Mineira de Paracatu, a fotógrafa Vania Toledo nunca se viu em pé de guerra consigo mesma por acalentar duas paixões ao mesmo tempo. Sempre amou, concomitantemente, o teatro e a fotografia, sem que lhe jamais fosse criada nenhuma espécie de dúvida existencial. Esses dois amores – o primeiro um hobbie, o segundo também um "ganha-pão" – se juntaram para esquadrinhar uma carreira profissional de sucesso, marcada pela obtenção de imagens fotográficas tocantes, verdadeiros arquivos históricos de nossos tempos.
Foi na penumbra do teatro, com luzes artificiais ao fundo, que ela diz ter aprendido a fotografar. Para comemorar sua relação com os palcos, Vania reuniu no livro um punhado de imagens de atores e atrizes em ação pelos teatros de São Paulo. Trata-se de um registro iconográfico de produções célebres, como Macunaíma, Hair, O Balcão e Cemitério de Automóveis. Com 30 anos de carreira e aos 58 de idade, ela nos recebeu em seu charmoso apartamento, em Higienópolis, na região central da capital paulista, para conceder esta reveladora entrevista.
Você costuma falar que o livro Palco Paulistano é sua defesa de tese. O que isso quer dizer exatamente?
Não tenho despudor em mostrar minhas fotos amadoras, tremidas, fora de foco. Com o livro, quero apresentar às pessoas a trajetória de alguém que aprendeu fotografando no teatro, com luz artificial. Aprendi a fotografar o jogo de luz e sombra, os contrastes, assistindo a peças teatrais. E fui crescendo profissionalmente e tecnicamente com isso. Por isso é minha defesa de tese.
Como se deu o processo para a escolha das fotos?
Duramente, porque tenho um acervo enorme. Foram três anos de trabalho. Primeiro, selecionei imagens que eu havia ampliado aleatoriamente. Depois, passei para os contatos, que é uma escolha emocional e estética. Gosto de lembrar os momentos que envolveram a obtenção daquela imagem. São fotos da Vania amadora e da profissional. Um fotógrafo profissional dificilmente publicaria um livro em que as fotos não estejam germanicamente perfeitas. Mas gosto de mostrar que já fui ruim, que aprendi após errar muito.
Como começou seu flerte com o teatro?
Na década de 60, eu estudava Ciências Sociais na USP. Na época da ditadura, as pessoas jovens se uniam. Os universitários, os atores e os cantores formavam uma espécie de ONG. Eram todos entrelaçados em seus conhecimentos. O teatro era uma arte muito viva e subliminar, e conseguia, através de seus atores e diretores, driblar a censura. Havia uma conversa interessante entre esses grupos de jovens. E nós, universitários, contemplávamos o trabalho da classe artística, queríamos abrir aquele universo fechado da época.
Numa época em que se vendem cursos de fotografia em toda esquina, você tem orgulho de ter vencido na profissão a partir de um autodidatismo?
Não sei se é orgulho a palavra. Na minha época, não havia cursos para isso, a não ser em Nova York ou Londres. Meu orgulho, na verdade, foi ter abraçado um hobbie, dizer, aos 28 anos: "Chega. Eu não quero mais ser cientista social; quero ser fotógrafa. É o que eu gosto de fazer, o que me dá prazer".
Matéria: Ricardo Arcom
Foto: Thais Antunes
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