Dom Pedro e o Bretas em Paracatu

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Uma empresa particular, capitalista, querendo ou não e por mais paradoxal que possa parecer, está fazendo aqui uma justiça social que os poderes públicos não conseguiram em quase um século e meio de história. Trata-se do Supermercado Bretas, que revolucionou o comércio de Paracatu, derrubou preços e acabou com uma prática que podia até não ser, mas tinha toda a pinta de cartel, garantindo até este ano a sobrevida de uma carestia crônica, que vem desde os tempos imperiais.

Dos anais da Câmara local consta que, em 1.857, antes da República, portanto, a situação era dramática. Atravessadores cercavam os carros de boi e compravam todos os gêneros alimentícios que chegavam, devido ao que produtos essenciais, como arroz e farinha, alcançavam preços exorbitantes. O povo, sobretudo a classe mais pobre, gemia. Para coibir essa prática e normalizar a situação, a Casa (na época, a câmara era poder legislativo e executivo ao mesmo tempo) determinou que, a partir de então, todos os carros de boi teriam que parar em frente à residência do subdelegado. Fiscalizados, os alimentos seriam mais baratos e mais bem distribuídos.

Não resolveu. Assim, em dezembro do mesmo ano, o imperador dom Pedro, por meio do Ministério dos Negócios, determinou que os governos municipais, Paracatu no meio, informassem o porquê de carestia tão selvagem. Como se sabe, também não funcionou. O paracatuense continuou a ser tão explorado nas décadas seguintes que, até poucos anos atrás, muitas famílias saíam para fazer feira em Brasília, onde as coisas nunca foram baratas. Ainda assim compensava. A Cooperativa Agropecuária tentou baixar os preços em seu supermercado. Um boicote dos demais estabelecimentos aos seus laticínios foi a resposta. E a exploração persistiu, sem dó nem piedade. Até que o Bretas chegou, no final do primeiro semestre deste ano. Sem falar na beleza das instalações, no amplo estacionamento, na variedade dos produtos e na qualidade do atendimento, chegaram com ele preços mais baixos. Para ficar apenas num item: um pacote com cinco quilos de açúcar, que custava cerca de dez reais, teve seu preço reduzido pela metade. Se o comércio local era cruel assim com açúcar, do qual dependem também famílias sofridas, de baixíssima renda, imagine o resto…

Não sou muito chegado nesse tal de capitalismo, sobretudo o mais bruto, mas é de se reconhecer: com uma das suas leis, a da concorrência, ele deu um chega prá lá no suposto cartel e pôs freio à exploração crônica, com reflexos sociais positivos.

Por isso, está merecendo este comentário e esta propaganda de graça. O feitiço da selvagem ganância capitalista virou contra os feiticeiros. Uma página da nossa história, horrorosa e longa, foi virada.

XMCred Soluções Financeiras
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