A quarta-feira de cinzas deu início a mais uma quaresma em nosso viver cristão. Ouviremos à saciedade: quaresma é tempo de conversão. Também tempo de preparação para a Páscoa. Esse tempo é totalmente propício à reflexão e à conversão espiritual.
A Sagrada Liturgia sempre nos propõe um programa de conversão baseado em três grandes linhas de espiritualidade: intensificar a oração, abraçar decididamente a penitência ou mortificação e praticar a caridade. Esse é o caminho da conversão quaresmal.
Dessa forma a quaresma é sempre ocasião para o cristão examinar a si mesmo, com sinceridade e verdade, para voltar a pôr em ordem a própria vida, assim como seu relacionamento com Deus e com o próximo. É hora de cada qual buscar caminhos de conversão, de solidariedade ao pobre e sofredor.
Viver o espírito da quaresma é também procurar aprofundar o sentido e o valor da identidade cristã, seguindo a misericórdia de Deus para que sejamos misericordiosos com todos os irmãos. Mesmo sabendo que os tempos modernos
são diferentes, mais difíceis e marcadamente injustos, o amor a Deus e ao próximo deve nortear nossas escolhas de vida.
Daí que a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010, com o tema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24), não poderia ser mais oportuna, pois nos alerta a fugir do caminho do dinheiro fácil, desonesto ou daquela busca exasperada do enriquecimento a qualquer preço. À luz do Evangelho, é claro, o dinheiro honesto, alcançado pelo digno trabalho, que supre as necessidades de nossa vida, é necessário e pode ainda servir como ajuda ao próximo, como instrumento para se fazer o bem, como incentivo à participação alegre, pontual e fiel no sistema do dízimo.
A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010 adverte quanto ao perigo dessa busca desenfreada do enriquecimento, da ganância, da desonestidade, como lamentavelmente e com tanta perplexidade estamos vendo aí nos noticiários de TV, coisas e atitudes que devem passar longe, bem longe, do verdadeiro cristão.
A Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010 apresenta o seguinte objetivo geral: “unir igrejas cristãs e pessoas de boa vontade na promoção de uma economia a serviço da vida, sem exclusões, contribuindo para a construção de uma cultura de fraternidade e paz”.
Esse objetivo apresenta alguns elementos importantes para sua compreensão. O primeiro é a união entre as Igrejas cristãs, pois é uma campanha ecumênica e, ao mesmo tempo, aberta às pessoas de boa vontade. É também uma campanha não limitada ao âmbito das religiões institucionais, mas aberta a quantos queiram
participar da construção de um mundo mais humano, mais justo e fraterno.
Outro elemento importante da atual campanha é que a compreensão de que economia não é um fim absoluto, não é fim em si mesmo, mas deve estar voltada para a vida humana e para o resgate de sua dignidade, evitando qualquer forma de exclusão social.
Um terceiro elemento que o objetivo da Campanha nos propõe é a cultura da fraternidade e da paz, ou seja, a mentalidade nova, o novo modo de pensar e agir que possibilite novas formas de convivência entre as pessoas, com base na justa hierarquia de valores, que tem como fim último a pessoa humana, seus direitos e sua inviolável dignidade.
Para chegar lá, para atingir tais objetivos, o Texto-base da atual Campanha da Fraternidade Ecumênica propõe:
1º – denunciar a perversidade de todo modelo econômico que visa em primeiro lugar o lucro a qualquer preço, sem se importar, portanto, com a imensa faixa de pobres, miseráveis, famintos, desempregados, excluídos ou despossuídos, sem se dar conta de que a fome, a miséria, a morte rondam a vida de milhares ou milhões de irmãos;
2º – educar para a prática da economia de solidariedade, de cuidado com a criação e de respeito à natureza e de valorização da vida como o bem mais precioso e intocável da existência humana;
3º – por fim, conclamar igrejas, religiões e toda a sociedade para ações sociais e políticas que levem à implantação de um modelo econômico de solidariedade e justiça para todas as pessoas.
