O pecado da Preguiça

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No princípio, era a preguiça. Nós, brasileiros, temos uma longa relação de amizade com a preguiça, que data da chegada dos portugueses a essas terras. Na verdade essa relação é anterior, quando índios e índias perambulavam por aqui como se no éden vivessem, comendo do que a terra dava, pescando nos rios, habitando em rústicas ocas, curtindo a vida em eternas férias paradisíacas. Numa palavra: a vida que pedimos a Deus, ocupados apenas em não fazer nada.

Até que um dia os portugueses chegaram. Agora imagine você se tivéssemos sido colonizados pelos puritanos ingleses, esse povo tendo de trabalhar de sol a sol para construir a Nova Inglaterra em terra papagalli. Não seria nada fácil. Nossa maior sorte foi que os portugueses católicos chegaram aqui primeiro e tomaram posse dessa terra. E, sinto, somos mais felizes por isso: carnaval uma vez por ano (oficialmente falando, porque está cheio de carnaval temporão por este país a fora), campeonatos de futebol o ano inteiro, campanha eleitoral a cada dois anos, copa do mundo que simplesmente para o país de quatro em quatro anos; sem contar o fato de a grande maioria pensar que não está obrigada em cumprir as leis por pura preguiça: preguiça de adaptar-se a novas regras.

Aqui talvez seja um dos poucos lugares do mundo onde as leis podem não pegar. As pessoas, comentando determinada nova-Lei, dizem peremptoriamente: essa Lei não vai pegar. E a danada não pega mesmo, o Congresso corre, modifica, volta atrás. No Brasil, não somos nós que nos adaptamos às leis, elas é que tem de se adaptarem a nós. Temos preguiça de cumpri-las: dá uma preguiça enorme botar o cinto de segurança, colocar cadeirinha pra criança no banco de trás (o bom mesmo é andar com o bebê no colo do motorista, o coitadinho aprendendo desde cedo como dirigir errado, ou então no banco de trás, desde que o pobrezinho possa ficar em pé, com a cabecinha para o lado de fora, observando a caótica paisagem).

Mas, voltemos ao trabalho. No Brasil, a sensação histórica que temos é de que o trabalho é uma punição. Os portugueses trouxeram negros da África para trabalharem como escravos. A custo de muita chicotada conseguimos desbravar o Brasil, plantar cana-de-açúcar, extrair metais preciosos. Não fosse o tronco, o bendito tronco, não sei como esse país estaria hoje. Os portugueses, por serem brancos e nobres, nada faziam. Só davam ordens. De tão preguiçosos, contratavam mestiços para bater em negros e índios, essa tarefa era por demais cansativa para os nossos pais colonizadores. Os índios, por bem conhecerem o território brasileiro – os que sobreviveram, diga-se de passagem –, se safaram, fugiram para o interior, povoaram as matas, se estabeleceram às margens dos igarapés ou dos rios caudalosos.

Feriado bom é aquele que cai na quinta ou na terça-feira para enforcarmos a sexta ou a segunda-feira. No domingo, não vale. Aliás, isso devia constar em Lei: todo feriado que cair aos sábados e domingos deve ser transferido para a terça ou quinta-feira. Quando um dia eu for candidato a senador, essa será minha plataforma de campanha. Tenho certeza, serei eleito tão-somente por fazer essa promessa. Implantaremos em todo o território nacional o modelo baiano de viver a vida, de fazer carnavais, promover festas. Acho mesmo pouco apenas cinco dias de carnaval. Precisamos de todo o mês de fevereiro para a festividade momesca; junho para as festas juninas; dezembro para a comemoração natalina e de fim de ano; janeiro para mês sabático, que ninguém é de ferro mesmo, necessitamos merecido descanso e nos preparar para o carnaval.

Antes de terminar, ainda tenho uma palavrinha sobre os feriados. Há quem ache que eles são poucos. Precisaríamos, para a nossa alegria ser plena, de, em média, quatro feriados por mês, dois estrategicamente na terça e outros dois na quinta-feira. Isso, os nacionais. O Município deveria ter o direito de criar, pelo menos, uns cinco feriados por ano, colocados apropriadamente na quarta-feira. Assim, em mês de feriado municipal em que coincidissem mais dois nacionais, ficaríamos a semana inteira em casa, curtindo a vida numa boa.

Basta. Já escrevi demais. E, como não corro nenhum risco de ser colocado no tronco e chicoteado em praça pública, confesso: estou morrendo de preguiça de terminar este artigo.
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