Era uma vez uma marionete que fazia piruetas, algumas até razoáveis, dependendo de quem estivesse a dar as ordens, claro. Longe do serviço convencional, andou praticando boas obras. Na verdade estava plantando para colher depois, e a colheita seria farta. Não se sabe se tinha consciência dos seus atos, como acontece com todas as marionetes. Mas aprendera a falar – embora nunca soubesse o que estava falando – e a ler (lia mal, mas lia).
Certa vez, o distinto público convidou a marionete em questão para apresentação num teatro diferente, onde a disciplina não era tão rígida. Esperta, e vendo ela que a "bocada" era melhor, aceitou a proposta. Logo contratou outro comandante, agora um manipulador, porque o novo ambiente era como uma vitrine: não dava, conforme se verá, para ficar enganando o tempo inteiro.
No começo, a marionete até que fazia umas piruetas engraçadas e falava palavras bonitas, que soavam falsas, mas dava para tapear. Mas quando o manipulador secreto fazia um gesto mais brusco, o fantoche soltava coices e murros monumentais, sem importar-se se estava atingindo pessoas, princípios ou valores.
Um dia, a marionete ouviu dizer que, no passado recente, a sua pátria fora uma ditadura. Quem tinha algum poder, especialmente se fosse polícia, podia bater, torturar, matar, encobrir falcatruas, banir. Em sua ignorância, decidiu que, se não chegasse a tanto, pelo menos não toleraria essas bobagens de "críticas e liberdades comuns em Estado Democrático de Direito", fossem elas fundadas ou não. Distorcendo a máxima do saudoso técnico de futebol Telê Santana – este sim, um ser ético – concluiu que a melhor defesa era o ataque.
Assim, quando da primeira crítica, de imediato ruiu o castelo de areia, e o ídolo demonstrou ter os pés de barro. Caiu a máscara da falsidade e o caldo entornou: marionete e manipulador perderam as estribeiras. Golpes mais desastrados fizeram com que costumazes coices fossem disparados para a esquerda e para a direita. O ator lia um texto até bem redigido, mas tropeçava nas palavras, simplesmente porque elas falavam de uma grandeza que o intérprete nunca conhecera. E, quando fugia do script, soltava tolices de toda ordem. Estudara sim, mas nada aprendera…
Para encerrar a comédia, uma cena tragicômica: o manipulador secreto, na tentativa de fazer com que a marionete parecesse erudita, colocou no texto nomes de autores estrangeiros. A marionete, coitada, quase destroncou a própria língua!
Ah, que saudade do Dente de Lobo!
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