Cativo nas picadas de Goyaz, o menino que teve seu resgate empreendido em Paracatu

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Foi lá na outrora Vila de Flores, Província de Goiás, que no ano de 1856 um menino de 10 anos de idade fora covardemente raptado por dois malfeitores, e, muito certamente pelo caminho chamado de Picada de Goyaz, fora conduzido secreta e forçosamente, além de ser mantido em cativeiro numa casa localizada no Largo do Rosário em Paracatu, até ser descoberto e solto graças às denúncias de populares e às informações oriundas das autoridades policiais daquela vizinha Província.

Este caso está registrado na centenária sentença crime, que na sua folha 3, identifica e caracteriza a vítima daquele rapto como sendo “Antônio Raymundo Barbosa de idade de dez anos pouco mais ou menos morador no Termo da Villa de Flores (atual cidade de Flores de Goiás) da Província de Goyas no logar denominado de Ranxaria sendo este menino de cor alva e filho de uma viúva mulher pobre e miserável tendo sido o dito menino furtado em uma roça pelo suplicado e o conduzia ocultamente para as partes da Bagagem [hoje Estrela do Sul, em Minas Gerais] para ali ser vendido“.

De acordo com a denúncia constante das folhas 6 e 6 verso dos autos, o rapto teria se dado quando os réos Paulino e Chrispim, em terras da Fazenda Rancharia, encontraram os menores Antônio e Francisco e perguntaram-lhes se haviam visto dois cavalos por aquela localidade e se poderiam conduzí-los aos mesmos animais, o que veio a acontecer. Ao ausentar-se o primeiro réo para apanhar uma espingarda em outro local, ficara o segundo “com os ditos mesmos Antônio e Francisco, até que a anoitecendo poude Francisco evadir-se e o réo Crhispim tomando uma máscara pôz o mesmo Antônio na garupa e seguio com o seo companheiro Paulino até a casa deste e dahi em direção para esta cidade, onde por Deprecada do Subdelegado da Vila de Flores, e por ordem do Delegado de Polícia desta cidade forão presos ” em 2 de novembro de 1856

Na sentença proferida pelo Juiz Municipal de Paracatu, na folha 11 do mesmo processo, apenas um dos criminosos recebe a condenação por parte da Justiça: “O Carcereiro da Cadea desta Cidade conserve na prisão em que se acha o réo Paulino Alves de Assumpção condenado a quatro anos de prizão e na multa correspondente a um anno e quatro meses”. Essa sentença fora confirmada inclusive pelo Tribunal da Relação do Rio de Janeiro em 13 de Janeiro de 1871. Quanto ao fim tido pelo réu Chrispim Antonio de Paula, não se tem informações nos autos em questão.

Bem aquém de marginalizar o horrendo crime praticado contra o menor, lá em meados do século XIX, e que aqui se tratou de forma muito enxuta e com o intuito de consolidar a relevância dos manuscritos judiciais na compreensão desse contexto histórico, reforça-se a tese de que a chamada Picada de Goyaz teve em Paracatu um importante corredor por onde passavam não só cargueiros com mercadorias e animais rumo a outros municípios, deste e de outros estados, mas também diversos malfeitores, por vezes interceptados e presos nestas cercanias, como o fora o caso em destaque.

(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é pesquisador da história e da cultura de Paracatu.

REFERÊNCIA

COMARCA DE PARACATU. Processo contra Paulino Alves de Assumpção. 1871. 12 fls

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