Paracatuzinho, mais que um bairro, uma cidade!

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 (*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é pesquisador da história e da cultura de Paracatu.

O Paracatuzinho é uma cidade dentro da cidade”, diriam muitos ao expressarem de forma metafórica sobre o quanto que o outrora periférico e desprestigiado lugar se desenvolvera e alcançara robustos ares de bairro residencial e comercial, com sua história marcada especialmente por consideráveis mudanças quanto a sua ocupação e valorização dos imóveis, além de uma maior movimentação no trânsito, excepcionalmente a partir dos últimos 10 anos.

Em editorial de A Tribuna de Paracatu, datada de 28/11/1954, na página 8, o Sr. Luiz Gonzaga de Carvalho, descrevera aquele então afastado bairro: “Às margens do Córrego Rico, com suas rústicas habitações de capim, o bairro Paracatusinho espreita a carrancuda e velha Paracatu”. A simplicidade sempre fora uma característica marcante da localidade, inclusive com o predomínio de residências do tipo choupanas, como reforçam alguns pedidos de alvarás para construção e modificação daquele período.
No raro livro de alvarás expedidos pela Prefeitura, à folha 66, consta do registro de nº 102: “concedida ao senhor Francisco André, a necessária licença para reconstruir a sua casa de residência, situada na rua Israel Pinheiro nº 168, bairro do Paracatuzinho, nesta cidade, nos termos do seu requerimento datado de 10 de Outubro do corrente ano” [1955], o que reforça uma tendência de modernização das habitações naquelas adjacências  a partir de então.
Tratado no passado como bairro proletário e/ou subúrbio, muitos obstáculos já se impuseram por anos aos moradores do Paracatuzinho, a exemplo do isolamento e a miséria. A presença dos Córregos Rico e Pobre – importantíssima até certo momento para o abastecimento humano! – nem sempre contou com as pontes hoje existentes, uma vez que as travessias davam-se, em alguns casos, através das modestas e perigosas pinguelas. Doutro modo, era inevitável caminhar bastante para chegar aos bairros vizinhos e ao centro da cidade.
Outra inimiga histórica do povo, a miséria, já rondou aquela humilde e volumosa comunidade, principalmente em tempos pretéritos, como apontam os relatos jornalísticos disponíveis. Registrou o nobre jornalista Florival Ferreira em reportagem do Jornal de Paracatu, de agosto de 1983, na página 3: “Oficialmente, o bairro é o mais pobre da cidade, apesar de contar com um quarto da população urbana do município. O bairro em si é modesto no seu centro nervoso, carente na maior parte das ruas. É simplesmente miserável na sua parte alta, localizada nas proximidades do aeroporto”.
A pavimentação do bairro também remete à rusticidade predominante em outros tempos: Antes do confortável asfalto, era tudo de terra mesmo, o que explicaria o apelido de pé vermelho, atribuído a quem morasse no bairro, e tempos mais tarde, as pedras irregulares calçavam as vias e reduziam sobremodo a poeira, além de possibilitarem uma maior absorção de água pelo solo. No encontro da Travessa Tupis com a rua Cristino Pimentel Ulhôa, alguns rasos buracos comprovam que o asfaltamento foi executado sobre o ecológico calçamento rochoso.   
Embora com uma história que vai além dos 70 anos de existência e com o maior número de edificações, entre residências e pequenos comércios (5.923 em 2023, conforme dados da Unidade de Vigilância da Saúde da Prefeitura de Paracatu), verifica-se o interesse tanto da iniciativa privada quanto do Poder Público em dotar o Paracatuzinho com novos estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, haja vista que alí já se encontram 2 agências bancárias, 1 funerária, 1 indústria de café e 2 de vassouras, 2 agências lotéricas, 5 farmácias, 1 hospital privado em construção, além do Centro Administrativo Municipal (Prefeitura) e do Centro Empresarial.
No quesito infraestrutura urbana, o Paracatuzinho conquistou incipientes melhorias, como paisagismo do canteiro central da Avenida Israel Pinheiro (antes era só terra e agora possui grama!), revitalização de 3 pequenas praças, ampliação da cobertura de ruas atendidas pelo serviço de varrição e construção de mais uma ponte na sua ligação com o Bairro Sant’Anna. Há rumores de que o mais populoso e agora elo entre o centro da cidade e a nova sede da Prefeitura venha a contar, muito em breve, com uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e também com a sede própria da Polícia Civil, esta última como parte do planejamento estratégico da administração municipal (Paracatu Avançar). Uma agência dos Correios e um serviço cartorial seriam muito bem vindos na região!
Ainda há quem costume, à revelia dos dados oficiais e sem considerar o fato de se tratar de uma localidade densamente povoada, associar o Paracatuzinho a um lugar muito violento – fama esta que perdurou por décadas! – porém, as transformações pelas quais passara o gigantesco bairro, inclusive com a presença de novos empreendimentos públicos e privados, que absorvem mão de obra e geram renda para a comunidade, tornaram-no não só um lugar estratégico em diversos aspectos políticos, econômicos e sociais, mas um ambiente cuja tendência é a valorização imobiliária, o crescimento do comércio e da prestação de serviços, e a expansão urbana em seus arredores.
 
REFERÊNCIA
CARVALHO, Luiz Gonzaga de. Molestia de chagas no Paracatusinho [sic]. A Tribuna de Paracatu. Paracatu, p. 4-4. 28 nov. 1954
FERREIRA, Florival. Alto do Paracatuzinho: O sofrimento mora aqui. Jornal de Paracatu . Paracatu, p. 3, Ago. 1983.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PARACATU. Livro Registro de Alvarás. Paracatu, 1955-1957. 1 f.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PARACATU. Planilha quantitativa de edificações por bairro da Unidade de Vigilância de Saúde (UVS) do Município de Paracatu. 2023. 1fl.

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