Vítimas de acidente podem ter sido enterradas por engano

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A possível troca de cadáveres de vítimas do acidente entre uma carreta e um ônibus com operários da Conenge Manutenção e Montagem Industrial Ltda., na BR-040, ocorrido na tarde do último sábado (17) provocou tumulto durante o sepultamento em Ipatinga, no Vale do Aço, na manhã desta segunda-feira (19).

A confusão começou depois que familiares do mecânico Gilberto de Souza Gonçalves, de 51 anos, resolveram ignorar a proibição de abrir o caixão lacrado para se despedirem dele, pouco antes que descesse à cova. Um cunhado do morto quebrou o vidro da urna e abriu o saco plástico. A Polícia Militar foi chamada para intervir. "Não é meu irmão. Sabia disso desde o início”, gritava a costureira Eva Gonçalves, de 36 anos.

Com o alarde, familiares de outro morto, o soldador Nivaldo José Lourenço, de 33 anos, que havia sido sepultado minutos antes na cova ao lado, levantaram a mesma suspeita e se juntaram aos de Gilberto para acusar representantes da empresa de não levar nenhum deles para reconhecer os corpos no Instituto Médico Legal (IML) de Curvelo e de tentarem enganá-los, sepultando outros corpos. Também quiseram abrir a cova, já lacrada, mas foram impedidos. “Quero saber se é meu filho mesmo que está aqui”, justifica a mãe de Nivaldo, Maria das Gracas Loureno Santos, de 55 anos. Ela subiu em cima da tampa de cimento e impediu que coveiros jogassem terra e replantassem a grama.

A discussão ficou ainda mais inflamada quando coveiros insistiram em fechar o caixão e sepultar o corpo de Gilberto, após outra irmã do mecânico, Rosângela de Souza, de 46 anos, ter autorizado o sepultamento. “Ficaram mutilados, irreconhecíveis. Mas é ele mesmo”, disse ela. A mulher do mecânico, por sua vez, Maria José Alves, de 48 anos, não teve certeza. “Está muito diferente, com o cabelo mais grosso e a orelha pequena demais. Não digo que é, nem que não é. Precisamos esclarecer isso”, disse ela. Maria José autorizou o sepultamento de Gilberto, prometendo tomar providências depois.

Enquanto um Boletim de Ocorrência era lavrado, familiares de Nivaldo foram à Delegacia Regional pedir providências. O delegado regional adjunto, Geraldo Magela de Morais, autorizou que levassem o corpo de Nivaldo até o IML da cidade para que um médico legista ajudasse na identificação. Segundo o policial, caso não fosse feito o reconhecimento por meio visual ou de digitais, um exame de DNA seria pedido. Se confirmada a troca, exumações de pelo menos outras 13 vítimas poderão ser feitas.

Isto pois, dos 15 mortos, dois já foram reconhecidos por familiares: Thadeu Fernandes Shubert, de 20, logo depois do caixão chegar à Ipatinga, ainda na noite de domingo (18), e de Isaías Vieira Silva, 31, reconhecido pelo irmão Davi Malta da Silva, de 34, que foi a Curvelo acompanhar a liberação. Ele contou que encontrou o corpo de Isaías identificado como sendo o de Nivaldo, já em caixão lacrado, outra confusão.

“Se eu não tivesse ido até lá (Curvelo), teríamos velado e enterrado o corpo de outra pessoa no lugar do meu irmão. É um absurdo, falta de compromisso e sensibilidade com a nossa dor”, disse ele. Os seis corpos de vítimas residentes em Ipatinga foram sepultados no Cemitério Municipal Senhora da Paz, a partir das 8 horas. O primeiro foi o de Thadeu e o último seria o de Gilberto, que até o início da tarde ainda não estava fechado em definitivo. Todos os 15 mortos foram sepultados sem certidão de óbito, documentação que só ficará pronta no decorrer da semana.

“É um caso que foge à rotina da delegacia. Vamos tentar a identificação de Nivaldo e se não for ele, vamos ter que analisar caso a caso, como o do Gilberto, por exemplo. Exumações não estão descartadas”, reforçou o delegado Geraldo Magela. Ele adverte que o caso é complexo e envolve outras delegacias regionais. Seis mortos foram sepultados em Ipatinga, cinco em Belo Oriente – sendo quatro no distrito de Cachoeira Escura – duas em Vargem Alegre, uma em Ipaba, e uma em Dores de Guanhães. O delegado também não descartou a possibilidade de instaurar inquérito para apurar denúncias dos familiares. “O ideal é a família ou um parente próximo identificar os corpos”, completou.

Funcionários da Conenge foram liberados para acompanhar os sepultamentos. “Fizemos uma oração antes de vir para cá. É triste demais ver conhecidos nossos nessa situação e seus familiares sofrendo assim”, disse o soldador Geraldo Lúcio de Souza, de 37 anos. O diretor presidente da Conenge, José Heleno Neto Conte, que também compareceu aos enterros, informou que assistentes sociais e representantes da empresa foram até a casa de todas as 43 vítimas do acidente comunicar o ocorrido e oferecer a assistência necessária.

José Heleno acredita no trabalho da perícia de Curvelo que identificou e preparou os corpos com a auxílio de funcionários. “Estamos fazendo o que está ao nosso alcance, com cuidado e respeito. Se entenderem de outra forma, lamento muito. Que tomem as providências que julgarem necessárias”, disse Conte. “Estamos de luto, para sempre. É uma marca com 15 vítimas”, disse, falando de sua preocupação com os feridos hospitalizados, dois deles em estado grave. De acordo com Conte, todos os funcionários da empresa tinham carteira assinada por meio de contrato temporário e tinham seguro. “Vamos orientar todos eles”, finalizou.

Informações: HD
XMCred Soluções Financeiras
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