Tragédia no Museu Nacional: Um retrato da irrelevância do Patrimônio Histórico

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Tragédia no Museu Nacional: Um retrato da irrelevância do Patrimônio Histórico no Brasil


O incêndio que destruiu o imponente prédio do Museu Nacional e seu incomensurável acervo de história natural e antropológica escancarou para o mundo o grau de desprezo das autoridades competentes na formulação e implantação de políticas públicas destinadas à proteção de acervos museológicos, bibliográficos e arquivísticos pelo Brasil à fora.
A catástrofe “patrimonial e histórica” ocorrida no Rio de Janeiro no último domingo (02) foi marcada especialmente pela devastação de grande parte do prédio com arquitetura neoclássica e pela consumição de pelo menos 90% de todo acervo ali conservado até se transformar em cinzas. Após o sinistro e com possibilidades cada vez mais remotas de restauração do que resistiu ao fogo, as autoridades já sinalizam com a liberação de verbas e a atenção outrora almejadas, mas nunca alcançadas pelo Museu Nacional.
Fato é que as propostas de investimento em preservação do patrimônio histórico e cultural nem sempre fizeram parte da pauta prioritária das ações governamentais e das políticas de Estado e por isto, resultam em tragédias ditas anunciadas como a que aqui se trata. Constata-se que na grande maioria dos Museus, Bibliotecas, Arquivos e conjuntos de edificações de valor histórico sequer há um plano emergencial contra incêndios.
Algumas medidas de prevenção e combate a esse tipo de sinistro deveriam ser pré-requisitos para a liberação de alvarás de funcionamento de instituições que se propõem a abrigar acervos, como por exemplo, a instalação de aspersores anti-incêndio, hidrantes, saída de emergência, treinamento de funcionários quanto ao manuseio correto de extintores, formação de brigadas de incêndio, entre outros itens.
Aquisições de maior envergadura que merecem ser cogitadas, ainda que estejam além da realidade orçamentária da maior parte das instituições custodiadoras de documentos e peças afins, são as chamadas salas e arquivos-cofre, que, dentre outras qualidades, são à prova de incêndios. Em 2012, a Universidade de Brasília adquiriu por R$ 3,5 milhões uma sala-cofre para abrigar com segurança o conjunto de dados e informações (Data Center) produzidas e armazenadas por aquela academia.
Outro caminho que necessita ser perseguido e trilhado urgentemente pelos órgãos que preservam e expõem acervos em seus mais variados suportes é a digitalização, que embora seu produto final não possa substituir as fontes originais em sua integralidade de caracteres, ao menos possibilita a geração de um representante digital (imagem), que garante a continuidade da pesquisa e o acesso virtual pelos interessados. Modernas tecnologias como o Google Street View possibilitam ao internauta uma visita remota ao interior de alguns museus e exposições.
É bem verdade que minimizar os riscos capazes de resultar em perdas irreparáveis, como a que “matou” o Museu Nacional e praticamente, todo o seu repositório memorial e científico, não depende simplesmente de boas intenções tampouco se limita à confecção de laudos técnicos que não raro terminam engavetados, mas sim e principalmente, de uma legislação robusta e eficaz quanto à consecução de parcerias e a disponibilização de mais recursos e sua correta destinação final a que se destinam.
 
(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projeto e é consultor em organização de arquivos e memória empresarial.
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