A escola rural na Paracatu do século passado

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Por: Carlos Lima (Arquivista)
 
Custodia-se no Arquivo Público Municipal de Paracatu valoroso acervo composto, dentre outros,  por registros centenários e de natureza escolar tais quais relatórios, provas, matrículas e boletins de alunos da Zona Rural do município, inclusive dos distritos de Guarda-Mor, Vazante, Rio Preto (atual Unaí) e Sant’Anna [sic] dos Alegres, hoje João Pinheiro.
O contato com a nostálgica papelada pode levar o consulente ao boletim do 2º trimestre da Escola Rural Municipal do Povoado de São Sebastião, assinado pelo então Professor Francisco Rodrigues d’Affonseca em 4 de julho de 1908, que faz referência à crescente evasão escolar naquele ano: 11 alunos freqüentes de um total de 29 matriculados no trimestre!. Sobre aquele triste quadro, ele relata: “Continua a infrequência dos alunnos [sic] matriculados e isto devido à falta de amor à instrução de certos pais de família deste povoado, que de modo algum tentam educar os seus filhos”.
A documentação é por de mais abrangente, inclusive, com relação aos distritos de Paracatu. Em 15 de fevereiro de 1909, por exemplo, instalava-se a Escola Municipal do sexo masculino de Sant’Anna [sic] dos Alegres (João Pinheiro.), então distrito de Paracatu, na presença do 1º Juiz de Paz Major Spiridão Simões da Cunha, o respectivo professor João Baptista Franco, além de outras autoridades e 19 alunos matriculados, conforme termo constante do acervo.
Em relatório emitido em janeiro de 1939 para assinatura do então Prefeito Romualdo Ulhôa Tomba (não está assinado, embora sirva de referência) constatar-se-ia a existência de pelo menos 18 Estabelecimentos de ensino (3 estaduais e 15 municipais) na zona rural. A Escola da sede do distrito de Garapuava (hoje pertencente a Unaí) era estadual e localizava-se, de acordo com o documento, a 204 Km de Paracatu.
Por meio de uma ata escolar, redigida provavelmente na década de 1950 pela Sra. Francisca Gomes dos Santos, descobre-se que o Dr. Sérgio Gonçalves de Ulhôa, que dá nome a uma das principais ruas de Paracatu e também a uma escola estadual (ambas no Núcleo Histórico), também fora homenageado ao ter seu nome emprestado à escola localizada na zona rural do Indaiá. O documento registra a seguinte informação: “No dia 17 de março abri as aulas da escola rural do Indaiá. A qual se achou presente 14 alunos; tendo matriculados 30, mas, não podendo comparecer todos, por motivo de serviço de roças, plantação de feijão e vigiações [sic]de arroz”.
Outro achado de destaque é uma planilha manuscrita datada de 19 de fevereiro de 1951, assinada pela então professora Zenóbia Vilela Loureiro, em que se constata a realização de um curso intensivo para 36 professores e candidatos ao cargo das escolas da zona rural. O Grupo Escolar Afonso Arinos fora a sede daquela importante capacitação.
Também eram comuns, no século passado, as  promoções de classe dos alunos, a exemplo da que se encontra registrada em documento datado de 29 de Novembro de 1951, proveniente da Escola da Fazenda Canto, cujos 15 alunos da respectiva unidade passariam então aos 2º e 3º anos.
Entre as preciosidades identificadas no acervo, encontram-se ainda as avaliações aplicadas em 20 de novembro de 1954 pela Professora Nair das Virgens Ferreira na Escola existente na Fazenda Engenho do Padre. Elaboradas e disponibilizadas no formato manuscrito (certamente, não havia por alí um equipamento reprográfico!), trazem de forma muito rústica, porém não menos instrutiva, até o desenho do mapa das regiões de Minas Gerais para que os alunos preenchessem com os nomes dos estados limítrofes.
O acervo do ensino escolar rural do município de Paracatu constitui-se, destarte, de uma relevante fonte de pesquisa e guarda consigo considerável caráter probatório, vez que não raro é consultado por diversos cidadãos que nele procuram uma comprovação de seus vínculos, pelo menos em um dado momento de suas vidas, com o campo.
 
(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é personal organizer. Elaborou este artigo a partir de suas pesquisas nos fundos documentais do Arquivo Público de Paracatu –MG.
 
REFERÊNCIAS
CÂMARA MUNICIPAL DE PARACATU. Boletim n. 2 do 2º trimestre da Escola Rural Municipal do sexo masculino do Povoado de São Sebastião. 04 jul. 1908. 1fl.
CÂMARA MUNICIPAL DE PARACATU. Termo de instalação da Escola Municipal do sexo masculino de Sant’Anna dos Alegres. 15 fev. 1909. 1fl.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PARACATU. Relatório de Estabelecimentos de ensino na Zona Rural. Jan. 1939. 2fls.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PARACATU. Ata escolar redigida pela Sra. Francisca Gomes dos Santos na escola da Zona Rural do Indaiá. [1950?]. 1fl.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PARACATU. Curso Intensivo para Professores rurais do município de Paracatu realizado pelo Grupo Escolar Afonso Arinos. 19 fev. 1951. 1fl.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PARACATU. Documento proveniente da Escola do lugar denominado Canto. 29 Nov. 1951. 1fl.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PARACATU . Avaliações aplicadas pela Professora Nair das Virgens Ferreira na Escola existente na Fazenda Engenho do Padre. 20 nov. 1954. 1fl.
PREFEITURA MUNICIPAL DE PARACATU . Roteiro para inspeções escolares. [19–]. 1fl.
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