A MULHER PELO AVESSO – por Tarzan Leão

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Essa moderna e opressora ditadura da beleza tem levado muita gente ao ridículo. Olho para determinadas mulheres que fizeram plástica ou encheram o rosto de botox e sinto uma forte e profunda tristeza. Puxaram daqui, repuxaram dali, e pronto, deformaram o próprio rosto, apagando a naturalidade e as expressões mais genuinamente humanas.

Ana Maria Braga, a famosa apresentadora de TV, se encaixa perfeitamente nesse perfil. De tanto recauchutar o próprio rosto, a gente já não sabe mais quando ela ri, chora, fica triste ou se alegra. Tudo é a mesma coisa. Vendo-a em close, tive a súbita impressão de que ela, apressada para apresentar o seu programa matinal, tivesse vestido o rosto às avessas, como algumas vezes fazemos com uma camiseta, por exemplo. Aliás, tenho uma amiga que, na tentativa de recuperar a juventude há muito perdida – e bota tempo nisso! – fez plástica, colocou botox, mas conseguiu ficar pior, muito pior do que era antes da tal correção de face. Dia desses, ao encontrá-la, comentei com um amigo: como alguém pode gastar tanto apenas para virar o rosto pelo avesso? Ele, claro, riu da minha maldade. Uma maldadezinha pequena, que na verdade não faz mal a ninguém, porém, reconheço, fui maldoso, sim. Cada um pode fazer do seu rosto o que quiser inclusive virar pelo avesso. Devo confessar, no entanto, que tenho uma enorme compaixão por essas pessoas que perderam o senso do ridículo e buscam as formas mais estrambóticas possíveis para tentar driblar a velhice ou a feiúra que lhe é própria.

A não menor ditadura da eterna juventude também está provocando estragos enormes. Ninguém mais quer ser velho. Os velhos ostentam uma juventude falsa, mentirosa e superficial. Os defensores da eterna juventude gostam de dizer que “a velhice está na cabeça”. Mentira. A velhice está no corpo. Às portas de completar 45 anos, já não tenho mais o vigor físico que tinha aos 20. Por nada fico cansado, não consigo mais passar uma noite inteira numa festa e trabalhar no dia seguinte, como fazia aos 18 anos. Com os 45 anos ganhei experiência, um pouco mais de conhecimento, quase nada de sabedoria e, principalmente, já não destilo tanto veneno nem muito menos me atiro em determinadas aventuras políticas como antigamente, até porque tenho certas responsabilidades, próprias de um pai de família.

Habituado a uma calvície que me acompanha e cresce desde os 22 anos, não me vejo, por exemplo, me submetendo a um transplante de cabelo, para corrigir essa deficiência capilar. Sou plenamente satisfeito com a minha idade? É claro que não! Os amigos que estiveram em minha casa no meu aniversário de 40, sabem muito bem o quanto sofri. Quisera eu ter um retrato, a exemplo de Dorian Gray, que pudesse envelhecer em meu lugar. Oscar Wilde entendeu muito bem a dor de ficar velho, e compôs a sua magistral obra, “O retrato de Dorian Gray”, onde reflete sobre a questão do Belo e da eterna juventude. Só que, na prática, a vida não é assim. A gente fica velho, aparecem rugas no rosto, a pele perde o seu viço, o corpo já não responde mais aos estímulos que o cérebro lhe manda, a memória falha. É este o ciclo da existência-no-mundo: nascer, crescer, envelhecer e depois morrer. “C’est la vie, mon ami, c’est la vie”.

O rompimento dessa sequência ou a busca de atalhos de nada adianta. Não altera o essencial. Já que não tenho alternativa, exijo o sagrado direito de envelhecer calmamente, com tudo aquilo que é próprio de quem fica velho; quero poder usar bengala – esse obsoleto instrumento foi abolido, por isso que tantos velhos andam caindo por aí –, ficar careca – bom, isso eu já sou –, os poucos cabelos que me restam branquearem, enfim, ficar velho. Ficar velho, porém, não é perder o vigor espiritual, o desejo de mudança, a vontade de sempre saber mais.

Um conselho pra finalizar: se um dia você resolver se submeter a uma cirurgia plástica ou a uma aplicação de botox, tenha cuidado: o seu médico pode aproveitar o ensejo e virar o seu rosto pelo avesso, lhe tirando todas as expressões faciais que são próprias de um ser humano, como o sorriso, a alegria, ou mesmo tristeza, ira, e tudo o mais.
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