Drogas e promessa de “cura”: cresce número de mulheres vítimas de abusos sexuais durante rituais com chá alucinógeno

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Os primeiros relatos de vítimas surgiram há mais de um ano e o MP pediu a abertura de um inquérito, que foi instaurado no no estado de São Paulo (Pinheiros), desde então, as denúncias se multiplicam e só em Minas Gerais são 46 casos e a cidade campeão é Uberlândia no Triângulo Mineiro, com 12 casos. Os processos correm em segredo de Justiça e, por isso, a polícia não comenta o assunto.

A primeira vítima que teve consciência e começou a conversar com outras mulheres encontrou outras que também teriam sofrido abusos durante Rituais com o chá alucinógeno ayhuasca. Até o momento, segundo ela, outras 11 também afirmaram ter sido vítimas durante o ritual que dura a noite toda. Duas dessas vítimas conversaram com o portal de notícias R7 e descrevem como os abusadores agem, fazendo com que as mulheres confundam a realidade com a psicose. Na reportagem, elas aparecerão com nomes fictícios para que suas identidades sejam preservadas.

Beatriz*, uma das mulheres denunciantes, afirma ter levado um longo tempo para entender que estava sendo vítima de abuso sexual devido as alucinações durante o ritual de ingestão do chá e, por isso, também demorou para fazer a denúncia formal ao MP. “Quando decidi denunciar, tinha conhecimento de outros casos. Sabia de pelo menos quatro, além de mim”, diz. “Na verdade, ter conhecimento de outros casos foi bastante importante para entender que eu não tinha vivido uma loucura da minha cabeça. Me ajudou a validar que eu tinha sofrido estupros, que aquilo tinha sido abuso.” Afirmou.

Outra suposta vítima, Aline afirma que um dos líderes conquista a confiança das mulheres, algumas menores de idade, antes de cometer os abusos. “Ele cultivava uma relação mais paternal, sacerdotal, no sentido de cuidado mesmo. Às vezes, fazia isso com meninas com menos de 18 anos. Esse cultivo de confiança era feito dentro do próprio ritual”, descreve.

“As pessoas faziam as coisas usando o fator surpresa, sempre dentro de uma dinâmica em que confundia a gente. Era uma massagem, uma terapia, uma vivência espiritual. Sempre foi dentro desses contextos que eles abusam da gente. Nunca foi num contexto em que ele convidou a gente abertamente, tipo: “estou a fim de você”. Sempre foi velado. Por isso a gente fala em sexo mediante fraude”, completa.

Segundo *Beatriz ela, os rituais funcionavam como pano de fundo a enganação. “Ali, as pessoas acreditavam que estavam ficando puras. Buscavam ajuda e ficavam ali porque tinham uma confiança no caminho de amor, de solidariedade. Era um ambiente seguro para muitos, e isso também era uma maneira de cometer o abuso.”

Em outro caso, com argumento de que buscava maior conexão com Deus, cura de depressão e incentivada por uma amiga integrantes do grupo a experimentar o cha de ahyuasca com propriedades psicodélicas, * Gabriela participou de uma cerimônia de iniciação na cidade de Uberlândia (MG), a 536 km da capital mineira e se embrenhou no que os familiares classificam como vício incurável. “-Ela deixava família, filhos, trabalho pra participar desses rituais que duravam a noite toda,” conta sua mãe que pediu à reportagem para ter seu nome preservado em função do inquérito.

A mãe de Gabriela *, afirma que a filha jamais teve questões de saúde mental, mas depois de começar a participar dos rituais, chegou a ser internada em um hospital neurológico, passou a frequentar o psiquiatra e a tomar remédios controlados. Só quando procurou um médico soube que uma das substâncias inaladas é proibida no Brasil.

