José Israel Vargas, natural de Paracatu, 81 anos, orgulha-se de ter criado, quando foi secretário de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e do Comércio, o Programa de Tecnologias Industriais Básicas, que normalizou e padronizou os processos de produção no país.
Homem das ciências, ainda busca respostas para problemas que intrigam a sociedade brasileira: a progressão do desmatamento na Amazônia, o combate ao analfabetismo e os índices de suicídio. Como bom pesquisador, acredita que a identificação de padrões desses fenômenos, ao longo dos anos, é fundamental para encontrar soluções ou simplesmente para lidar com a realidade a partir de informações mais precisas.
A disciplina que dedica atualmente a essas tarefas marcou sua carreira de quase 60 anos voltados à ciência. Desde quando se bacharelou em química pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1952, construiu trajetória acadêmica de destaque que o credenciou a ocupar cargos públicos fundamentais para o desenvolvimento do país. Em Minas, foi secretário de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente no governo Aureliano Chaves (1974-1979). Anos depois, foi ministro nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Como homem público, participou de momentos históricos, como a implantação da internet no Brasil, a partir da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), que interligava os computadores das universidades brasileiras, em 1995; e o lançamento dos primeiros satélites brasileiros à orbita da Terra, em 1993.
Quando foi professor no ITA, ainda jovem, teve entre seu círculo de amigos íntimos pessoas como Fernando Henrique e Ruth Cardoso, antes mesmo de se casarem. “Nunca imaginei que ele seria presidente. Brincávamos que ele seria papa ou cardeal, porque para ocupar esses postos não precisa ser padre, embora nos últimos 200 anos não tenha ocorrido nenhum caso contrário. Fernando Henrique sempre foi talentoso, jeitoso, simpático e agradável. Muito jovem já integrava o Conselho Universitário da USP. Tinha um talento excepcional.”
Anos depois, como ministro no governo do amigo Fernando Henrique, pleiteou recursos das privatizações, especificamente da venda da Companhia Siderúrgica Nacional, em diversos projetos da área, como a criação do Centro Brasileiro de Previsão do Tempo e do Clima (Cptec/Inpe), em Cachoeira Paulista. Israel tomou para si a tarefa de alocar mais recursos para a área de ciência e tecnologia. “Diz ele (Fernando Henrique) que eu era o ministro mais chato. Chateava mesmo para obter recursos para a ciência. Nesse caso, ser chato é considerado um título”, pontua.
Israel lembra que a ciência brasileira estava em estado lamentável devido “às loucuras do presidente Collor. Diversas atividades importantes foram interrompidas nesse período”. Com a criação do Cptec, o Brasil passou a dispor de infraestrutura, como um supercomputador capaz de processar os dados de 300 estações meteorológicas de todo o país. Mais do que nos dizer se no fim de semana fará sol ou chuva, a previsão do tempo é essencial para as atividades agrícolas, industriais e até mesmo para antecipar catástrofes naturais. Olhar para o clima de forma científica foi a opção de Israel Vargas desde quando foi secretário de Aureliano.
Coube a Israel dissuadir o governador de uma ideia no mínimo curiosa. “Influenciado por um engenheiro que achava que injetando produtos nas nuvens faria chover, Aureliano queria comprar um avião para fazer a experiência. No entanto, procedimentos feitos na Índia, Israel e Estados Unidos mostravam que era algo aleatório”, conta. Atualmente, entre outras responsabilidades do Cptec, está o monitoramento do desmatamento da floresta amazônica. O trato com os governantes, na avaliação de Israel, nunca foi problemático, mas ele considera que a aplicação dos avanços científicos precisa desse discernimento político: “Costumamos dizer que a ciência tem a face do deus mitológico Janos, um lado risonho, alegre e puro; o outro, horrendo e violento”.
Fontes: Portal UAI
Márcia Maria Cruz – Estado de Minas