Convido vocês a reflexão de três parábolas, que falam sobre a realidade do Reino de Deus: a do trigo e do joio, a da pequenina semente de mostarda e a do fermento.
Minha reflexão é mais sobre a a primeira parábola. O agricultor semeou só boa e escolhida semente. Na calada da noite, o inimigo semeou o joio. Os dois cresceram juntos. Ao se darem conta da presença da erva daninha, os operários perguntam ao patrão sobre a presença daquela praga e se é parra arrancá-la de vez.
O agricultor, prudentemente, recomenda-lhes tolerância… e paciência até ao momento da colheita, quando então o joio, amarrado em feixes, será lançado ao fogo, e o trigo, devidamente recolhido, será guardado nos celeiros. Pouco tempo depois, quando os discípulos pedem explicações ao Mestre, Jesus traz uma luz que ajuda a resolver um problema que já nos colocamos muitas vezes: por que o bem e o mal convivem juntos? Por que Deus tolera a presença e a atuação do mal neste mundo? Ou até quando vamos nós aceitar a presença do erro em nosso meio? Por que Deus não acaba de imediato com os maus? Pois a primeira leitura e esta parábola de hoje falam da paciência de Deus com suas criaturas.
Bem diferente do agir humano, é mesmo de causar admiração como Deus é misericordioso e paciente com os que erram. Nós, porém, somos tão diferentes.
Vejamos. Habitualmente, somos intolerantes com os que não andam no bom caminho. Não admitimos ou não queremos aceitar que participe da Comunidade quem não vive de forma correta, quem não pensa como nós, os supostamente bons e corretos. Sim, há aqueles que só admitem a participar da comunidade quem procede, pensa e fala a nossa mesma linguagem.
Se alguém comete algum erro, ou mesmo se vive no caminho errado, ou afirma qualquer coisa contra a fé ou a religião, coitado, está condenado: seja eliminado da comunidade. É o joio que deve ser imediatamente extirpado. Mas, o pensamento de Deus e seu agir tão misericordioso nem sempre coincidem com os nossos.
A parábola do joio e do trigo está a nos dizer que Deus é sempre misericordioso e tolerante com os que erram, dando lugar ao arrependimento, ao perdão e à acolhida na Comunidade. Não haja, pois, em nós lugar para a precipitação, para a decisão inapelável de arrancar o joio antes da hora, para também não prejudicar o trigo.
Além do mais, a parábola do Evangelho ressalta a apurada psicologia de Jesus que bem previu e admitiu a coexistência do bem e do mal nas condições concretas da existência humana. Importante é entender que joio e trigo na plantação de Deus estão a dizer que Deus é paciente, muito mais que nós, e sempre espera a conversão do ser humano. E ainda como lição de humildade evangélica é sempre bom admitir que todos nós somos um pouco joio e trigo ao mesmo tempo.
E que ninguém se julgue completamente bom, e veja o outro completamente mau. É provável, se não bem certo, que em cada um de nós haja algo que deva ser queimado – como o joio – e algo que deva ser preservado para a vida eterna, como o trigo.
Para concluir, vale uma pequena e rápida reflexão sobre as outras duas parábolas: a do pequenino grão de mostarda e a do fermento na massa. Saibamos cultivar o bem com grande cuidado e paciência. O bem não se impõe. É como o grão de mostarda. Pequenino, ele vai se desenvolvendo até chegar a arbusto vistoso.
Normalmente, nós gostamos de resultados imediatos. O agir de Deus surpreende. Podemos até nos questionar se o ativismo e o imediatismo de pessoas mais engajadas significam verdadeira generosidade no serviço de Deus.
O bem é comparado ainda ao fermento. Sem se dar a perceber, ele acaba fermentando toda a massa. Assim é o reino de Deus. Não se impõe de fora, mas age a partir de dentro, certamente pela ação do Espírito Santo. Assim, nem sempre o bem aparece nas pessoas. Às vezes, fica oculto, mas atuante, como o fermento na massa. Nisso devemos deixar-nos guiar pela ação do Espírito Santo.