Músicas infantis nas lojas, propagandas apelativas para os pais, crianças ansiosas pelo dia dedicado a elas. Todo esse clima me fez entrar numa profunda análise e chegar a algumas conclusões. Tenho apenas 18 anos, mas mesmo assim, já posso dizer que a infância de agora não é a mesma que eu tive. Sim, o tempo passa e as coisas mudam, faz parte da evolução natural do ser humano. A questão é que eu não sei se o fato das crianças não serem mais crianças, possa ser chamado de evolução.
Agora é normal que elas se portem como adultos, usem MSN, celular, Orkut. As meninas se maquiam cada vez mais cedo. Têm uma vida social movimentadíssima. Beijos, namoro e sexo são assuntos não só conhecidos, mas também praticados precocemente. É fácil observar que hoje, as crianças não possuem mais aquela pureza e inocência de antes.
Até mesmo programas infantis foram reformulados. O que temos agora são imagens computadorizadas que se mexem numa série de movimentos frenéticos na TV. Cenas de violência, morte, vingança, são as mais comuns em desenhos animados. Poucos são aqueles que sobreviveram à ação da modernidade. Brincar de pique – esconde ou de pega-pega é um retrocesso, a moda agora é jogar Playstation. Crianças não se sujam mais, e quando sujam, são censuradas pelos pais. Crianças não correm, não respiram, não ralam os joelhos. Isso também ficou para trás. Brincar de casinha, só se for jogando The Sims. Brincar de carrinho, só se for numa corrida virtual. E com isso, surge essa nova infância, cheia de excessos, mas ainda sim carente.
Se há culpados? Sim, claro. Não diria culpados, mas colaboradores. A mídia, que faz questão de vulgarizar o sexo, expõe cenas e imagens eróticas em horário nobre, onde quase 100% das crianças ainda estão acordadas. Músicas com letras do tipo “sou cachorra, sou gatinha”, “são as cachorras, as popozudas”, “Dako é bom”, que se disseminam como dengue em épocas de chuva e são cantadas por uma infinidade de pessoas, incluído as crianças. E é claro, os pais, que são os principais responsáveis por aquilo que os filhos assistem, ouvem ou fazem.
Com uma vida cada vez mais agitada, pais tentam suprir a ausência causada pelas longas horas de trabalho, com o materialismo exagerado. O mesmo capitalismo que gratifica, é também aquele que corrói relações. Hoje vejo que fui uma criança privilegiada. Peguei sim uma parte dessa tal “infância moderna”. Não joguei Playstation, mas jogava Super Nintendo, e mesmo assim, O Super Mario World me levava muito além do que somente um joguinho de vídeo-game. Eu conseguia criar as minhas fantasias infantis, mesmo na frente daquela TV com um controle em minhas mãos. Eu brinquei de queimada na rua, joguei golzinho na porta de casa com os amigos. Jogava baliza e a noite ficava sem dormir porque minha mãe falava que jogar baliza chamava o capeta. Barra manteiga, passa-anel, comidinha e casinha faziam parte da minha rotina. Adorava Caverna do dragão e o Fantástico mundo de Bobby. Ursinhos carinhosos não era um desenho brega para mim. Celular só tive o primeiro aos 15 anos. MSN e Orkut eu nem imaginava o que pudesse ser. Tive uma infância feliz, e isso me ajudou a ser a jovem que sou hoje. A base que formei me acompanhará por toda essa vida, sem mágoas ou ressentimentos. Por isso costumo dizer que “ela ainda vive em mim”.
Ainda prefiro o tempo que as crianças acreditavam que os bebês vinham da cegonha…
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