Desconfie das redes sociais. A realidade pode ser bem diferente

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Trago hoje, para reflexão, um artigo de Rodrigo Focaccio.

Há anos trabalhando com conteúdo digital, procuro entender o que engaja os mais diferentes públicos. Dentre muitas suspeitas e conclusões, percebi como textos que falam sobre listas de livros alcançam ótimos números de compartilhamentos e interações em redes como o LinkedIn, assim como as epígrafes de complexos autores fazem sucesso no Facebook e WhatsApp.

Se fosse mais apressado ou ingênuo, diria que o brasileiro tem um enorme interesse por livros e clássicos da literatura universal. No entanto, quando batemos o olho nos dados dos livros mais vendidos do país ou nos hábitos de leitura do brasileiro, veremos que a realidade é bem diferente. Em bom português: quando se trata de livros e leitura, o comportamento nas redes sociais se reflete muito pouco na realidade.
Resolvi cavar mais o assunto e encontrei um artigo que ajuda a confirmar essa impressão que não deve ser só minha. O jornalista Seth Stephens-Davidowitz deu alguns exemplos sobre como nas redes sociais somos personagens de nós mesmos que, às vezes, nada se parecem com a versão de carne e osso.
nas redes sociais somos personagens de nós mesmos que, às vezes, nada se parecem com a versão de carne e osso

São vários os cruzamentos que trazem conclusões inusitadas. Separei alguns que me chamaram a atenção:

Enquanto no Spotify a cantora Katy Perry é a décima mais ouvida entre homens, no Facebook ela recebe muito menos curtidas do que outros artistas como Bob Marley, Kanye West, Kendrick Lamar e Wiz Khalifa que, na plataforma musical são bem menos tocados do que ela. A suspeita? Talvez os homens queiram omitir publicamente o gosto por artistas mais associados ao público feminino.

Nos EUA, embora os americanos passem seis vezes mais tempo lavando louça do que jogando golfe, há duas vezes mais tuítes sobre o esporte do que sobre a trivial tarefa doméstica (acho compreensível. Poucas coisas são tão enfadonhas como lavar louças)

Se cruzamos os dados de postagens do Facebook com as buscas do Google, o choque de realidade é mais duro ainda: enquanto na rede social o complemento da frase “meu marido é..” acaba quase sempre seguido por palavras como “o melhor”, “meu melhor amigo” ou “incrível”, nas buscas do Google a sentença “Meu marido é…” surge acompanhada por adjetivos como “um idiota”, “chato”, “gay” e “malvado”. Ao menos a qualidade “incrível” aparece nas duas plataformas (ufa!).

Mas, enfim, o que podemos pensar sobre essa distância entre redes sociais e realidade?
Primeiro, uma conclusão do próprio autor que devemos levar para a vida pessoal: não vale à pena nos sentirmos mal porque nossa vida não parece tão legal quanto a de nossas conexões. No fundo, seu amigo que frequenta praias paradisíacas, possui um emprego incrível e participa de eventos exclusivos e jantares imponentes também tem uma pilha de louça pra lavar. Há que se levar em consideração também o que popularmente é definido como “comer mortadela e arrotar caviar”. A ideia de “parecer” alguma coisa que prevalece ao “ser”, bem mais antiga do que a própria Internet.
Em segundo lugar, pensei como esse comportamento impacta sob o ponto de vista profissional, das empresas que produzem conteúdo para vender um produto ou serviço. Nem sempre aquilo que mais engaja leva o usuário ao destino final, ou seja, à compra. Prova disso é que nos EUA a revista semanal The National Enquirer vende três vezes mais que a The Atlantic embora esta última, no Facebook, seja 45 vezes mais popular.
Outra reflexão para quem escreve é a melancólica conclusão de que um texto muito compartilhado não necessariamente significa que ele foi de fato lido por toda aquela gente.
O que me parece cada vez mais necessário é que o produtor de conteúdo também seja um eficiente analista de dados. Unindo as duas pontas do ciclo é possível tentar desviar das armadilhas que separam o mundo digital e a realidade propriamente dita. 

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