ESTOU COM SAUDADE DE DEUS – por Tarzan Leão

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A Igreja Católica – além da Igreja Anglicana e de algumas igrejas protestantes –, celebra, anualmente depois do Carnaval, o Tempo da Quaresma. Esse período litúrgico, que surgiu por volta do século IV da Era Comum, e que culmina com a Festa da Ressurreição, tem como objetivo principal levar o cristão a penitenciar-se através do jejum e da prática da caridade e levar-nos a um processo permanente de conversão.

Vivemos rodeados de símbolos e de liturgias. Nada mais litúrgico, por exemplo, do que o ato de amar. Toda a cultura humana está organizada em torno do simbólico. A Bíblia, sabemos nós, está repleta de simbolismos. Quatro são os Evangelhos. Quarenta foram os dias do dilúvio; 40 foram os anos que o povo judeu caminhou pelo deserto, fugindo do cativeiro que durou 400 anos no Egito; Moisés e Elias passaram 40 dias na montanha; também foi 40 o número de dias que o Cristo passou no deserto antes de iniciar sua vida pública. E, finalmente, a Quaresma, que tem a duração de 40 dias, a contar da quarta-feira de Cinzas e termina na quarta-feira da Semana Santa.

Quando grandes mudanças acontecem – como as revoluções, por exemplo –, corre-se sempre o risco de jogar fora a água suja da banheira com o bebê dentro. Foi assim com a França pós-Revolução de 1789: novo calendário foi estabelecido e tudo o que representava o Ancien Régime era veementemente questionado ou simplesmente jogado fora, até que se estabeleceu um Estado de Terror, em total contradição com as ideias expostas através da expressão Liberté, égalité, fraternité, símbolo do ideário burguês. Tempos depois os russos fariam o mesmo depois da Revolução de Outubro de 1917: uma vez tomando o poder, os bolcheviques, que representavam o proletariado, vão criar e desenvolver o conceito de “homem novo”, numa clara tentativa de inaugurar uma nova época, com novos padrões éticos, morais, políticos e sociais. Essa tentação fisgou muitos dos reformadores protestantes do século XVI, levando-os a destituírem suas novas igrejas de tudo o que cheirasse à Igreja Romana com a qual romperam. Como resultado, os “tempos litúrgicos” foram abolidos na maioria delas, perdendo-se muito com isso.

O tempo em si não tem significado. Aliás, radicalmente falando, nada em si tem significado. Todo o significado das coisas é dado pela razão humana. Assim acontece também com o Tempo. Talvez Gênesis possa nos dar uma pista do que estou dizendo. Ora, Deus, sendo Deus, não se cansa. No entanto, “no sétimo dia, Deus concluiu toda a obra que tinha feito; e no sétimo dia repousou de toda a obra que fizera. Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, pois nesse dia Deus repousou de toda a obra da criação” (Gn 2, 2-3). Porém, é bom que se diga, não é a observância da Lei que nos salva, mas, tão-somente, a graça santificante do Cristo (toda a epístola de Paulo aos Romanos trata disso). Noutras palavras, não é a observância pura e simples do Tempo Litúrgico (Advento, Natal, Quaresma, Páscoa e Comum) que nos salva, mas a fé em Jesus Cristo. Que importância terá, então, essa classificação dentro do calendário católico?

Ano a ano a Igreja relembra, dentro do Tempo, o Mistério do Cristo, em Natal, Quaresma e Páscoa, ou seja, nascimento, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Esse tempo nos serve de relembramento. Tem, no seu fulcro, aquela ideia que tanto vai insistir a Torá por ocasião da Páscoa Judaica: lembre-se que vocês foram escravos no Egito.

A Quaresma é um tempo de reflexão. De aprofundamento e busca interior. De meditação. É para nos fazer lembrar que nada somos senão pecadores simplesmente. E nos leva, mormente todo o exposto, a sentir saudade de Deus. Uma saudade dorida, contrita; principalmente se estivermos dispostos a seguir toda a liturgia quaresmal. E lembrar que somos cinza. Era comum aos homens do Antigo Testamento cobrir o seu corpo de cinza em sinal de arrependimento e de pequenez diante do Eterno Deus. Pois a Igreja nos convida a isso essa semana: a perceber o quanto nada somos; e que somente a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo e o amor de Deus podem nos salvar e nos conduzir a uma terra onde emana leite e mel.
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