Tragédias e Solidariedade

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Estávamos ainda traumatizados com o furor do terremoto do Haiti e eis que outro infortúnio veio ferir o Chile. Novamente centenas de vítimas vieram se somar aos milhares de mortos e de todo tipo de vítimas do Haiti, que o mundo inteiro pranteava. Catástrofes como essas provocam em todo o mundo uma onda de solidariedade. Disso tivemos tocantes exemplos que merecem nossos aplausos. Nem podia ser diferente. Ainda mais que nenhuma sociedade está garantidamente livre dessas eventualidades. E solidariedade é caminho indispensável para minimizar o sofrimento humano.

Cabe aqui uma pergunta pertinente: por que não fazer da solidariedade uma cultural mundial? Por que não suscitar uma consistente consciência de solidariedade globalizada? Ouço até a voz profética do saudoso João Paulo II que, diante dos efeitos negativos da globalização da economia, exortou o mundo a “globalizar a solidariedade”. Muitos países ainda estão abalados pela desigualdade social, pela crescente pobreza que ultrapassa os limites do suportável, pela má distribuição de renda que torna os pobres cada vez mais pobres, aumentando assustadoramente a massa dos miseráveis e “excluídos ou despossuídos”, enquanto uma minoria privilegiada usufrui de todas as benesses do progresso. É justo sonhar com um mundo de tal forma organizado que todos os que nele vivem tenham o necessário para viver com dignidade. Indo mais além – será que é só dar asas à imaginação? – por que não pensar em transformar os instrumentos de guerra e morte em instrumentos de paz e convivência universal? Certo é que, enquanto muitos choram as vítimas dos tsunamis, dos terremotos, das enchentes, há também os que, por solidariedade, tentam aliviar a dor dos que, em questão de segundos, perderam a família, seus entes queridos, perderam tudo que tinham, até mesmo a esperança da possibilidade de novo recomeço.

Importa, porém, entender um sutil recado embutido no oceano dessas tragédias. Há igualmente tsunamis, terremotos e enchentes escondidos numa economia louca que privilegia o mercado, o capital, o lucro exasperado e arrasa vidas preciosas, fere, mutila e destrói crianças, jovens, adultos, idosos, homens e mulheres de todas as condições. A advertência nos vem da atual Campanha da Fraternidade, com seu tema: “Economia e vida” e a advertência de Jesus: “não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). A efetiva necessidade de produzir bens não pode se contrapor ao intuito de servir o bem comum. A exasperada busca do lucro individual, sem ter em mira como fim último o bem comum, acaba destruindo a própria riqueza e cria mais pobreza. A atual Campanha da Fraternidade, pela junção temática entre Economia e vida, se propõe elaborar uma “economia de comunhão solidária”, denunciando a perversidade de todo modelo econômico que visa em primeiro lugar ou única e exclusivamente o lucro pessoal, sem levar em conta aspectos éticos que dentre outros propõe a economia de comunhão. Ninguém de bom senso há de ser contra o capital. Sem ele nada se faz. O dinheiro, porém, deve servir ao homem e não o homem ao dinheiro. Infelizmente, perdeu-se muito a noção do compromisso social, das exigências do bem comum. O dinheiro virou um bem em si mesmo, em vez de se tornar um agente transformador, um instrumento a serviço do progresso e do bem-estar dos cidadãos, dando vez à solidariedade.

Importa, pois, sonhar um mundo em que a solidariedade seja cultura. Um mundo em que a solidariedade surgida das catástrofes naturais seja a manifestação da solidariedade globalizada, que impregne de verdadeira fraternidade o dia a dia e as relações entre as pessoas, entre os povos e nações. Rezemos pelo sofrido povo do Haiti. Rezemos pelas dores dos irmãos no Chile. Sintamo-nos próximos e solidários em seu profundo sofrimento. Saibamos socorrê-los. Participemos das campanhas humanitárias em sua ajuda. Mas que todas essas tragédias nos ajudem a descobrir que Deus deseja fazer da humanidade uma grande família, unida pelos laços da solidariedade, sobretudo nos momentos de tragédias.
XMCred Soluções Financeiras
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