Aforismos do Anjo Exterminador

whatsapp-white sharing buttontelegram-white sharing buttonfacebook-white sharing buttontwitter-white sharing button
Ai dias que no se lo que me passa, dá-me uma vontade enorme de sair des-construindo tudo, criticando essa porcaria de cultura igual, indiferenciada, tão ao gosto do povão, do gosto-médio. Meus leitores já sabem, tenho verdadeira birra com tudo aquilo que o povo gosta. Geralmente, a maioria erra. “Toda unanimidade é burra”, disse o mestre Nelson Rodrigues. E ele estava certo, certíssimo. O que estraga a cultura não é o mau gosto, é o gosto-médio, ou seja, o que é aceitável pela esmagadora maioria. E ele está presente em todos os setores: nos meios de comunicação, na religião, na literatura, na política, por fim. Então sinto uma vontade louca de gritar, gritar e gritar. Um grito incontido, como o que vou lançar agora:

Estou farto de tanta mediocridade passando na televisão brasileira. Que horror, meu Deus! Porém, fico mais horrorizado ainda ao constatar que todo esse lixo é campeão de audiência. Programas pseudo-jornalísticos especializados em mostrar o mundo-cão, explorar a vida simples do povo, desse povo vilipendiado e despossuído, sobretudo, que simplesmente vive.

Há uma enorme carência de massa crítica na sociedade. Somos, infelizmente, uma nação de ignorantes, de gente sem noções mínimas de estética, capazes de dar mais audiência ao “Programa do Ratinho” do que ao “Som da rural”; tem mais gente vendo o lixo dominicalmente produzido por Faustão e Gugu Liberato do que o “Sr. Brasil”, este, sim, de qualidade inquestionável. E ainda tem gente que não entende porque mandamos para Brasília tanta gente que não presta. É só observar o que vemos, lemos (será que há gente que ainda lê?) e ouvimos, para saber do que somos capazes.

O mal de um povo é o gosto médio. Quando o gosto-médio domina, tudo está perdido. Quanto às rádios, nem é bom falar. Mas, vou falar assim mesmo, afinal estou só, ninguém vai mesmo me ouvir: quanta porcaria temos de ouvir tocar no rádio! Não bastasse o pagode (é triste ver aqueles rapazes se requebrando, cabelo cheio de gel, sorriso amarelo estampado no rosto), depois inventaram o sertanejo (ou essa chorosidade sem fim de quem é infeliz no amor, levou chifre da mulher e não sabe mais o que fazer); quando pensei que tudo estava acabado, ainda houve quem recriasse o forró, e estragasse a boa música nordestina, criando bandas que cantam as mesmas coisas, estreladas por cantores horríveis que nos fazem querer sair correndo para fugir do barulho ensurdecedor ao qual chamam de música; para completar, fizeram o mesmo com a música religiosa: fabricaram uns padrezinhos cantores, que também se apresentam com gel no cabelo, calças apertadas, entoando melodias enjoativas, apresentando um Jesus Cristo que nada ou pouco tem a ver com o Nazareno morto na cruz em Jerusalém.

Predomina a cultura do mau gosto, infelizmente. A ditadura do gosto-médio, que está levando a cultura brasileira – tão rica e tão diversa – para a latrina, para o fundo do poço. Até quando, cara pálida, seremos dominados pelo gosto-médio? Até quando seremos guiados por gente sem escrúpulos, cuja única preocupação é ganhar dinheiro, sem demonstrar o menor interesse em defender, preservar e divulgar a cultura popular deste país?

A televisão brasileira me enoja. No frigir dos ovos, o que presta mesmo nas grandes redes de alcance nacional? Muito pouco. Pouquíssimo. Quase nada! É só lixo. Nos fins de semana, então, é uma calamidade só. Nada salva nas grandes redes. É uma tristeza, um lamento.

Às vezes, qual velho veterotestamentário, sinto uma vontade enorme de rasgar minhas roupas, cobrir o meu corpo de cinza e sair gritando, clamando a Deus para olhar por nós, povo brasileiro, que caminhamos para o nada. Pedir por aqueles que detêm os meios de comunicação em suas mãos para abrirem espaço para a boa música, para a cultura popular. Nem precisa parar de tocar o lixo musical do qual tanto gostam. Mas, que toquem menos ou pouco. Façam essa experiência. Quem sabe o povo, acostumado a consumir música de segunda, com o tempo, não passa a gostar de música de primeira? Evidentemente quem só come muxiba, terá dificuldade de encarar caviar logo de primeira. Porém, depois vai acabar gostando e, no futuro, vai consumir apenas o que há de bom quando o assunto for música.

Isso vale para tudo, até para a política: de tanto ouvir música boa, ver bons programas na TV, você vai acabar também cismando e só querendo votar em políticos sérios e honestos, preocupados apenas com o bem-estar da população. Ajudem-me a romper esse círculo mimético que nos escraviza, que nos leva à bancarrota, à desgraça e ao quinto dos infernos.
XMCred Soluções Financeiras
whatsapp-white sharing buttontelegram-white sharing buttonfacebook-white sharing buttontwitter-white sharing button