Não gosto de dezembro e muito menos do Natal, pois tudo fica tumultuado. Nas lojas, por exemplo, uns caindo sobre os outros, filas gigantescas, bebidas escassas e esperas sem fim. Parece que todos resolvem dar o jeitinho brasileiro em um mês quando poderiam tê-lo arrumado durante o ano. Tenho de aguentar ficar perto de conhecidos estranhos, trocar sorrisos forçados e desejar Feliz Natal até para as paredes. Quem inventou frutas cristalizadas? Sinceramente, não sei qual é a combinação mais doida: maçã com maionese ou arroz com passas. E quando vão acabar as fotos nas redes sociais das famílias felizes? Muitos pensamentos como esses imperam nesta época do ano.
Difícil não encontrar um mês do ano em que as pessoas boquejem mais do que dezembro. E parece que a cada ano mais pessoas desgostam, não têm mais ânimo para as festas de fim de ano. O mau humor fica mais evidente quando dezembro se aproxima, no entanto, pessoalmente, tenho convicção de estar na contramão e sei que, ainda, não sou o único. Amo esse tempo. Realmente gosto de ver as ruas mais movimentadas, pessoas na correria comprando presentes. Divirto-me, sem fim, nos amigos-secretos, na bebedeira de Natal, na confraternização com colegas próximos. Troco mensagens com amigos de perto e de longe, desejando de todo coração um Feliz Natal. Independentemente do que o Natal signifique para cada um.
Por ser otimista demais e não compactuar com esse mau humor, esse chilique que fica visível a olhos nu nas redes sociais, me recuso a ver apenas o lado ruim dessa época, ainda que, infelizmente tenha o lado ruim. Lidar com a saudade de quem não está perto ou não está mais entre nós, não é fácil em época do ano alguma, às vésperas do Natal, então, tudo parece mais à flor da pele. E nas grandes festas de família, por exemplo, precisamos exercitar a cara de pau para mantermos as relações amigáveis e digerir parentes que nem temos tanta afinidade ainda mais em um ano terrível como esse de eleições.
Quando crianças e adolescentes não tínhamos outra opção, ficávamos à mercê de seguir a programação de nossos pais – o que sabendo hoje, como adulto, não era um sacrifício tão grande assim, rola até um sentimento de saudade. Até que é bom ver os presentes de amigos-secretos, fazer uma boa refeição, rir aos montes e dormir bem cansado. Sem o sacrífico de esbanjar simpatia para ninguém. Não nego que às vezes também sinto certa vontade de fugir de algumas confraternizações. Prefiro não ir a ter que trocar abraços e desejar boas coisas a gente que eu amaria mandar para o raio que o parta. Grande perda é não estar com quem gostamos, mas nem sempre tenho estômago para permanecer em um lugar onde não me sinta bem.
Tirando alguns obstáculos que insistem em estragar nosso espírito natalino, todo o resto vale a correria e a celebração. Todo o ritual de montar a árvore e preparar a casa para receber os convidados, roupas cheirando a novo, mesas fartas, as frutas cristalizadas que tanto são julgadas. Toda essa grande encenação tem, no mínimo, a intenção de nos preparar para o renascimento dos valores humanos, da compaixão… Acredito sinceramente que ainda possa haver veracidade nos abraços, nos sorrisos, no amor que transcende as simples fotografias postadas nas redes sociais. Sempre temos algo para comemorar, para relembrar, para resgatar seja intimamente ou com o nosso próximo. Quantas pessoas não têm nada disso ou se dão conta das pequenas alegrias desses dias? Que bom que ainda temos tempo de celebrar!
Joga mais uva passa no mundo que está pouco!
Feliz Natal a todos!
Claudio Oliveira – Jornalista
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