A LUTA DE JACÓ – por Tarzan Leão

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Sempre fui um apaixonado pela Bíblia. Pelas histórias bíblicas em particular. Nunca consegui ler, por exemplo, a história de José sem me emocionar profundamente. Quando me perguntam o que Este Livro representa para mim, busco ser sempre muito simples e honesto em minha resposta: a Bíblia é, do princípio ao fim, um grande romance, uma história de amor, ou melhor, A História de Amor. A amada, inicialmente, é a comunidade judaica, mas que, depois do Cristo, estende-se a toda a humanidade; o Amado é Deus. E parte d’Ele a iniciativa de apaixonar-se. Essa relação terá altos e baixos, traições, brigas, açoites, ciúmes. Ah, o ciúme! Vocês não fazem ideia o quanto o nosso Deus é ciumento!

A partir do instante em que Ele apaixonou-se por Abrão, e que prometeu fazer dele um grande povo, não o deixou – a Abraão e ao povo judeu – mais em paz. E fez tudo o que era possível para que essa Aliança de amor não fosse quebrada, pois, “de fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 14).

A Bíblia, diferentemente de outros livros sagrados, é profundamente humana. E é essa humanidade do texto bíblico que mais me fascina. Pra se ter uma ideia, o conceito de primogenitura, tão caro ao judaísmo, será continuamente quebrado e, muitas vezes, por razões pouco justificáveis. De acordo com a Bíblia, “tanto a primeira cria de um animal, como os primeiros frutos das árvores deviam ser oferecidos ao Senhor no santuário, em agradecimento pelo dom da vida. A mesma lei se aplicava ao primeiro filho do casal: ele era considerado propriedade do Senhor (Ex 13,2; 22,29). Mas, como sacrifícios humanos eram severamente proibidos, os pais, depois de oferecer o menino no templo, o resgatavam mediante uma oferta material. Esse costume devia lembrar aos israelitas a noite do êxodo, quando Deus fez morrer os primogênitos dos egípcios, ao passo que preservou os filhos dos israelitas (Ex 12,29). Também Jesus, ao completar os oito dias para ser circuncidado, foi levado ao templo por seus pais, oferecido ao Senhor e em seguida resgatado (Lc 2,28; Ex 13,12). Ao filho primogênito cabiam os direitos de primogenitura, como dupla herança (Dt 21,17), supremacia entre os irmãos e chefia da família (Gn 27,29.40; 49,8). Porém, às vezes, como no caso de Jacó e de Judá (27,30-37; 49,4-8), este direito não foi respeitado”. Isso é fundamentalmente humano. E o mais estranho é que esses rompimentos da rígida tradição judaica terão, em sua totalidade, a cumplicidade do Eterno. Existe algo mais encantador? Assim agem os apaixonados: brigam, dizem impropérios, mas, depois perdoam, ainda que contrariando toda a lógica. Este é nosso Deus.

Jacó é um homem fascinante. Segundo filho de Isaac, Israel, como mais tarde será chamado, era irmão gêmeo de Esaú. Não bastasse usurpar a primogenitura do seu irmão, Jacó entra em luta corporal com um anjo – seria o próprio Deus? – e não o larga enquanto este não o abençoa. Depois de muitos anos sem ver seu irmão Esaú – 20 anos, segundo o texto bíblico –, Jacó vai ao seu encontro temendo ser assassinado por ele. Manda servos à sua frente com presentes para adoçar o coração do seu irmão. Antes, porém, “naquela mesma noite ele se levantou com suas duas mulheres, suas duas servas e seus onze filhos e passou o vau do Jaboc. Tomou-os, e os fez passar a torrente com tudo o que lhe pertencia. Jacó ficou só; e alguém lutava com ele até o romper da aurora. Vendo que não podia vencê-lo, tocou-lhe aquele homem na articulação da coxa e esta deslocou-se, enquanto Jacó lutava com ele. E disse-lhe: ‘Deixa-me partir, porque a aurora se levanta.’ ‘Não te deixarei partir respondeu Jacó, antes que me tenhas abençoado.’ Ele perguntou-lhe: ‘Qual é o teu nome?’ ‘Jacó.’ ‘Teu nome não será mais Jacó, tornou ele, mas Israel, porque lutaste com Deus e com os homens, e venceste.’ Jacó perguntou-lhe: ‘Peço-te que me digas qual é o teu nome.’ ‘Por que me perguntas o meu nome?’, respondeu ele. E abençoou-o no mesmo lugar” (Gn 32, 23-29).

A luta de Jacó é a luta de todos nós. E mais: nosso Deus, embora justo, é um Deus de misericórdia. E que devemos, a exemplo do grande patriarca, insistir naquilo que queremos. Lutar, se preciso for, com homens, com anjos e com o próprio Deus. Há algo, no entanto, que não podemos nos esquecer jamais: só Deus sabe o que é melhor para nós. Uma certeza nos fica disso tudo: que nossa vida só terá sentido quando estivermos com Deus, ou, em alguns momentos, até contra Deus. Mas, nunca sem Deus.
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