219 anos de Paracatu e sem água para comemorar

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“Muitos estão querendo mega show no aniversário da cidade, e eu só quero água na minha torneira”, expressou em tom de desabafo e de insatisfação uma internauta numa popular rede social aquilo que está entalado na garganta de muitos cidadãos, que sequer tem água para suas necessidades básicas, e cujo questionamento, demonstra ainda boa dose de razão e de bom senso, com relação à realização das festividades em meio à maior crise hídrica da qual se tem notícia.
Às vésperas dos seus 219 anos (20 de outubro), que serão comemorados a trancos e barrancos a partir do próximo dia 19 face ao grave desabastecimento de água, o município de Paracatu amarga aquela que já é denominada por alguns como uma “tragédia anunciada”, fruto da incompetência de quem gerenciou o sistema de fornecimento hídrico até chegar a seu estado caótico, da arrogância capitalista que em detrimento do interesse coletivo priorizou a produção de insumos, matérias primas  e outros gêneros, e do excesso de confiança por parte das autoridades, que deixaram o barco seguir à deriva sem acautelar-se com o horizonte sombrio anteriormente previsto por alguns.
Em sua fala da semana passada em que fez uso da tribuna da Câmara Municipal para discorrer sobre esse alarmante problema, o biólogo e ambientalista Antônio Eustáquio Vieira, mais conhecido como Tonhão do Movimento Verde, lembrou a todos que desde 2015 os dados relacionados à malha hídrica local já apontavam para um futuro desabastecimento em Paracatu, o que lamentavelmente se constatou devido a não adoção de programas e outras medidas que minimizassem o caos estabelecido na cidade.
Notadamente nos bairros mais elevados, passam-se em média pelo menos 4 dias sem que a água chegue às torneiras, o que tem privado muitas famílias do acesso a esse bem essencial, muitas delas sem a menor condição de comprar e/ou armazená-lo ou mesmo locomover-se até a COPASA para encher galões, como já fazem algumas pessoas. Bem certo é que as faturas da referida Companhia continuam a virem e mesmo sem o abastecimento costumeiro, paga-se sem o devido desconto (sem contar nos casos de valores exorbitantes!) a que qualquer consumidor teoricamente teria direito.
À sombra do que se tem verificado nos últimos anos, com chuvas mais prováveis no período de janeiro a abril, desenha-se para os próximos dias um cenário desfavorável e crítico, com risco de colapso total no fornecimento de água no município, caso nenhuma providência a curto prazo seja executada por quem é de direito e obrigação fazê-lo.
Ainda de acordo com o depoimento do também membro do Conselho de Bacias Hidrográficas do Rio Paracatu, Tonhão, que também é um profundo conhecedor das causas e conseqüências da problemática em destaque, “a única alternativa é a captação no Rio São Marcos”, como um caminho para amenizar o sofrimento decorrente da escassez de água atenuada nos últimos dias.
A triste realidade da seca, antes uma marca do povo nordestino e por nós assistida de longe, parece agora não ser mais sua exclusividade, pois estes sertões outrora imortalizados nas linhas de Guimarães Rosa, estão agora e mais do que nunca agonizando com a falta d’água, com a morte da nascentes dos poucos rios que ainda sobejam e com o risco da desertificação do cerrado. Sem sombras de dúvidas, nesse aniversário de Paracatu o maior presente que o cidadão poderia receber seria a notícia de que a água chegaria nos lares, nem que fosse para encher os reservatórios.  
 

(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projetos e é consultor em organização de arquivos e memória empresarial.
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