Para quê professor?

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Numa pesquisa realizada em algumas das maiores potências do mundo, os entrevistados tiveram que votar no profissional que eles consideravam o mais importante para o desenvolvimento da nação. Sem hesitar, a resposta surgia após alguns segundos de reflexão: o PROFESSOR!

É um paradoxo que na mesma semana em que o brasileiro comemora o dia dos professores, inúmeros deles estejam sendo vítimas de desvalorização. Desvalorização essa, que parte do aluno e atinge o sistema e a sociedade em geral.

Basta prestar atenção nas estatísticas, para perceber que os alunos buscam cada vez menos os cursos de licenciatura e pedagogia. Em 2007, o MEC divulgou que aproximadamente 70.507 brasileiros se formaram em cursos de licenciatura, o que representa 4,5% menos que em 2006. De 2005 para 2006, a situação chegou a ser mais complicada, a redução foi de 9,3%.

Vários motivos colaboram para o baixo interesse de se exercer a profissão. O primeiro deles, e o mais falado, é o baixo salário, que chega a ser menor ainda em alguns estados do país. O governo, que alega não ter recursos para pagar melhor seu corpo docente, deixa clara a idéia de que melhorar o ensino público, não é uma prioridade.

Outro motivo, e não menos relevante, é a violência crescente dentro das escolas. Atualmente, são comuns as notícias de professores violentados dentro das salas, ou ainda ameaçados. Com isso, surge uma relação de medo entre alunos e professores e uma situação prejudicial para todo o sistema educacional.

A falta de interesse dos alunos, é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos professores. A arte de lecionar se torna mais difícil e maçante quando se está de frente a um corpo discente desestimulado, sem vontade de aprender e progredir. Muitos alunos vão para as aulas por obrigação, outros em busca da merenda, e há ainda aqueles que encaram a escola como um parque de diversões. Vale ressaltar que esse fato não acontece somente em escolas públicas. O desinteresse para o aprendizado atinge tanto a rede pública, quanto a privada.

Há ainda outro fator fundamental para entender a desvalorização do professor. E por incrível que pareça, esse fator reside nele próprio. Não é difícil encontrar educadores que se aventuraram na profissão e não conseguem se adaptar. Com isso, se tornam amargos e secos. A didática é deixada de lado, e o fato de ensinar se torna pura questão de subsistência. Quando isso acontece, é fácil culpar somente o governo e a sociedade. A falta de recurso ou de um salário bom se tornam desculpas para não tentar, mesmo com todas as dificuldades, fazer o seu papel, ou ainda levar adiante o fino fio da esperança que ainda resta. É assim que surge a má qualidade da educação no que se refere ao conhecimento passado aos alunos e a antipatia dos mesmos pelos professores.

Não precisei ir muito longe para entender e absorver todo esse conjunto de fatores e acontecimentos citados. Durante minha vida escolar, mesmo em escola privada, pude presenciar fatos que me ajudaram a formar essa sólida opinião. E agora, um ano depois de concluir o Ensino Médio, abandonei um curso de Jornalismo para cogitar a idéia de me adentrar num curso de Letras. É claro que já ouvi inúmeras críticas. Colegas que repetem o mesmo discurso clichê de sempre: “Pra quê? Você quer ser professora?”. Engana-se quem pensa que fazer um curso de licenciatura é fácil. O grau de dificuldade é muito grande, e a carga de informações é equivalente e talvez até maior que muitos outros cursos. Basta observar a quantidade de pessoas que entram, e a quantidade que se forma. Tudo isso só me leva a consolidar ainda mais minha opinião: há muitas pessoas precisando de um professor para abrir-lhes a mente e sair desse mundinho medíocre de opiniões prontas e acabadas, formadas com idéias de senso comum.

Dizer o que pensamos de algo ou de alguém, permite que sejamos reconhecidos pelas nossas idéias. Idéias que requerem cobrança de coerência. Nossas opiniões podem gerar agrados ou desagrados, geralmente quando são críticas e autênticas, geram grandes instabilidades, pois mexem com o espírito de mesmice das pessoas. Dessa maneira, o professor aparece na figura de medianeiro na construção do conhecimento. Conhecimento que permite uma maior compreensão e intervenção no mundo em que vivemos. Se construirmos muros ao invés de pontes, nossos conhecimentos se isolarão, perdendo-se enfim.

Terminando com um sábio trecho de Paulo Freire: "Sou professor a favor da esperança que me anima, apesar de tudo. Sou professor a favor da boniteza de minha prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador pertinaz, que cansa mas não desiste.”

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