O evangelho é para os pobres?

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Caro leitor, quero partilhar com você um texto que acabo de postar respondendo à pergunta do meu professor de TEOLOGIA BÍBLICA, EVANGELHOS SINÓTICOS E ATOS, Dr. JOÃO PAULO THOMAZ DE AQUINO, do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. Segue o texto:

de fato, os pobres têm um papel preponderante na mensagem lucana. Já no início do seu relato, a pobre Maria, depois de receber o anjo em sua casa, se dirige à região montanhosa de Judá — uns 160km — para ajudar, ao que tudo indica, a sua prima Isabel, que também era pobre, e que também esperava um filho. Mais à frente, logo que escuta a saudação de Isabel, esta lhe responde com o Magnificat, no qual podemos ler palavras belíssimas e admiráveis saindo da boca de uma adolescente judia:
51 Manifestou poder com o seu braço; dispersou os que eram arrogantes nos pensamentos do coração
52 derrubou dos tronos os poderosos e elevou os humildes.
53 Aos famintos encheu de bens, e de mãos vazias mandou embora os ricos.
 
E o casal José-Maria era pobre, e vemos claramente isso quando da oferta que fazem ao templo por ocasião da circuncisão do Senhor Jesus [Lc 2.24].
 
Lucas evidencia que o menino nasce pobre, que lhe falta lugar adequado, para o nascimento e que, novamente os pobres e marginalizados  [no caso, os pastores, posto serem discriminados em Israel, nem mesmo podiam participar ativamente de todas as atividades religiosas do templo, devido à sua condição de pastores, que era, muitas vezes, sinônimo de pecadores]. Em Lucas, os pobres constroem a nova história. Com efeito, a maior glória e testemunho da santidade e da misericórdia de Deus é ele se aliar e assumir a situação dos pobres, a fim de libertá-los, dando eficácia à luta deles [1.49-50; Dt 10.21; Sl 103.17]. E de que modo o Senhor realiza isso? Através da força da justiça, que inverte as situações sociais para criar um novo relacionamento entre as pessoas e os grupos humanos: os pobres e fracos são libertos daqueles que orgulhosamente os exploram e oprimem [1.51-53; 1Sm 2.7-8; Sl 107.9]. Essa é a maneira do Senhor Deus YHWH agir no AT e também será a forma de Jesus Cristo, porque a verdadeira justiça é defender o fraco contra as pessoas e as estruturas que exploram e oprimem. Vejo cristalinamente clara nas Escrituras essa preferência pelos pobres.  Não vemos, por exemplo, o Senhor Jesus a eles se dirigir com nenhuma palavra de repreensão. Porém, quando se refere aos ricos… bem, já não podemos dizer o mesmo.
 
Os pobres são melhores do que os ricos? Certamente que não. No entanto, vemos, em toda a Escritura, que o Senhor lança sobre eles, os pobres, um olhar de misericórdia e carinho jamais vistos. Ricos cada vez mais ricos às custas de pobres cada vez mais pobres é uma realidade associada ao reino parasita de Satanás, ao anti-reino. Isto porque os pobres são os destinatários da ação messiânica [Mt 11.5], são os que estão, de fato, numa situação de penúria e de opressão. Esses pobres aos quais Lucas se refere são os anawim, ou seja, os "encurvados", os rebaixados pela opressão e pela injustiça da sociedade. Esses pobres são os pobres reais, que passam fome, choram de aflição, sendo que seu único recurso é a luta pela justiça. São os pobres exaltados pelo profeta Sofonias [2.3; 3.12-13. Esses pobres serão saciados e rirão, porque o reino lhes pertence desde já. Os ricos são os ricos reais, que levam vida farta e satisfeita, graças à exploração e opressão do povo, que fica assim reduzido à fraqueza e à miséria. Estes enriquecem à custa de baixos salários, de trabalho insalubre. Lucas vê, desse modo, uma estreita relação entre a existência dos ricos e a existência dos pobres: um não existe sem o outro, porque a pobreza da maioria é conseqüência direta da riqueza da minuria. Dito isto, só os pobres podem ter esperança? Repito que não! O evangelho é a única e última chance para que todos compreendam e se convertam ao projeto de Deus, que não quer que ninguém se perca, nem mesmo o pior pecador [Ez 18.23.32]
 
Diante de todo esse arrazoado — que o prof. João Paulo certamente chamará de "manifesto" –, percebemos, para enfatizar a nossa tese, que logo na primeira bem-aventurança Lucas enfatiza a realidade dos marginalizados [Lc 6.20] onde Mateus destaca os humildes e pobres de espírito [Mt 5.3]. Do mesmo modo, na segunda bem-aventurança de Lucas [Lc 6.21] o destaque é para aqueles que simplesmente têm fome, enquanto Mateus [Mt 5.6]  enfatiza aqueles que têm fome e sede de justiça. Uma visão não contradiz a outra, mas difere. Ora, promover a justiça é corrigir, sobretudo, as injustiças sociais, algo já previsto no AT, com a ideia do Ano do Jubileu… Por fim, Lucas menciona o texto de Is 61.1-2 durante a visita de Jesus a Nazaré [Lc 4.18,19], texto este que não aparece desta mesma maneira nos outros sinóticos [Mt 13.54-58; Mc 6.1-6]. 
 
Finalizando, vejo no Evangelho de Lucas uma resposta contundente aos defensores de quaisquer teologias da prosperidade, posto esta teologia [?] não se harmonizar com as Escrituras. O Senhor Jesus promete, aos que o seguem, lutas, sofrimento e dor, e não riquezas e felicidade fugaz. Para tanto, basta nos debruçarmos sobre a história da igreja para ver que fim levaram aqueles que professaram a fé no Senhor Jesus e que, verdadeiramente, se revestiram do poder do Espírito.
 
NEle, que liberta os cativos,
tarzan leão

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