Todas as luas são lindas, mas em especial as de maio, não as comparo a nenhuma outra.
Lua cheia de Buda. Céu limpo, pontilhado. Visível e aberto o suficiente para quem, por ventura, pare para olhar para cima. Quando tão natural na correria é olhar para baixo para medir os obstáculos.
Nosso íntimo está intrinsecamente atrelado ao que se passa no cosmo e na terra e então porque, cargas d’água, não nos rendemos a eles? A insistência da brutalidade nas doses diárias das TVs e telas afins constrói um muro cinza entre nós, seres do presente e o legado de antepassados mais que antenados. Antigamente, consagrava-se uma criança à Dindinha Lua.
Sim, porque o chique é ter sensor e não ser sensível. Robotizar instrumentos e sentimentos. Banalizar os laços e elitizar o natural. Maquiar o tempo com as cores da vez, som da vez, a boca da vez. Vulgaridades de 1,99.
As luas de maio sempre estiveram lá. As que antecedem o inverno, as que magnetizam os sonhos e ajudam a elevar o pensamento às esferas mais altas. Lua ao vivo, de graça, ofertada. Mas quem repara? Afinal, ela pode ser vista nua numa rápida pesquisa no Google.
Lua, coisa feminina. Regente de tantos signos de sensibilidade extremada. Comandante das emoções. Lua das mulheres de fases, das de brilho delicado, das marés e da fertilidade.
Sai à rua hoje à noite e embeveci. Cara a cara com uma daquelas amarelas, gigantescas que saem por detrás das edificações, desafiam a luz urbana, entram sorrateiras por qualquer fresta das janelas medrosas, mal fechadas, mal abertas e chamam pra si o que de mais elementar há dentro de qualquer ser: um encantamento sem nome pelas coisas da natureza, que rouba as palavras, que suspende a respiração, que alimenta a lembrança daquilo que, originalmente, fomos um dia.
RR 17/05/2011
