PARA ONDE VAI A EDUCAÇÃO? – por Tarzan Leão

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Há muito tempo o Brasil carece de uma ampla reforma na educação. E caminhamos, infelizmente, a passos largos para o fundo do poço neste quesito. Alguns argumentarão, mormente nos últimos anos, a universalização do ensino com a criação de faculdades nos mais distantes rincões do país, favorecendo o acesso de muitos brasileiros à educação. Mas, isso não é tudo. É preciso muito mais.

Somos sempre tentados, diria Hegel, a jogar fora a banheira de água suja com o bebê ainda dentro. Ou seja, saímos de uma escola excludente – quando professores se compraziam em reprovar os alunos muitas vezes de forma até cruel – para essa nova escola em que tudo pode, até mesmo passar de série sem nada aprender, chegar ao primeiro ano do Ensino Médio sem dominar as quatro operações nem muito menos as técnicas mínimas da escrita, o feijão-com-arroz do nosso pobre e sofrido idioma português: inicial maiúscula para nomes próprios (de pessoas, de cidades, de países, etc.), começar parágrafos ou períodos também com a inicial maiúscula; o uso da vírgula, do ponto, do parágrafo, enfim.

Lamentável que ainda existam no Brasil tantos analfabetos. Mais deplorável ainda é quando constatamos que centenas de milhares de jovens brasileiros saem da escola sem concepções claras de História, de Geografia, Física, Matemática, Biologia, Literatura, Língua Portuguesa, Inglês (ah, a língua inglesa é um caso a parte. Durante pelo menos sete longos anos os alunos ficam numa lengalenga de interpretação de texto, letras de músicas sem o menor sentido, ou estupidamente decorando o verbo to be, para esquecê-lo tão logo termine a aula, quando não nos fazem tomar pavor do famoso inglês, nos fazem acreditar que só aprenderemos alguma coisa mudando do Brasil). A lista é grande.

Governantes, educadores e estudantes têm concepções e preocupações distintas quando o assunto é educação. Os primeiros estão sempre muito ocupados em equipar escolas com computadores de alta tecnologia (muitos aproveitam essas compras para promover desvios de verbas públicas), aos quais muitas vezes os alunos sequer têm acesso, compram lousas interativas conectadas à internet, investem milhões em infra-estrutura. Porém, esquecem-se de investir no professor, sempre muito queixoso em relação ao seu salário e às nem sempre maravilhosas condições de trabalho. Se preocupam, outrossim, no tocante à universalização do ensino e até merecem, por isso, o nosso respeito e ponderados elogios.

Os professores, preocupados em reclamar, com justiça, dos seus baixos e míseros salários, nem sempre têm tempo para se dedicarem mais e mais à melhoria da qualidade do ensino. É triste – para não dizer decepcionante – constatar que aqueles alunos que saem do Ensino Médio sem domínio dos conteúdos estudados, foram nossos alunos, passaram pelas nossas mãos. Assemelhamo-nos a médicos que não curam os seus pacientes, a pastores que não confortam a vida dos seus fiéis, músicos que não tocam. Um provérbio popular traduz bem essa situação, por mais jocoso que seja: “o governo finge que paga, o professor finge que ensina e o aluno finge que aprende”. Ainda não vi nas muitas reuniões de educadores das quais participei, professores se debaterem buscando formas eficazes e eficientes de mudarem radicalmente este estado de coisas, de modo que os estudantes verdadeiramente aprendam aquilo que a eles é ensinado.

Por fim, há um desânimo geral na classe estudantil para o qual não encontramos uma explicação verdadeiramente convincente. Simplesmente eles, nossos alunos, estão ligados sabe-se Deus em que mundo. Falamos, mas ninguém nos escuta. Ensinamos para o nada. Numa sala de 40 alunos, se cinco estiverem interessados, isso é motivo para grande alegria e comemoração. De modo que, ano a ano, nos damos conta de que as dificuldades se avolumam e, com elas, paulatinamente o nível da educação pública – mas, não somente da pública, a educação privada enfrenta também enormes problemas – cai.

Urge romper esse ciclo vicioso que tanto mal tem trazido à juventude deste país. É preciso que governantes, professores, alunos e suas respectivas famílias, se debrucem sobre estas questões e encontrem uma saída antes de chegarmos ao fundo do poço. Não há nação que tenha se desenvolvido sem que houvesse uma revolução na educação. Porque tudo passa por aí. Por isso, precisamos rever nossa prática, repensar nossos métodos, rediscutir o papel da família no processo educacional, por exemplo, de modo a envolvê-la sempre mais.

A busca pura e simples por salário de nada vai adiantar. É necessário muito mais. Pior do que receber um mísero ordenado, é saber quão inútil está sendo o nosso trabalho, uma vez que nem sempre atingimos a razão última de nossa missão: ser educadores, ou, numa expressão bem a gosto dos modernos, mediadores de conhecimento. O salário, bem, pode parecer utópico – ou pelego, dirão os sectários de plantão –, mas, a melhoria do nosso pobre e mísero salário virá como consequência lógica de nossa postura frente à missão que abraçamos: educar as pessoas deste país, tirar da mente de cada um o véu do desconhecimento e da ignorância, ou ainda, como diria Platão na “Alegoria da caverna”, tirá-los da escuridão e devolvê-los ao mundo da luz, donde jamais teríamos de ter saído um dia.
XMCred Soluções Financeiras
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