A Câmara Municipal de Paracatu aprovou, dia 22/12, manifestação de repúdio a um comportamento de membros da Polícia Militar local que não deixa de arranhar a soberania do Legislativo e lembra os tempos da ditadura dos milicos, imposta ao Brasil em 1964. Diversos membros daquela corporação, no dia 15 anterior, à paisana, mas todos vestindo camisetas pretas, ocuparam, juntos, os assentos destinados ao público. Afrontando o Regimento Interno da Casa, fizeram ruidosa manifestação contra o vereador Ragos Oliveira, do PT, que, no exercício do seu mandato, estava regularmente inscrito para o uso da tribuna. A atitude foi considerada “deselegante e intimidadora” pelos vereadores.
Ragos discursaria a respeito da política voltada para os direitos humanos, celebrados no mês, oportunidade em que reivindicaria apuração de denúncias de desmandos atribuídos de militares lotados no 45º batalhão, formuladas por familiares das supostas vítimas, que também se faziam presentes. Ocorre que a informação vazou. E a Casa, que tem dois ex-cabos da PM dentre os seus membros, se viu parcialmente ocupada por dezenas de militares. Quando o vereador foi chamado pela Presidência para o uso da palavra, os manifestantes, que também fizeram ruído com palmas, viraram as costas para o orador, a tribuna e o plenário, enquanto uma viatura policial, com homens fardados, permanecia estacionada em frente àquela Casa, com o giroflex ligado. Os parentes das supostas vítimas igualmente se manifestaram, porém, em apoio ao vereador.
O comportamento dos militares não intimidou o vereador petista, que continuou discursando e classificou o ato de virar as costas dos policiais como atitude de covardes, que tão têm coragem de encarar situações adversas, como aquela, de frente. Ragos Oliveira diz que não são todos, mas existem militares que têm abusado da autoridade, citando como exemplo o caso de um policial que deu tapas na cabeça de um menor no bairro Paracatuzinho até machucar a própria mão. Daí, necessária se faz a apuração que solicitava, de forma a separar o joio do trigo. Lembrou aos manifestantes que, a partir do próximo mês, assumirá o Governo do Estado o seu companheiro petista Fernando Pimentel, que, por disposição constitucional, será também o supremo comandante das polícias Militar e Civil, e terá como seu assessor direto o deputado Durval Ângelo, do PT, que tem toda uma história de intransigente defesa dos direitos humanos.
Está instalado, no mínimo, um clima de mal-estar; e, de certa forma, revivido, desnecessariamente, um tempo do qual ninguém sente saudade…
Do Toco do Pecado – Comentários de Florival Ferreira
