"Mesmo atingido por tanta desgraça,
Jó não pecou nem culpou Deus de nada".
(Jó 1.22)
Diferentemente de Adão, que ao cair em pecado culpou a mulher que Deus havia lhe dado como companheira pelo seu erro (Gn 3. 12), Jó nos dá mostras de sua integridade e de seu senso de responsabilidade quanto às suas escolhas. Embora atingido injustamente, ainda assim, não culpou Deus, nem o diabo, pela desgraça que se abatia sobre ele e sobre os seus.
Cristo também fora atingido cruelmente ao ser condenado pelo Sinédrio e pelo poder do Império Romano e, mais ainda, ao ser abandonado pelos seus. Não achamos nos evangelhos uma única palavra Sua culpando quem quer que seja pela sua injusta condenação. Ele, que é escolhido como bode expiatório para salvar o Templo e o Império de uma convulsão social, caminha humildemente para o sacrifício, qual Isaque caminhara. Não procurou culpados, ainda que, ante a morte iminente, tenha lançado ao seu Pai um grito de agonia, que ainda hoje ecoa em nossos ouvidos: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?”
Geralmente, agimos da forma como agiu Adão, e procuramos sempre um bode expiatório para responsabilizar pelos nossos problemas. Às vezes esse bode expiatório é Deus, noutras vezes é o Diabo, não raramente é alguém do nosso próprio meio. Esse comportamento é particular e individual, mas se torna coletivo por força da própria mímese, esta compulsão natural que temos para a imitação. O Antigo Testamento vem, o tempo todo, denunciando esse processo mimético do qual fazemos parte, mas é no Novo Testamento, que a mímese é desmascarada a partir do mistério da Cruz.
Não sabemos o propósito de Deus para a nossa vida. Não sabemos, de outro modo, o que nos acontecerá amanhã. O que sabemos é somente uma coisa: que Deus nos ama e que sempre vai nos proteger, ainda que no presente estejamos mergulhados em dor e sofrimento.