Aline * relata situação parecida: “Junto com o chá, eles usam drogas ilícitas como LSD, ecstasy para o efeito ser mais rápido… Pessoas que nunca tinham usado essas drogas aceitaram usar porque não sabiam o que estava acontecendo“, diz. “Eles convidam [a vítima] para fazer coisas como se fosse algo corriqueiro e fica passando a mão nas partes íntimas da pessoa obrigando a fazer um pacto de segredo. Ninguém pode saber. É um abuso de confiança, ele faz a pessoa achar que está tudo bem. A pessoa faz o que ele sugere porque já confiava nele antes. Ele cria um vínculo, fala que é amor”, explica.

Ainda de acordo com Aline, Marques também fazia o que chama de uma “administração posterior da vítima”, para “garantir que estava tudo bem e que a pessoa não comentaria com ninguém”.

No DF, Polícia investiga morte de homem que ingeriu ayahuasca em cerimônia

Outros casos associados ao consumo da Ayhuasca aumentam a desconfiança sobre o consumo da substância, considerada por médicos como “droga”. Micael Amorin, de 26 anos, entrou em surto psicótico após beber chá; Caso ocorreu em julho deste ano

Durante o ritual, os usuários preenchem uma ficha de anamnese antes da cerimônia mas não destacou nenhum problema de saúde que pudesse proibir o consumo da bebida.

O laudo do Instituto Médico Legal com a causa da morte de Micael ainda não foi concluído. O caso é investigado pela 30ª Delegacia de Polícia, em São Sebastião – DF

Ex-companheira de Micael, Jaynah Christine ainda busca por respostas depois de um mês da morte do jovem. Segundo ela, o dançarino já havia feito uso do chá em maio deste ano, em outro espaço religioso.

Estudos Científicos comprovam que Chá de ayahuasca pode, sim, causar psicose e até matar

Especialistas ouvidos pelo site de VEJA explicam que a substância é alucinógena e, como qualquer outra droga com esse efeito, pode causar distúrbios psiquiátricos permanentes e até matar. Recentemente, Brita Brazil e Nizo Neto – filho de Chico Anysio – atribuíram a morte do filho Rian Brito ao chá de ayahuasca

Rian Brito, neto de Chico Anysio, foi encontrado morto em uma praia do Rio de Janeiro. Segundo seus pais, o rapaz passou a apresentar distúrbios psiquiátricos após consumir chá de ayahuasca.

O consumo do chá teria contribuído para a morte do neto de Chico Anysio. Especialistas ouvidos pelo site de VEJA explicam que a substância é alucinógena e, como qualquer outra droga com esse efeito, pode causar distúrbios psiquiátricos permanentes e até matar

Sobre o chá e a Seita

O chá de ayahuasca ou Santo Daime, como é conhecido, é uma bebida alucinógena feita a partir de uma combinação de duas plantas amazônicas: o cipó jagube e o arbusto chacrona. Embora seja considerado um alucinógeno, seu uso em cultos religiosos é regulado no Brasil pelo Conselho Nacional de Políticas sobre Droga (Conad), sob uma série de regras para o consumo, que segundo o MP, os locais culto da seita não seguem

Pessoas com histórico de transtornos mentais ou sob efeito de bebidas alcoólicas ou outras substâncias psicoativas estão proibidas de ingerir a droga. Também é obrigatório que as seitas do Daime “exerçam rigoroso controle sobre o sistema de ingresso de novos adeptos”, apresentação de laudos médicos e que os adeptos estejam acompanhados de um responsável maior de idade.

Para Ronaldo Laranjeira, professor titular de psiquiatria da Unifesp, essa autorização é bastante problemática. Segundo ele, os integrantes da seita não têm capacidade para discriminar quem pode ou não ingerir a substância sem apresentar problemas. Além disso, como acontece com o uso de qualquer outra droga, não é possível afirmar quem vai ficar psicótico ou, caso já tenha algum problema mental, quem vai piorar.

“O grande problema é que não é possível prever quem terá problemas psiquiátricos após beber o chá ou quem ficará viciado. Claro que algumas pessoas, por seu histórico médico ou familiar, já têm predisposição, mas qualquer um pode ser afetado. É uma questão de genética e vulnerabilidade sobre a qual ainda não temos um conhecimento sólido”, afirma o psiquiatra.

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