Evaristo Mascarenhas de Paula, diretor de marketing e vendas da Trip afirmou em entrevista à Revista Isto é Dinheiro, que vários aeroportos do interior do Brasil não tem condições de atender a expansão planejada e esperada do setor aéreo.
Paracatu foi uma das cidades citadas por Mascarenhas durante a entrevista.
VEJA A MATÉRIA DA REVISTA ISTO É NA ÍNTEGRA
Aviação regional segue o fortalecimento das economias do interior do País, cresce acima da média nacional e escancara a necessidade de novos investimentos
A cena composta por saguões lotados, passageiros mal acomodados e improvisos na gestão dos aeroportos brasileiros se tornou sinônimo das dores de crescimento decorrentes da forte expansão da economia nos últimos anos. Antes restrito às capitais, o boom da aviação tem mostrado sua força no interior do País, onde o ciclo de prosperidade tem levado as companhias aéreas a investir em novas rotas para explorar o rentável filão da aviação regional.
A recente interiorização da malha aérea já produz números que impressionam. Se, na média nacional, o número de passageiros cresceu 21,2% em 2010, em várias cidades médias, o crescimento superou os 35%. Trata-se de um fenômeno que no setor aéreo se convencionou a chamar de classe “I”, o viajante do interior disposto a pagar para voar – e que não quer mais dirigir um automóvel – até seu destino final. O setor lidera o crescimento, que só não é maior porque os terminais do interior não comportam a demanda crescente ou não têm estrutura para receber aviões de carreira.
As rotas regionais sempre fizeram parte da aviação brasileira, embora a malha de cidades atendidas por voos regulares tenha encolhido de 189 para 128 localidades, entre 1999 e 2008, ano em que a Azul entrou no mercado. Ao escolher Viracopos, em Campinas (SP), como seu centro de operações, a nova empresa do setor colocou o interior no mapa das rotas comerciais. Desde então, as rotas operadas regularmente subiram de 582 para 838, enquanto o número de cidades atendidas permaneceu praticamente estável.
Ou seja, há cada vez mais ligações entre os aeroportos em operação. Desde março, a Azul incorporou quatro novos destinos em São Paulo, um no Paraná e outro em Minas Gerais. Todos a partir de Viracopos, onde o número de passageiros disparou 61,4% em 2010. “A chegada de voos regulares a essas regiões contribui para o desenvolvimento econômico do País, gerando emprego e renda”, disse à DINHEIRO Paulo Nascimento, diretor comercial e de marketing da Azul.
A participação das empresas regionais no mercado ainda é pequena, mas elas vêm tirando espaço das grandes (veja quadro à esq.). Entre 2009 e abril deste ano, a fatia da Azul aumentou de 3,67% para 7,71%. A Trip, que voa para 85 destinos, cresceu de 1,5% para 2,59%. No ano passado, suas receitas engordaram 66,2%. Neste ano, devem superar pela primeira vez a casa do R$ 1 bilhão. “Surgimos com o objetivo de ser regionais e hoje temos a maior malha aérea do Brasil”, diz Evaristo Mascarenhas de Paula, diretor de marketing e vendas da Trip.
O forte crescimento da aviação regional escancara a carência de investimentos no setor. Aeroportos como o de Ribeirão Preto já mostram sinais de saturação. Só em 2010, quatro companhias lançaram rotas para a cidade, uma das mais ricas do interior paulista, o que levou a um aumento de 43,2% no número de passageiros. Há também problemas para expandir a malha aérea. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) tem sido forçada a negar a concessão de novas rotas quando os aeroportos não atendem aos padrões mínimos de segurança, como ausência de caminhões e brigadas contra incêndios e aparelhos de raios X para passageiros e bagagens.
“Queríamos voar para Paracatu, em Minas Gerais, mas não há condições”, diz Mascarenhas, da Trip.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Transporte Aéreo Regional, são necessários R$ 3 bilhões para adequar a operação de 180 aeroportos e aeródromos brasileiros. Criada em março, a Secretaria de Aviação Civil (SAC) já começou a mapear a demanda nos aeroportos regionais. Entre as medidas previstas pela SAC, figuram o aumento de participação de empresas estrangeiras no capital das companhias, dos atuais 20% para 49%, além do reforço em linhas de crédito para aquisição de aeronaves.
Também não está descartada a entrega de aeroportos da Infraero para a gestão de Estados e municípios, que poderiam concedê-los à iniciativa privada. O Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo iniciou estudos para privatizar parte dos 31 aeroportos que administra. “Vamos aprimorar as parcerias com Estados e identificar as necessidades de investimentos nesses aeroportos regionais”, disse à DINHEIRO Wagner Bittencourt, ministro da SAC.