Noroeste será o maior produtor de soja de Minas Gerais

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A Região Noroeste de Minas Gerais, assumirá, em 2011, o posto de maior produtora de soja do Estado, ultrapassando o Triângulo Mineiro. De acordo com previsão de safra da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faemg), a produção do Noroeste deverá saltar das 2,9 milhões de toneladas colhidas em 2010 para 3,1 milhões neste ano, um aumento de 6%.

Essa evolução é reflexo de ganhos de produtividade, já que a área plantada permaneceu praticamente inalterada. Cresceu de 1,02 milhão de hectares para 1,03 milhão, expansão de apenas 1%. Pela estimativa da Faemg, o Noroeste, que detinha 33% da produção mineira de soja no ano passado, contra 38% do Triângulo, atingirá os 37%, enquanto o atual primeiro colocado ficará com 36%.

Os próprios produtores de Minas apostam na expansão da agricultura. A Família Condé (FOTO) comprou em leilão armazéns com capacidade para 720 mil sacas e quer prestar serviços a antigos e novos vizinhos. O espaço é três vezes maior que o necessário para a produção dos 5 mil hectares cultivados entre Paracatu e Unaí. “Quando chegamos aqui, 27 anos atrás, não existia quase nada, só terra. Hoje não falta comprador de soja e quem alcançou escala pode se estruturar”, afirma Olavo Condé, que migrou de Rancho Alegre (PR) três décadas atrás. Seus filhos não planejam deixar a região, pela possibilidade de expandir os negócios dos pais e tios.

Conforme a entidade, outras culturas tradicionais na região também crescerão em 2011, como o algodão. A produção sairá de 56 mil toneladas de caroço, em 2010, para 88 mil toneladas – variação de 58%. A área plantada subirá de 15 mil hectares para 24 mil, um incremento de 60%. “A produção estava em ritmo de queda nos últimos anos, mas o aumento do preço no mercado mudou essa trajetória”, observa o coordenador da assessoria técnica da Faemg, Pierre Santos Vilela.

O feijão do Noroeste mineiro também ganhará fôlego. Pela estimativa da entidade, a primeira – e principal – safra do produto (verão), que responde por cerca da metade da produção total, atingirá 245 mil toneladas neste ano, ante 215 mil em 2010, evolução de 14%. No mesmo período, a área plantada evolui de 195 mil hectares para 215 mil. “A produção de grãos é vocação tradicional da região. Neste momento, está favorecida pelo mercado, principalmente de soja e algodão”, afirma Vilela.

A safra de grãos no município de Unaí e região poderia ser ainda maior, se não fossem gargalos de difícil solução, que travam investimentos de produtores. Um deles é o escoamento da soja para o Porto de Tubarão, em Vitória (ES). Uma das principais reivindicações dos agricultores é a construção de um ramal ferroviário ligando Unaí a Pirapora (Norte de Minas), passando por Belo Horizonte, pois já existe a malha da Ferrovia Centro-Atlântica ligando Pirapora até o Espírito Santo.

O custo logístico atual desestimula, inclusive, as exportações de soja. Para piorar, o Porto de Vitória está sobrecarregado com o minério de ferro. Já o Porto do Rio de Janeiro, que também poderia contribuir com a logística, exporta de tudo, menos produtos agrícolas. Hoje o escoamento da produção é feito por caminhões, o que encarece o frete.

De acordo com o diretor de Agricultura do Sindicato dos Produtores Rurais de Unaí, José Américo, estender a ferrovia até esse município ou Paracatu seria de “grande ajuda” para a região. Segundo ele, isso contribuiria para ampliar ainda mais a produção. Não por meio da criação de áreas novas para plantio, pois há pouca disponibilidade de terra, mas proporcionando maior sinergia com pecuaristas extensivos, de leite e corte. “Temos maquinário e tecnologia. Se o Governo federal aumentasse os subsídios ao negócio, por exemplo com juros menores, ou definisse uma política de longo prazo para o setor, as coisas seriam diferentes”, acrescenta Américo.

Produção de cana cresce gradativamente

Mas nem só de grãos vive a Região Noroeste do Estado. Nos últimos 15 anos, cresce gradativamente a produção de cana-de-açúcar, destinada à produção de álcool e açúcar. Segundo o presidente do Sindicato Rural de João Pinheiro e Brasilândia de Minas, Geraldo Porto, enquanto a pecuária recua, aumenta o plantio de cana e eucalipto. “Estes produtos têm incentivo do Governo federal, por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o que não ocorre com a pecuária”, lamenta.

A presença de usineiros é crescente nesses dois municípios. Conforme o dirigente sindical, existem hoje quatro usinas instaladas apenas em João Pinheiro, duas delas produzindo álcool e as outras com utilização parcial da capacidade. “Há ainda outros três projetos em andamento para a cidade e três para Brasilândia, que ainda não tem usina”, afirma Porto. Espaço é o que não falta para satisfazer o apetite de usineiros interessados em atuar na região. De acordo com ele, existem 2,5 milhões de hectares de terras ociosas para o plantio de cana e eucalipto.

Prós e contras

Os pontos fortes do Noroeste de Minas Gerais para a produção de grãos não dispensam uma avaliação de fatores como clima e estrutura de serviços local.

– Logística – A mil quilômetros do Porto de Vitória, a região pode exportar a produção de grãos por ferrovia, com custo reduzido. As estradas de asfalto também vêm sendo reformadas, para suportar tráfego maior de caminhões.

– Viabilidade – Os produtores locais alcançam médias de 3 mil quilos/ha de soja e recebem de R$ 1 a R$ 2 a mais por saca com os investimentos no terminal de embarque de Pirapora e nas ferrovias.

– Clima – As regiões mais altas são as apontadas como as mais produtivas pelos produtores mineiros. Eles afirmam que o Cerrado e as pastagens das regiões baixas ainda não foram abertos porque há risco de falta de chuva.

– Em desenvolvimento – A produção de grãos traz esperança de progresso para municípios como Pirapora, que, apesar de ter sido um centro de transporte no passado, precisa melhorar sua estrutura básica (saneamento, saúde, transporte, serviços).

– Mercado imobiliário – O comércio de terras é pouco estruturado, com preços variando de R$ 1 mil a R$ 3 mil por hectare na mesma região (para áreas de pastagem degradada). As áreas agrícolas disponíveis são raras. Os coordenadores do programa Pró-Noroeste temem que a especulação espante investidores de outras regiões e prejudique a expansão da produção agrícola.


José Rocher – Gazeta do Povo
XMCred Soluções Financeiras
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