Festival Literário de Paracatu discute os rumos da literatura brasileira

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Realizado de 27 a 31 de agosto, o evento promoveu o encontro de dezenas de autores de todo o país

“Encruzilhada” para alguns, a palavra diz respeito a uma situação sensível, na qual uma decisão deve ser irremediavelmente tomada – muitas vezes a contragosto. “Para que lado ir?”. Para outros, o termo logo remete a algo positivo. O lugar onde tudo se converge, caminhos então dispersos se unem, conexões são feitas, e um mar de possibilidades surge.

A terceira edição do Festival Literário de Paracatu (Fliparacatu), realizado entre 27 e 31 de agosto na referida cidade do Noroeste de Minas, promoveu o encontro de dezenas de autores de todo o país, com o público convergindo em torno do tema “Literatura, encruzilhada e a desumanização”.

Ao longo do festival, escritores debateram sobre assuntos contemporâneos, ‘encruzilhadas’ do momento, impasses que podem vir a ser resolvidos pela literatura. Por isso, o Estado de Minas perguntou para alguns dos autores convidados, afinal, “a literatura brasileira vive numa encruzilhada”? Veja algumas respostas:

AFONSO BORGES:

“A encruzilhada é literária na medida em que nós escrevemos olhando o mundo. E toda a literatura de ficção, apesar de não ter o compromisso claro com a realidade, consegue ver o outro através dessa realidade. O grande segredo da literatura é esse: fazer com que o outro, ao ler, se reflita e se entenda um pouco mais. E a encruzilhada está nas guerras, nas opções pessoais dos eleitores por candidatos errados”.

SÉRGIO ABRANCHES:

“Nós estamos todos diante de várias encruzilhadas. Uma muito profunda, muito complexa, que é a das grandes mudanças que a digitalização, a globalização, a revolução nova e a revolução científica tecnológica trouxeram. É um mundo em mudança muito profunda, que provavelmente será mais forte do que a mudança da Idade Média para o Iluminismo. E, ao mesmo tempo, essa mudança produz muita incerteza e muita insegurança”.

CARLA MADEIRA:

“De uma maneira geral, o mundo mudou muito com a tecnologia. Com esse entretenimento meio hipnótico, das mensagens curtas e assuntos direcionados para te prender na obsessão do dedo passando pela tela. E a literatura exige uma imersão, exige uma imaginação, e dá trabalho pro leitor, né? Dá muita alegria, mas também dá muito trabalho”.

SILVANA GONTIJO:

“A gente deve pensar o mundo usando a ferramenta da literatura, é isso que está colocado para mim. A encruzilhada para mim é se a gente vai viver ou não. É se a gente vai conseguir reverter uma emergência climática para que nós possamos sobreviver. Para mim, a literatura tem necessariamente de estar engajada com as grandes causas”.

“A literatura infantil vive sempre encruzilhadas, porque está sempre no dilema de até que ponto a gente é respeitado como escritor, que a nossa literatura é respeitada como arte, até que ponto aquilo é um trabalho que será usado para fins paradidáticos. Eu acredito que a opção do escritor deve ser sempre pela arte e pela literatura como a arte da palavra”.

MATHEUS LEITÃO:

“Tem gente que sempre demonizou a encruzilhada, mas aqui eu vi falas muito bonitas de que a encruzilhada também é uma oportunidade. E por mais difícil que seja esse momento, que é um momento que nos impõe extremo desafio, como escritores, jornalistas e intelectuais, eu saio daqui com esperança”.

BIANCA SANTANA:

“A literatura tem momentos de encruzilhada, quando a gente pode escolher continuar produzindo literatura tratando de temas variados, sem censura, sem constrangimentos. Tentando cada vez mais ter autorias de diferentes lugares do Brasil, pessoas de diferentes gêneros, sexualidades, cor de pele, para a gente ter uma literatura cada vez mais com a nossa cara e uma literatura de vários estilos, e que atenda diferentes gostos”.

AMARA MOIRA:

“A gente entendeu que a literatura é política, e tem um peso em transformar a realidade. Só que eu sinto que estamos querendo fazer essa transformação de uma maneira muito consciente, mas não temos condições de decidir o que as obras vão dizer, como vão impactar a sociedade e transformá-la. Nessa ânsia de produzir obras que colaborem na construção de um amanhã mais livre, menos discriminatório e violento, temos tentado escrever obras muito limpinhas de contradições. Sinto que temos um debate delicado nisso”.

ANA MARIA GONÇALVES:

“Eu não consigo ver a palavra encruzilhada como algo negativo. Para mim, principalmente por ser do candomblé, a encruzilhada é algo extremamente positivo. Queria eu que a literatura, que o país, que todos os problemas que encontramos hoje em dia, estivessem na encruzilhada. É o lugar das diversas possibilidades. Onde o passado, presente e o futuro se encontram. É o lugar regido por Exú, orixá da comunicação, onde todas as pessoas, de uma forma, se entendem. É o lugar do caos, mas de uma maneira boa, que nos tira do lugar comum.

Fonte: Estado de Minas

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