfaiate que chamava Bastos, ele teve tanta encomenda de terno que, ele todo ano ele ia pra essa Festa da Lapa, em Vazantes (MG), uma romaria.E a alfaiataria ficava num beco, esse beco chamava Beco do Cisco, sabe, e todo mundo passava lá, que ligava uma parte da cidade à outra: “Oi, Bastos, como é? Você vai à Lapa?”, ele já enfezado, ele era meio sistemático, ele expôs um cartaz lá de todo o tamanho: “Esse ano Bastos não vai à Lapa”, pra acabar com a conversa, né? E, pra dar conta de fazer os ternos, porque ele não tinha nem ajudante, era só, e a gente naquela sensação de medo do terno não sair pronto, e adulando ele pra fazer o terno.

[Com, por volta dos 16 anos] Veio um tio meu que era de Pirapora, tio e padrinho, precisando de uma pessoa, pra ir pra Brasília e ninguém topava ir pra Brasília, aí, como ele tinha muita força sobre minha mãe, porque ele ajudou um pouco criar minha mãe, né, minha mãe logo me obrigou a ir pra Brasília, pro Núcleo Bandeirante, trabalhar com ele. Lá era só trabalho, trabalhava, porque lá em Brasília, quando as firmas, as empreiteiras, que construíram os ministérios, os palácios, paravam, corriam pro Núcleo Bandeirante pra comprar, alimentar e tudo, então a gente não parava, não.

Eu voltei de Brasília pra vir dirigir a cooperativa, um cooperados me conhecia lá de Brasília como comerciante e me indicou pro presidente da cooperativa.

Estava na época que veio a revolução, 1964 e tal, e nós tínhamos um deputado aqui de Paracatu chamado Jorge Vargas e Magalhães tinha fundado o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, então Jorge sugeriu pra o Wladimir, o primeiro presidente, a pedir um empréstimo no banco, empréstimo industrial, porque lá em Brasília estava faltando leite, lá não tinha uma bacia leiteira e uma bacia leiteira não faz de um dia pro outro, é um negócio de dez, 20 anos, pra você ter, criar a vaca, vaca que dá leite e tal, aquele negócio todo.

Nós [na cooperativa] começamos a fazer exposições pra mostrar ao fazendeiro que estava acostumado só com o gado de corte, o gado pé duro, vagabundo, que dava 1 litro de leite, e a gente, por ter viajado, acompanhado algumas experiências da Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], a gente já sabia o que é o gado de leite, começamos então a incentivar o fazendeiro. Foi quase uma catequese isso, um negócio difícil. O fazendeiro reagia mal porque às vezes o gado holandês é mais sensível, ele comprava, de repente, morria, aquele negócio todo, até adaptar, virar o girolando e começar a expandir o leite. Nós trazíamos de fora tudo pro fazendeiro, ração, nós não tínhamos fábrica de ração nessa época, trazia todo o maquinário e trazia também uma coisa que chamava ordenhadeira, uma máquina que você roda e tira o creme, separa o creme do leite, pra ele vender também o creme pra fazer manteiga, com isso nós fomos incentivando, mudando a cabeça do fazendeiro. Começamos com mil litros, 500 litros, chegava na seca, não tinha leite, os compradores de Brasília ficavam com raiva da gente, não entendiam o negócio direito, sabe, e aí fomos criando, até essa pujança que é hoje a cooperativa.

Fonte: Museu da Pessoa
Fotos: Arquivo Paracatu.Net
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