O pecado da gula

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Quando o Governo Lula lançou o programa Fome Zero, logo no início do seu primeiro mandato, qual não foi a nossa surpresa ao constatarmos que, ao lado das dezenas de milhares de famintos, existia – e ainda existe – no Brasil outra porção que inspira igual preocupação: a multidão dos obesos: pessoas que comem compulsivamente mais por prazer do que para matar a fome. Segundo pesquisas publicadas à época, eles são mais numerosos inclusive do que os próprios famintos. E não é para menos.

Somos bombardeados diariamente por propaganda de todos os tipos possíveis dos mais variados alimentos. Não bastasse isso, a televisão brasileira está repleta de programas especializados em mostrar gente cozinhando, mulheres e homens magros, bonitos e elegantes que provam os mais deliciosos pratos para o deleito de todos nós. Quantas vezes estamos sentados no sofá diante da TV e, simplesmente, sem saber muito bem o porquê, abrimos a geladeira – os que têm algo para comer, evidentemente –, metemos nossa mão no primeiro alimento que aparecer à nossa frente e o devoramos quase que inconscientemente, ainda que estejamos sem fome. Noutras vezes, comemos pela simples satisfação de sentir o prazer da mastigação, da comida suculenta descendo goela abaixo, provocando quase sempre uma misteriosa sensação de gozo e aprazimento.

Muito embora não exista, quero crer, uma relação direta entre fome e obesidade, ou seja, aquela como consequência lógica desta, temos a impressão do que o que sobra na mesa de muitos, falta no prato de outros tantos. Para colocar por terra este argumento, se bem olharmos para a população que nos circunda, veremos que a obesidade atinge a todos, sejam eles pobres ou ricos. A questão, dizem os estudiosos, está muito mais ligada à educação alimentar do que à simples falta de alimentos propriamente ditos.

Somos compulsivamente gulosos. Queremos sempre mais: comer mais, comprar mais, ter mais. Vivemos atormentados porque, ao mesmo tempo em que comemos vorazmente, queremos manter um corpo esbelto, em forma. Porque a mesma televisão que nos incita a comer sempre mais, também nos faz crer que a beleza e a vida saudável quase se opõem à obesidade. Nem precisa necessariamente ser obeso, entendendo-se por obeso quem está muito acima do peso. Não, nem é necessário estar muito acima do peso. Basta um pouquinho, principalmente quando se trata das mulheres, para quem as exigências são muito maiores e mais rígidas.

Ainda assim, tendemos a comer muito mais do que o necessário. Como nem sempre nosso corpo consegue usar todo o combustível (comida) de que dispõe, as calorias excedentes ficam acumuladas em forma de gordura. “O que fornece calorias ao alimento”, diz Andrea Galante, mestre e doutora em Nutrição Humana Aplicada pela Universidade de São Paulo, “são os carboidratos, as proteínas e as gorduras. Cada grama de carboidrato fornece 4 calorias, 1 g de proteína tem 4 cal e 1 g de gordura tem 9 calorias.” Não significa que devemos deixar de comer. Mas, comer com moderação, sobretudo depois dos 40 anos, quando nosso organismo já começa a diminuir paulatinamente o consumo de tudo o que estamos habituados a comer.

Na verdade, pouca gente dá importância a esses detalhes. E sabe por quê? Porque para essas pessoas o importante é comer. Por isso, comemos desmesuradamente. E a gula consiste justamente nessa porção que sobra, excedendo àquilo de que o nosso organismo necessita para viver.

A gula, de acordo com o Catecismo da Igreja Católica, faz parte da lista dos chamados Sete Pecados Capitais – o Novo Catecismo acrescenta outros pecados a essa listagem, pecados estes surgidos com a Modernidade. Isto significa que, para quem segue a Igreja Romana, esta é uma preocupação a mais: além de comprometer a saúde do corpo, a gula pode colocar em risco, inclusive, a saúde espiritual de muita gente. E não se pode simplesmente, dirão os especialistas, entender Gula apenas como essa compleição em comer desregradamente. Ela vai além: é querer ter para si tudo aquilo que excede o necessário para viver.
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