Sonho recorrente

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Márcio José dos Santos
Eu tenho sonhos recorrentes. Segundo a psicologia, ter sonhos repetitivos é um sinal de que o inconsciente está nos alertando para evitar uma situação. Se a gente não presta atenção ou não entende o seu recado, ele nos enviará mais sonhos, com a mesma mensagem.
Neste momento, um desses sonhos recorrentes me chamou a atenção: estou dirigindo um carro, outras pessoas dentro do carro, e procuro chegar ao centro da cidade. Entretanto, os caminhos pelos quais eu dirijo me levam cada vez mais distante do objetivo, entro por ruas cada vez mais intransitáveis e perigosas, complicadas. Isto aumenta a minha ansiedade e a das pessoas que estão comigo. Tento manter a calma, refazer o caminho, mas penetro em ruas tão esburacadas que o carro não consegue passar. Forço a barra, volto, viro, mas constato que estou cada vez mais distante de onde eu e os outros queremos chegar.
Será que esse sonho é uma tentativa do meu cérebro reorganizar as suas conexões? Será que a minha mente está buscando avaliar as suas alternativas de escolha? Ou será que a minha alma está querendo dizer que não estou seguindo por caminhos que deveriam me levar ao objetivo que me importa atingir? Há variadas opiniões sobre os sonhos, mas o importante é entender que se trata de uma linguagem que se expressa em metáforas.
Uma das características da minha personalidade é a pouca paciência, a luta para resolver tudo de imediato. Como no sonho recorrente, eu continuo dirigindo sem parar, dirijo ansiosamente para chegar a uma meta, sentindo que o tempo é cada vez mais escasso e ao mesmo tempo sabendo que cada escolha que faço escasseia ainda mais o tempo que disponho e me distancia de onde quero chegar. Mas não paro, não desço do carro para pedir orientação a quem me possa dar. É uma luta inglória!
Este sonho me remete ao ensinamento de Chuang Tzu, de que "você nunca encontrará a felicidade, a não ser quando cessar de procurá-la". Parece existir aqui um paradoxo, mas os paradoxos muitas vezes guardam verdades que se ocultam à crença compartilhada pela maioria: “O Tao se obscurece quando os homens  compreendem apenas um, dentre um par de opostos, ou se concentram
apenas num aspecto parcial do ser.” 
E, embora seja paradoxal, este ensinamento não é pessimista. Ele não prega o afastamento de uma existência intensa, ativa, humana, para a inércia e o quietismo. Está apenas afirmando que a felicidade pode ser encontrada, mas apenas pela não-procura e pela inação. Pode ser encontrada, mas não por meio de um sistema ou de um programa.
Imerso numa racionalidade azeda e corrosiva, preocupamo-nos com a busca da felicidade, fazendo planos, estipulando metas, com a vista presa ao futuro. Mas a felicidade parece estar na ponta do arco-íris, quando ansiosos caminhamos em direção a ela, percebendo que ela se afasta, inalcançável. No entanto, somos felizes quando vivemos o presente, despreocupados e livres, e não procuramos transformar a vida em uma meta. A vida não é uma meta!
Há um ensinamento de Jesus que, aparentemente, se confronta diretamente com o taoísmo; “Buscai e achareis”. Digo aparentemente porque, para mim, o significado moral desta máxima é: buscai a luz que vos clareie o caminho e a achareis. O significado material é, obviamente, outro.
Porém, há dois outros ensinamentos evangélicos que são também paradoxais. “Digo-vos, em verdade, que, se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não entrareis no reino dos céus” (Mateus, 18). O outro, na poética passagem evangélica “Observai os pássaros no céu”, em que Jesus afirma: “Assim, pois, não vos ponhais inquietos pelo dia de amanhã, porquanto o amanhã cuidará de si”. Ora, se para entrar no reino dos céus (suprema felicidade) é preciso se converter e tornar criança, isto significa ser espontâneo, não premeditado, não inquieto pelo dia de amanhã, despreocupado de planos conscientemente estabelecidos e não se afainar numa busca deliberadamente organizada da felicidade, exatamente conforme ensina Chuang Tzu.
A luta termina quando a gratidão começa: “Você não consegue encontrar aquilo pelo qual está brigando, mas pode criá-lo. E o ponto de partida da criação é a gratidão. Obrigado, Deus, por me ajudar a saber que tudo o que procuro está vindo para mim agora. Obrigado, Deus, por me permitir sentir, agora, a paz que vem com gratidão pelo que é, substituindo o desejo pelo que não é. Obrigado por me trazer o entendimento de que, daquilo que é, vem tudo o que agora não é, mas certamente será. Deixe-me ficar, então, naquilo que é.” (Neale Donald Walsh)
 

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