* Carlos Lima
Funcionava ali vizinho à atual ponte que liga os bairros Arraial dos Angolas (chamava-se assim!) e o Bairro Paracatuzinho, o antigo Matadouro Público Municipal, estabelecimento voltado ao abate de bovinos. A Lei que autorizara a sua construção fora a de nº 127 de 5 de Agosto de 1912, assinada pelo então Agente Executivo Municipal Samuel Rocha, conforme publicação existente no Jornal Folha do Povo daquele mesmo mês e ano.
Alguns anos antes, porém, já havia reclamação sobre as condições insalubres quando o assunto era o abate de rezes no município de Paracatu: “não tem logar[sic] próprio para se matar uma rez, acontecendo que já se perderam algumas, devido as águas do monte que escoam para dentro do matadouro público, e bem assim muitas goteiras que no correr, vão lavando a carne combinadas com o sangue apodrecido, sem que haja meio de livrar-se disso”, relato este extraído de um abaixo assinado e protocolado junto à Câmara Municipal em 06 de março de 1899.
Editorial publicado na primeira página da Folha do Povo, de 03 de Agosto de 1914, identifica e caracteriza o espaço destinado ao corte de “carne verde”em Paracatu em tempos anteriores à construção do Matadouro Público: “Nos monturos, é sabido habitam os agentes de todas epidemias; e a carne que comemos, além do contacto com o maior de todos os monturos locaes, que é o curral d’El-Rei, é conduzida para os açougues sem o menor cuidado, para evitar que o pó das estradas e das ruas, vehiculo [sic] de micróbios pathogenicos, se deposite sobre ella, e a transforme em collector de quanta moléstia haja por ahi”.
Ainda naquele mesmo editorial da Folha do Povo, menciona-se o estágio das obras em agosto de 1914: “já se acham muito adiantadas. Quase concluídas estão as casas do administrador e de matança, os curraes e mais serviços a cargo do Sr. Leon Laboissiére, que os arrematou depois de se abrir a necessária concorrência, em hasta pública”.Teriam trabalhado naquela edificação pública pelo menos 8 operários durante 4 meses, aproximadamente, reza o documento denominado “Quadro dos operários que trabalharam no serviço do Matadouro” (CÂMARA MUNICIPAL, 1914).
Documentos existentes no acervo do Arquivo Público de Paracatu reforçam ainda a existência de pelo menos dois estabelecimentos privados voltados para o abate de bovinos e suínos no município: O Frigorífico Paracatu Ltda, registrado em 1963 junto à Comarca de Paracatu por seus sócios-proprietários Geraldo Naves Aguiar e Epitácio Cardoso Naves, inclusive com filial em Brasília, no Distrito Federal (Não há informações sobre a localização exata da sede), e o Matadouro São Marcos Ltda, registrado em 1964 junto à comarca local, pelo mesmo Sr. Geraldo Naves Aguiar e outros sócios, no endereço da Rua do Cortume.
Décadas mais tarde, O Matadouro Municipal ganharia novos espaços e endereço, conforme depoimento do então Prefeito Diogo Soares Rodrigues (o Diogão) ao Jornal Mensageiro do Cerrado em sua edição de fevereiro de 1985: “O matadouro foi iniciado na administração anterior, teve algumas alterações no seu projeto inicial, visando ampliá-lo, e agora será concluído. Poderão ser abatidos 60 bovinos e 40 suínos diariamente. O novo matadouro se localiza às margens do riacho Espírito Santo, já quase na confluência do Córrego Rico”. Esse equipamento público, conforme informações colhidas junto ao pesquisador Eduardo Rocha (2020), fora concluído pelo Sr. Hilário da Silva Neiva na gestão do Prefeito Arquimedes Borges (1989-1992) e nesse período transferido à iniciativa privada sob a forma de concessão.
Do antigo matadouro, outrora estabelecido às margens do Córrego Rico (início da ladeira do Arraial D’Angola) e que servira por décadas à população no fornecimento de carnes, restara a casa do Administrador e o amplo terreno (ambos com intervenções!), que hoje abriga a frota de veículos e máquinas da administração pública municipal.
(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é personalorganizer. Elaborou este artigo a partir de suas pesquisas nos fundos documentais do Arquivo Público de Paracatu – MG.
REFERÊNCIAS
CÂMARA MUNICIPAL DE PARACATU. Abaixo-assinado requisitando um matadouro para Paracatu. 6mar. 1899.3 fls.
CÂMARA MUNICIPAL DE PARACATU. Quadro dos operários que trabalharam na construção do matadourode Paracatu. 5 dez. 1914. 1 fl.
COMARCA DE PARACATU. Registro da firma Frigorífico Paracatu Ltda. 15 Abr. 1963. 3 fls.
COMARCA DE PARACATU. Registro da firma Matadouro São Marcos Ltda. 2 Set. 1964. 3 fls.
FOLHA DO POVO. Paracatu, p. 3. 25 Ago. 1912.
FOLHA DO POVO. Paracatu, p. 1. 30 Ago. 1914.
MENSAGEIRO DO CERRADO. Paracatu, p. 3. 17 Fev. 1985.
Agradecemos ao pesquisador Eduardo Rocha, pelas informações adicionais sobre as instalações mais recentes do Matadouro Municipal, hoje Frigorífico Paracatu.
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