Extração de ouro aumenta 44% e Paracatu se destaca

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Apenas nos últimos três anos, os desembolsos totalizaram R$ 323 milhões, sendo R$ 100 milhões apenas para o aumento da capacidade de produção das empresas Anglo Gold Ashanti, da África do Sul, e Kinross Gold Corporation, do Canadá.

Com os investimentos, a retirada de minério lavrado (rochedo que contém ouro) das três minas operadas pelas multinacionais saltou de 800 para 1,150 milhão de toneladas em 2009 — alta de 44%. Serra Grande faz parte do grupo de empresas que têm a rentabilidade condicionada à valorização do metal nos mercados financeiros, por explorar minas de baixo teor aurífero. Nesses lugares, o ouro não aparece em pepitas, mas em blocos de minério lavrado. Cada tonelada do pedregulho contém cerca de cinco gramas do metal.

Ainda assim, somente nos últimos 10 anos, a quantidade de ouro retirada das três minas de Serra Grande foi de 57,64 toneladas. A cada ano, porém, a extração fica mais difícil, e é preciso cavar mais para localizar o minério. Em uma das minas, a profundidade chega a 700 metros. E quanto mais se avança, mais caro é o custo de extração. “Não há espaço para aventureiros nesse negócio. A ilusão de que tudo é lucro desaparece quando você põe na ponta de lápis as despesas de se manter uma mina subterrânea”, conta Farace.

Planos revistos

Normalmente, manter uma mina subterrânea chega a custar duas vezes mais do que uma a céu aberto, o que inviabiliza a atividade de garimpos, como ocorreu nas primeiras corridas ao ouro no Brasil. Essa é a razão de, agora, a exploração estar condicionada a grandes investimentos de empresas estrangeiras. Estima-se que o aporte em projetos para extração de ouro no Brasil entre 2010 e 2014 deva ficar em US$ 1,7 bilhão, segundo projeção do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

“No ano passado, ainda em meio à crise, os mesmos empresários diziam que os planos para o exercício 2009-2013 eram investir US$ 1 bilhão, valor 70% menor do que a estimativa atual”, diz o gerente de dados econômicos do instituto, Antônio Lannes. “O que temos percebido é que essa elevação bastante significativa no preço do ouro tem viabilizado a implantação de grandes projetos de extração no Brasil, o que deve se manter caso as cotações continuem favoráveis”, conta.

1900

Decadência da exploração em larga escala do garimpo de ouro no Brasil, que perde a liderança na produção mundial para a África do Sul.

1960

Início da pesquisa geológica a serviço da produção de ouro, que culmina nas descobertas de minas em Crixás (GO), em Serra Grande, e em Barrocas (BA), por meio da mineração Fazenda Brasileiro.

1980

Após a descoberta de ouro em Carajás, milhares de brasileiros migram para o sul do Pará, transformando Serra Pelada no maior garimpo a céu aberto do mundo. Estudos indicam que o volume de ouro retirado a cada ano durante a exploração em Serra Pelada chegou a 10 toneladas. Mas acredita-se que esse número correspondia a apenas 50% do que realmente era extraído.

1984

Início da exploração em Morro do Ouro, em Paracatu (MG).

Apesar de ter um grande potencial mineral, o local guarda uma característica peculiar. É a mina com o mais baixo teor de ouro em todo o mundo, gerando menos de 0,5 grama por tonelada de rocha extraída.

2010

Valorização recorde do ouro incita nova corrida pelo mineral. Procura maior pelo ouro como proteção ante as recentes crises estimula a reativação de projetos que haviam sido interrompido por conta do longo período de preços baixos do metal. Multinacionais anunciam megaplanos de investimento para exploração de ouro no país e o garimpo de Serra Pelada é reaberto

Em Paracatu, a Polêmica sobre a terra dos Quilombolas continua

O desenvolvimento inequívoco proporcionado pela exploração do ouro no pequeno município mineiro também deixa as suas mazelas. Ao mesmo tempo em que a modernidade se sobrepõe a olhos vistos, fagulhas do atraso insistem em se fazer presentes por meio da destruição de rios, da devastação da mata nativa e do desaparecimento de parte do patrimônio histórico.

A nova barragem de rejeitos da mineradora canadense Kinross ocupará um vale originário de quilombolas. Os descendentes dos escravos que trabalharam no Córrego Rico e no Morro do Ouro venderam suas terras e se mudaram para a periferia da cidade para ocupar subempregos.

Na extinta comunidade do Machadinho, na entrada da cidade, o pedreiro José Benedito Morais de Lima, 42 anos, conhecido por Zé Dito, conta a história do tataravô Antônio Morais de Lima. Um mulato que nasceu livre e deixou para os herdeiros as terras que ocupava em um morro próximo a Paracatu. Cerca de 200 anos depois, só restam, no local, tijolos do que foi um fogão e um cruzeiro onde começavam e terminavam os festejos.

Para o pedreiro José Benedito, a terra dos quilombolas não poderia ter sido vendida pelo valor sentimental que tem. Ele diz que o dinheiro falou mais alto

“Essa terra não podia ser vendida por dinheiro nenhum. Tem um valor sentimental muito grande”, diz Zé Dito, em meio aos escombros que antes formavam a casa de um dos seus tios. Ele relata que, depois da morte do pai e dos parentes que moravam no local, os herdeiros não receberam os títulos das terras. Uma pessoa desconhecida teria vendido o local para a mineradora.

Apesar dessa suspeita de grilagem, Zé Dito admite que a comunidade deixou de existir por vontade própria. “Todo mundo ficou de olho grande no dinheiro. E os que conseguiram receber alguma coisa pelas terras agora se arrependem, pois não conseguiram comprar nem uma casinha simples na periferia da cidade, que está ficando muito cara”, afirma.

Medos latentes

A mina da Kinross em Paracatu fica entre dois quilombos. De um lado, a extinta comunidade do Machadinho, que deu lugar da nova represa. Do outro, São Domingos, que ainda mantém parte das tradições dos primeiros escravos que chegaram a Paracatu. Todos os dias, eles recebem vários ônibus de turismo para vender artesanatos e doces, contar histórias do início da cidade e mostrar uma cachoeira que hoje só existe quando chove forte. “Paracatu começou em São Domingos; somos um museu vivo da história”, diz Magna Aparecida dos Reis Sousa, 53 anos.

O pai de Magda, Aureliano Lopes dos Reis, 97, já foi garimpeiro assim como quase todos os homens de idade mais avançada na comunidade. “Eu ia para Cristalina garimpar ouro e pedras preciosas. Caminhava três dias até lá para colocar comida dentro de casa”, relembra, orgulhoso da força que tinha na juventude.

Colaboração: Victor Martins e Deco Bancillon (Correio Braziliense)
XMCred Soluções Financeiras
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