A curiosidade e compartilhamento de cenas mórbidas não é novidade na internet, mas desde os tempos do acidente aéreo com os mamonas assassinas em que as imagens dos corpos mutilados corriam por aí por meio de disquetes, as imagens levavam meses, ou até anos, para se disseminarem na rede, mas atualmente, se você não desabilitar o download automático do WhatsApp pode ser surpreendido a qualquer momento com cenas chocantes, como aconteceu essa semana aqui em Paracatu quando alguém INVENTOU que havia acontecido um acidente na MG 188, próximo a Unaí e espalhou um vídeo de um acidente há muito tempo atrás mas que choca sempre que vem a tona. Uma criança chora sozinha no asfalto enquanto as pessoas filmavam e fotografavam os seus familiares mortos no carro e outros feridos no asfalto
Confesso a vocês que senti muito mau com isso, mesmo não vendo o vídeo todo. E antes de mais nada, eu te pergunto, você que está nos ouvindo, vocês que está lendo, se fosse um familiar seu, você encaminharia esse vídeo pra alguém? Se aquele criança fosse sua filha ou se aquela senhora fosse sua mãe, sua irmã?
Já imaginou quando essas imagens chegaram aos familiares destas famílias?
Eu fico assustado com duas coisas, principalmente duas coisas:
Primeiro, o que faz com que uma pessoa por exemplo o caso recente aqui na cidade, fique filmando e fotografando pessoas agonizando enquanto uma criança chora e pede ajuda sozinha no meio da rodovia? Porque não acolher a criança, colocar em um local seguro, tentar acalmar, buscar ajuda? Por que? Por que?
Segundo, o que motiva as pessoas a compartilharem um conteúdo tão desrespeitoso à memória das vítimas e à família? Alguém me responde por favor?
A banalização da morte na internet, nas redes sociais e nos grupos de whats app tem sido praticamente diária e além da falta de noção de quem compartilha, da falta de amor ao próximo, da conivência, da falta de sensibilidade e humanidade de quem compartilha, ainda deve-se considerar que fazer isso é crime! Sabia?
Sim, embora o objeto do vilipêndio seja o morto, o crime é contra a coletividade, especialmente familiares e amigos. Com a aprovação do Marco Civil da Internet, a Lei nº 12.965/2014, que regula o uso da internet no Brasil, os servidores e redes de aplicações tiveram regras definidas para o armazenamento de informações, o que facilitaria a investigação e punição contra quem captura ou compartilha os conteúdos ofensivos na internet.
Infelizmente cada época tem o vetor de distribuição que lhe é mais conveniente, amparado pela tecnologia mais acessível. Vinte anos atrás era o disquete na época do acidente com os Mamonas Assassinas, depois os e-mails, hoje, o WhatsApp protagoniza a disseminação e acelera a distribuição de todo tipo de conteúdo.
E o pior de tudo é que pela diversidade de perfis que utilizam o aplicativo, estamos sujeitos a receber de tudo. Se você está num grupo de família, em outro do trabalho e naquele dos amigos, sabe que não é exagero dizer que ele recebe tudo mesmo. Vêm piadas da época em que blogs eram novidade, aquelas correntes antiiiiigas e até aqueles “furos de notícia” da década de 90, de tantos anos atrás.
Há conteúdo recém-criado também, uma boataria sem fim, uma penca de notícias absurdas e carentes de fontes confiáveis. Imagens motivacionais e engraçadas, piadas, mensagens de protesto, orações e, é claro, muita coisa ruim, como vídeos e fotos de gente morta.
Dizem que o que não entendemos nos assusta e nos fascina, e a morte é, independentemente da sua religião, o maior dos mistérios. Ninguém jamais morreu e voltou para contar como é. Mas, enquanto em vida, é legal demonstrarmos mais empatia e respeito.
Que a última imagem gravada na mente dos amigos, familiares seja a de um sorriso, de uma conversa trivial, qualquer coisa mas que não seja de forma alguma, imagens de olhos vazios e já sem vida.
