A política, quero dizer, o Estado, em toda a sua estrutura, virou um campo fácil para aqueles que se especializaram em praticar o mal. Virou lugar-comum associar política e corrupção, de modo que, muitas vezes, custa até defender aqueles políticos que são verdadeiramente honestos e que não fazem da política apenas um meio para se darem bem na vida.
“Há algo de podre no reino da Dinamarca”, já dizia Shakespeare. Todos os dias recebemos notícias de corrupção, de políticos associados à máfia chinesa (e eu que pensei que isso já nem existisse mais, que fosse apenas uma realidade restrita ao mundo do cinema), tráfico de influência, desvio de verbas públicas. Há, de fato, algo de muito podre na vida política nacional. E não são poucos aqueles que escolhem a vida política para poderem praticar com mais segurança os seus crimes, pois sabem, terão foro especial, imunidade parlamentar e tudo o mais que se possa imaginar.
Rui Barbosa tinha razão em dizer que “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.” Não, isso não é exagero! Quem escolher viver pautado pela honestidade neste país corre um sério risco de não ser bem sucedido na vida nem nos negócios. Na política, então, nem se fala!
Foi Maquiavel quem primeiro percebeu que a ética política nada tinha a ver com a ética cristã, por exemplo. E foi, por isso mesmo, duramente criticado e, até, injustiçado. Antes de ser um “manual do político”, a sua obra clássica, “O príncipe”, é muito mais um antídoto contra os maus políticos.
São raras as pessoas de boa vontade que ingressam na política. Muitos se esquivam, outros simplesmente rechaçam veementemente a ideia de ingressarem na vida pública, deixando, dessa forma, a área livre para os maus, para os desonestos ou para aqueles que querem apenas tirar proveito pessoal, sem se importarem com o sentido último dessa atividade que, para Platão e Aristóteles era antes de tudo, uma arte. Tenho refletido bastante sobre essa questão nos últimos anos, e me perguntado: por que erramos tanto? O que há com o aparato burocrático para tão violentamente corromper e transformar (na verdade revelar) homens bons em maus?
Minha tese, no entanto, vai um pouco mais além. Não é a política que está corrompida, mas a sociedade no seu conjunto. Como vivemos numa democracia representativa, com o voto livre e universal, todos os que chegam ao poder, o fazem por meio do nosso voto. E mais: não se tratam de extraterrestres ou algo que o valha. São, alguns deles, nossos vizinhos, colegas de trabalho, parentes, enfim. O que há, então, para tamanha transformação?
A sociedade está podre. Todas as instituições exalam um cheiro fétido que reflete no que nos transformamos. Os valores éticos foram jogados no lixo. O que importa é o se dar bem em tudo. Mesmo as igrejas, que deviam ter a evangélica preocupação de infundir em cada um de nós os valores do Reino, estão mais preocupadas em promover curas duvidosas; oferecer a solução para os nossos problemas financeiros e conjugais, pregando uma teologia da prosperidade que não encontra o menor respaldo nos Evangelhos; querem, por fim, pregar um Céu aqui na Terra, esquecendo-se de que a principal missão é escatológica e que dos problemas humanos cuidamos nós, mas que para isso precisamos atuar guiados pelo Espírito de Deus.
A maldade campeia livremente em nosso meio e fingimos não ver. São poucos os que agem, que se põem contra, que gritam, protestam. É, por fim, preciso fazer frente ao mal. É necessário e urgente lutar para que os maus não governem o mundo, ainda que para isso seja necessário sairmos do nosso conforto e assumirmos o comando do leme, como timoneiros de um futuro onde fazer o bem não seja motivo de vergonha nem de fracasso.
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