“A CAIXA DE PANDORA”, por Tarzan Leão

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Filósofos e contestadores são, via de regra, malditos em qualquer sociedade. Isso porque é sempre mais seguro varrer para debaixo do tapete as nossas mazelas do que verbalizar sobre elas. Por isso mesmo, transformamos em tabu tudo aquilo que possa provocar o menor desequilíbrio à nossa doce vida, ainda que os problemas continuem se perpetuando à nossa volta.

De fato, não é mesmo fácil olhar-se no espelho e enxergar os próprios limites, as rugas, os cabelos brancos que se propagam, os olhos que perdem o brilho, a flacidez dos lábios e o enrijecimento da pele. Não é à toa que tantos recorrem às cirurgias plásticas. Necessário se faz esconder os defeitos. Dissimulá-los. Camuflá-los para que os que estão próximos a nós não os vejam. O grande problema é que, assim como a mulher maquia o rosto para melhorar sua aparência, a sociedade também esconde suas mazelas para que ninguém as veja. Até que aparece o filósofo e, qual indiscreto paparazzo expõe a realidade tal lhe aparece.

Pandora foi enviada a Epimeteu, irmão de Prometeu, como um presente de Zeus. Prometeu, outra figura importante da mitologia grega – e que fora condenado a ficar 30 mil anos acorrentado no Monte Cáucaso, tendo seu fígado comido todos os dias por um abutre como castigo por ter roubado o fogo dos deuses e o presenteado aos homens –, alertou o irmão quanto ao perigo de se aceitar presentes de Zeus.

Epimeteu, no entanto, ignorou a advertência e aceitou o presente do rei dos deuses, tomando Pandora como esposa. Pandora levou uma caixa enviada por Zeus em sua bagagem. Epimeteu acabou abrindo a caixa, e liberando os males que haveriam de afligir a humanidade daquele dia em diante: a doença, o trabalho, a loucura, a mentira e a paixão. Esta é, em poucas linhas, a origem histórica para a expressão “caixa de Pandora” e que é utilizada para designar algo que gera muita curiosidade, mas que não se deve mexer, estudar ou mesmo falar, sob pena de vir à tona algo que faria melhor se ficasse oculto.

É assustador o número de gravidez na adolescência, assim também como nos estarrece saber que existe uma quantidade exorbitante de jovens envolvidos com o mundo das drogas. E o que faz a sociedade? A sociedade prefere fingir que tudo está bem, que nada de anormal está a acontecer. Porém, o filósofo, que não tem outro compromisso senão com a verdade, diz em alto e bom som: alguma coisa está fora de ordem e urge encontrar uma saída enquanto é tempo.

Ainda que nos últimos vinte anos tenha havido nos meios populares uma visível liberação sexual feminina, falar sobre sexo e virgindade continua tabu no seio das famílias. Esse não falar, no entanto, não tem diminuído o número de jovens que engravidam entre os 14 e 17 anos. Há casos, embora raros, de gravidez aos 9, 10 e 11 anos aqui em Paracatu. De modo que não escondo a minha tristeza quando vejo uma aluna minha engravidar aos 14 ou 15 anos. Dói ver uma vida que mal começou ser parcialmente cortada ao meio pelo nascimento de um filho, um filho que requer cuidados, atenção e, principalmente, dedicação. E o resultado é sempre o mesmo: interrompe-se o ano escolar, além de, quase sempre, cobrir os pais de desgosto e desespero.

Enquanto isso o assunto continua ausente das famílias, das escolas e das igrejas. Porque é melhor fingir que a atividade sexual está restrita ao casamento, que é mais prudente fazer de conta que ainda vivemos sob o domínio dos padrões da moral sexual do início do século XX, ou ainda, que não existe preservativo ou anticoncepcional, meios eficazes para evitar gravidez indesejada.

É fato, as drogas atingem hoje todas as camadas sociais. Mas, pouco falamos sobre o assunto. Há uma consciência velada de que sabemos exatamente onde reside o problema. Apenas paliativos são feitos para erradicar com o tráfico de drogas. Porém, nunca se vai ao fulcro da questão. Uma coisa é certa, esse modelo de política repressiva não venceu a luta contra as drogas. Ele perdeu, e perdeu feio. Aliás, chego a conjecturar que a “inteligência policial” e os governantes sabem muito bem o que e como fazer para erradicar o problema. Mas, pergunto, por que não agem de modo efetivo? Por que dezenas de milhares de jovens, sobretudo jovens, têm suas vidas ceifadas, destruídas pelas drogas?

Encerremos aqui estes assuntos. Melhor deixá-los quietos. A sociedade prefere varrer para debaixo do tapete os seus problemas. E o bom senso manda não abrir essa caixa de Pandora.

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