Em defesa da Língua Portuguesa!

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Como me cansa essa moda de usar estrangeirismos na Língua Portuguesa. Parece chique, mas não é. Parece culto, porém é a prova mais concreta de que somos colonizados cultural e economicamente pelas nações ricas, especialmente pelos Estados Unidos da América. Houve um tempo em que era chique falar francês. Mas, isso foi há muito tempo…

Palavras do tipo hot-dog, e-mail, site, shopping center, clean, cameraman, airbag, baby, baby-doll, back-up, bacon, barman, best-seller, bitmap, blackout, blazer, boîte, briefing, cash, cyberspace, delivery, déjà-vu, design, disc-jockey, download, e-book, establishment, expert, feedback, feeling, flashback, flat, franchising, freelancer, freeware, full-time, gaffe, gay, gigabyte, gentleman, glamour, gospel, griffe, hacker, hall, hardware, hi-fi, hobby, iceberg, input, insight, jingle, kitchenette, know-how, laptop, layout, leasing, leasing, link, lobby, look, maître, marchand, marketing, master, megabyte, merchandising, motherboard, mouse, newsletter, note-book, off-line, office-boy, on-line, outdoor, password, performance, playback, playlist, ranking, resort, scanner, self-service, showman, software, spot, standard, standby, talk-show, telemarketing, underground, upgrade, vernissage, videogame, workshop, já fazem parte do nosso cotidiano. Chega, não aguento mais citar. Cansei.

Assim, separadamente do contexto, até parecem estranhas. Mas, se usadas dentro de uma frase, fazem todo o sentido, de maneira que até seria estranho usar uma expressão em nossa língua materna.

Pareceria estranho, por exemplo, em vez de airbag, o vendedor de carro falasse que determinado veículo pelo qual nos interessamos é equipado com duas almofadas de ar; ou que você procurasse numa loja de informática um rato para o seu computador; falar laptop em vez de computador portátil parece muito mais moderno; habituamos-nos em chamar de outdoor essas placas de propaganda; nos restaurantes, pareceria bizarro encontrarmos um aviso: temos autosserviço e não self-service, como comumente acontece. Dizer que nosso celular, ou mesmo o computador está em standby parece mais simples que em posição de espera; que tal objeto é standard do que falar padrão.

Tive, e ainda tenho, uma imensa dificuldade em lidar com tais estrangeirismos. Quando, por alguma razão, tenho de pronunciar tais palavras, faço-o baixinho, para quase ninguém me escutar, tal estivesse fazendo algo errado. Não que eu seja um ardoroso defensor da Língua Portuguesa, radical e empedernido. Aliás, pra falar a verdade, a minha fase de radicalismos ficou nos meus vinte e tantos anos. Mas, do jeito que as coisas vão, em pouco tempo vamos perder a nossa identidade cultural. Não saberemos mais quem somos.

Quando reflito sobre esse tema, logo me vem à mente Fernando Pessoa. E não tenho como não citá-lo nessa hora. Talvez a defesa mais bela, a mais genuína da nossa língua, tenha sido feita pelo poeta lusitano, quando disse “Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente, Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como escarro direto que me enoja independentemente de quem o cuspisse.Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.”

Faltam-nos conhecimento e amor necessário à Língua Portuguesa, o mesmo amor que moveu Bilac ao escrever o soneto “Língua Portuguesa”:

“Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…

“Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

“Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

“Em que da voz materna ouvi: ‘meu filho!’
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!”

Há que se discutir seriamente o uso e o abuso de estrangeirismos no país. É preciso normatizar. Alguns países – e cito a França aqui –, movidos pela mesma preocupação, criaram normas limitando o uso de modismos que oferecessem riscos à língua pátria. Letreiros de lojas, propagandas em nada é permitido o uso de estrangeirismos quando existir em francês uma palavra que substitua aquela. É o caso, por exemplo, de hot-dog: é um absurdo quando podemos muito bem usar cachorro-quente. É certo, não há muito que fazer quanto ao uso de alguns termos de informática; mas ainda assim em Portugal usa-se rato ao invés de mouse sem maiores problemas, sítio em substituição a site, correio eletrônico em lugar de e-mail, e por aí vai.

Nosso maior problema, na verdade, está em nossa condição de povo colonizado. Gostamos de parecer nosso colonizador; e assim, nesse jogo, o desejo mimético nos impele a gostar daquilo que gosta nosso colonizador. Daí preferirmos, muitas vezes, música americana (de baixíssima qualidade, diga-se de passagem) aos cantores nacionais. Porque isso é chique, e está na moda. É de Olavo Bilac ainda a ideia de que “a pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo”; donde podemos deduzir que o maior abuso a uma nação é contra a sua língua, forma genuína de expressão.

Por isso, ainda que pareça antiquado, grito em alto e bom som: Chega de estrangeirismos! Chega de violência contra a Língua Portuguesa.
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