Que nem joão-de-barro

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Os casarões outrora imponentes e consolidados tiveram o seu tempo áureo e serviram de habitação segura e comércio, até que viessem a perder sua pompa para as “modernosas” construções que se edificaram em Paracatu, a partir da década de 70.

Na Rua Temístocles Rocha, que também já fora chamada de Rua da Praça, Dr. Afrânio e Rua do Calvário, ainda resistem ao tempo e aos apelos do capitalismo, alguns belos exemplares, pertencentes atualmente à Prefeitura Municipal, como o casarão do Dr. Chiquito e o velho sobrado do Senhor Alexandre Padilha, que quase ruiu com o abandono e as chuvas 2008.

Num momento em que se aguarda com grande expectativa por investimentos e zelo para com o Núcleo Histórico de Paracatu, área já tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), vêem-se alguns poucos imóveis antigos em processo de restauração, que, para a curiosidade e deleite daqueles que amam a história, também revela uma volta às práticas de edificação utilizadas num passado não muito distante.

velha casa em que viveu o médico Francisco Timóteo Lisboa, o Dr. Chiquito, muito conhecido como “médico dos pobres” por prestar atendimento a todos e a todas, independentemente de poderem pagar ou não pela consulta, persistiu em existir, ainda que até bem pouco tempo estivera comprometida pelas rachaduras e outros danos. Mas, foi lá que se encontrou uma importante matéria-prima para a construção deste texto, os tijolos de adobe.

O dicionário Aurélio (2008) define o adobe como tijolo cru e seco ao sol. Trata-se de um antecedente histórico do tijolo de barro, também conhecido como alvenaria, e sua fabricação é artesanal e semi-industrial.

Com as paredes comprometidas por várias rachaduras e trincas, não restou à empresa responsável pela obra de restauração da Casa de Dr. Chiquito, a recomposição da fachada e outros cômodos com novos tijolos, mas de adobe, é claro.

De acordo com o pedreiro Geraldo, de 45 anos, que executa os serviços de restauro no local, os adobes são produzidos no quintal do imóvel a partir de terra extraída ali mesmo. Caixotes de madeira são preenchidos com terra molhada, que passa a ter forma retangular e é posta sobre o chão para secar ao sol.

Enrijecidos, os tijolos de adobe vão então fazer parte da “nova-velha” estrutura das paredes do casarão ainda sustentado com colunas e vigas de madeira. Após os chapiscos com cimento, procede-se ao reboco que tenta imitar a risca o estilo do final do XIX e assim garante-se a fidelidade à arquitetura colonial.

Em pleno século XXI, em que se constroem espigões e casas com as mais alta tecnologia e materiais diversificados, é nostálgico e ao mesmo tempo interessante observar uma casa antiga em restauração, e o quanto se pode reviver sobre a sua história. É que nem joão-de-barro!

Fotos:

– Casa onde viveu e trabalhou o Dr. Chiquit

– Francisco Timóteo Lisboa, o Dr. Chiquito. Foto: Acervo Casa de Cultura de Paracatu

– Os tijolos de adobe, fabricados nos fundos da Casarão em restauro.

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