Crise política e econômica: desconfianças de um minerin

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          Sei não, viu, não sou economista brasileiro e, portanto, também não entendo muito (ou nada) de economia, mas sou mineiro e, como tal, e com todo direito e propriedade, ando muito desconfiado. Essa crise política e econômica que está a infernizar os filhos da Ilha de Vera Cruz, depois terra de Santa Cruz, tem um cheiro e um quê de algo fabricado. Como é que um país, que até isturdia caminhava feliz e próspero,  a passos largos e certeiros,  rumo ao profetizado destino de “país do futuro”, de repente e não mais que de repente, como diria um dos seus mais renomados poetas, escorregou na esparrela e foi descartado como ator de tão grandioso destino?

          Ainda ontem, um mandatário deste curral, um sociólogo e falante príncipe, convenceu a plebe da conveniência de se vender/dar o seu patrimônio, como se alguém já tivesse melhorado de vida botando fora, praticamente de graça,  tudo que tem; e também de que era correto muitos sofrerem na fome e na miséria para outros, aqui e lá fora, viverem nababescamente à custa dos escorchantes juros que eles fixam unilateralmente, tudo ao sabor do que dizem suas agências de avaliação de riscos.  Iludidos, mas felizes porque o príncipe era poliglota, todos aplaudiram a ideia que, assim, perduraria per omnia saecula saeculorum.  Depois, por um inexplicável milagre, “um cabra da peste” analfabeto, que a corte julgava facilmente manobrável, e só por isso suportável, foi guindado ao poder. Estava descoberta a receita do bolo. As massas ignaras, hipoteticamente, estariam no comando por meio daquele tobó. Poder que, contudo, como sempre, beneficiaria e continuaria a ser exercido pelos mesmos poderes ocultos.

           Ocorre que o “cabra da peste” sacaneou com o velho esquema. Inverteu a ótica econômica, distribuindo entre os muitos descamisados o que antes era destinado aos poucos “enternados”, daqui e de alhures.  A fome endêmica acabou, e mendicância sumiu, a assistência melhorou, milhões saíram da linha de pobreza.  Todos passaram a ter tudo, daquela televisão de tela grandona até o nunca dantes imaginado veículo novo (mas os privilegiados de antanho só enxergaram a falta de espaço para estacionamento dos seus carrões, claro!). Filho  de pobre passou a ter assento na universidade ao lado dos filhos dos ricos. “Uma fubazeira” – protestaram, inconformados, mauricinhos e patricinhas…

          O mundo estava maravilhado! Até o seu mandatário maior chegou a dizer: “Esse é o cara”.  Paralelamente, países até então poucos expressivos economicamente, agrupados no chamado Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ficaram mais fortes. A hegemonia do velho e carcomido mundo passou a ser ameaçada pelos emergentes. Itália, Espanha, Portugal e depois Grécia, além de outros, ficaram chamuscados pelas chamas de um capitalismo em crise que, contudo, cuidou de salvá-los, sabedor de que, assim, estava a salvar o próprio pescoço. Já que eles não têm mais o mesmo ouro e outras riquezas que construíram a nossa prosperidade, o jeito é aumentar os juros de suas dívidas, baixando suas notas por meio das nossas agências de avaliação de riscos – pensaram em relação a nós.   E, no Brasil, o “cabra da peste”, que desafiou as elites e fez uma revolução sem sangue, patrocinou o seu lance mais ousado: lançou à sua sucessão uma mulher, o massacrado ser merecedor de melosos e vazios cânticos, mas até então quase que só aceito como “motorista de fogão”.

          De repente, e não mais que de repente, outra vez, aconteceu a metamorfose que dá pra desconfiar.  A presidente prosseguiu com a política de transformação de país do futuro em país do presente.  Mas ousou dar abrigo, vez e voz a um certo Edward Snowden, que denunciou prática de espionagem pelos donos do mundo; peitou o boneco da vez desse sistema, Barack Obama, nos organismos internacionais; e ainda emprestou dinheiro a um país amaldiçoado por eles para a construção de um porto. Era atrevimento demais e o exemplo poderia contagiar o mundo inteiro…

      Aí, não se sabe como, mas, de repente e não mais que de repente (três vezes obrigado, Vinícius!), o Brasil, maior produtor mundial de grãos num mundo cada vez mais sedento por alimentos; maior produtor de carne bovina, de frangos, de laranja, de açúcar, de minérios, de um tudo, auto-suficiente em petróleo e dono do cobiçado e mais que promissor pré-sal, construtor de reservas cambiais imensas e etcétera e tal, entrou em crise e simplesmente quebrou! E tudo isso em menos de um ano,  o que não passa de um brevíssimo instante na história de um povo. A sua mandatária, livremente escolhida pela soberana vontade da maioria dos votos da Nação, passou a ser hostilizada primeiramente em ricas arenas de futebol,  pela Pátria antes clamadas e festejadas.  Churchill, fazendo referência ao Dia D, disse: “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos”.  Parafraseando, nunca tantos mudaram tanto em tão pouco tempo – e minerin foi só ficando   cabreiro…

          Por que tudo  mudou tanto  de uma hora pra outra? Houve alguma tragédia, tipo guerra ou tsunami,  que arrasam tudo?  Os antes dadivosos  campos pararam de produzir e exportar os amarelos grãos que alimentam o mundo ou o mundo parou de comer? O agronegócio, que se dizia salvador da pátria,  não conseguiu salvar a pátria amada mãe gentil e nem se  sente igualmente  culpado? Os bois e porcos, misteriosamente,  emagreceram de uma hora pra outra, com os consumidores  mundiais de frangos e carnes  parando  de consumir nossos galináceos e bifes? A indústria automobilística  e outras, que  só funcionam e têm competitividade à base de isenção de impostos que nunca repassam aos seus preços, fizeram alguma coisa além de ameaças de desemprego? O dólar fulminou quem importa,  mas em nada  beneficiou, em contrapartida, quem exporta? Por que a  ladroagem só lascou com a Petrobrás, mas  nada significou quanto ao rico empresariado (exceto algumas prisões mais para inglês ver) e às  obras do metrô de São Paulo? Deixaram de existir ou,  misteriosamente, só  se concentraram em apenas uma pessoa as falcatruas que sempre existiram  em todo o  Brasil brasileiro meu mulato inzoneiro desde Pedro Álvares Cabral?

          Sei não, mas acho que o  “cabra da peste” analfabeto  e a sua pupila que ousaram  mudar o Brasil foram   ingênuos ao extremo,  pensando que reconhecimento teriam. Há exatos dois mil e quinze anos, outro barbudo, que também não tinha curso superior,  ousou priorizar os pobres,  dando a eles  esperança, pão e peixe. O barbudo brasileiro e sua pupila, pecadores sim,  deram cesta básica completa, universidade aos filhos, emprego, esperança quanto a um mundo terreno mais igualitário e fraterno, direito até aos sonhados veículos que, logo, transformaram os estacionamentos públicos gratuitos num inferno, vá lá!  Iriam eles ficar impunes? De jeito nenhum! O outro barbudo, que nenhum pecado tinha, julgado ao lado de Barrabás, foi condenado pelas massas insufladas pelas elites e religiões e morreu na cruz pela sua opção preferencial pelos mais humildes.  Minerin, besta e desconfiado, mas consciente da hipocrisia humana, que finge sentir mas ignora a dor que o próximo efetiva e constantemente  sente,  fica a imaginar: por que, com um “cabra da peste” pecador, sua política e sua pupila, haveria de ser diferente?
 
Do Toco do Pecado: Comentários de Florival Ferreira (14.09.15)

 

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