"O homem faz seus planos,
mas o Eterno é quem possibilita que sejam realizados."
(Pv 16.9)
A discussão a respeito da soberania de Deus sobre o homem é antiga no Ocidente. Neste sentido, um passo decisivo foi dado no Renascimento, quando o teocentrismo (Deus como centro de tudo) deu lugar ao antropocentrismo (o homem como o centro de tudo), pensamento que perdura ainda hoje. Noutras palavras, passou a valer a frase clássica de Protágoras (480-410 a.C.), de que "o homem é a medida de todas as coisas."
Algum tempo depois, no século XIX, na esteira do humanismo, os chamados "mestres da suspeita" (Marx, Freud e Nietzsche) proclamaram a "morte de Deus". Agora, sim, completara-se a obra. O homem havia se libertado da superstição da religião e poderia, plenamente, governar o seu próprio destino! É o que dirá Dostoiévski falando através de Ivan Karamazov: "se Deus não existe, tudo é permitido".
Toda essa transformação no pensamento ocidental trouxe consequências desastrosas que se refletem ainda hoje. Sem Deus, ou, sem um ser superior — e, consequentemente, sem leis universais —, cada agrupamento humano poderia decidir, inclusive, a sua ética, suas regras morais, tomando como pressupostos apenas a razoabilidade e o consenso. É, por exemplo, este tipo de pensamento que está por trás das discussões a respeito do aborto, da eutanásia e de seus aparentados.
O ser humano, na ânsia por liberdade precisa, antes, assassinar Deus, para não ter de prestar contas a ninguém dos seus atos. Quanta ilusão e estultice!, pois o Senhor Deus, do alto do seu poder, a todos governa, ainda que muitos o queiram negar. De maneira que cai bem o verso de Fernando Pessoa, quando diz: "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce", argumento inconteste de Sua soberania e da pequenez humana.
