Para qualquer negócio, seja familiar ou não, a base de sua criação envolve oportunidade, necessidade ou desejo de empreendedores que buscam autonomia e independência, fatores considerados relevantes para a sua concretização e estabilidade. Se analisarmos bem, a empresa, não raro, é a única fonte de renda que garante, a estruturação da família, a aquisição de patrimônio e educação para os filhos. Geralmente seu fundador é quem conduz as atividades e, com sua experiência e estratégia, busca permanecer no mercado.
Não é difícil encontrar empresários mergulhados no dia a dia da empresa, sem qualquer preocupação com a sua sucessão, seja ela planejada ou inesperada. Para algumas famílias, o assunto é tabu, seja pelo gestor, que, centralizador, não acredita que outras pessoas possam conduzir o negócio à sua maneira, seja pelos seus possíveis sucessores, que receiam tomar a iniciativa e serem mal interpretados. Neste contexto, qual é o melhor momento para se discutir a sucessão em uma empresa?
Manter o foco no negócio tem sido um fator essencial para a manutenção e sobrevivência das empresas familiares. A passagem do bastão exige um trabalho conjunto, onde estão em jogo a preparação e a aceitação, pelos demais, de quem assume, seja de forma paulatina ou rompedora. Dimensões mais profundas podem interferir no sucesso desta transição, entre elas: a definição de papéis, o envolvimento de familiares, a comunicação e relacionamento entre irmãos, cunhados, sogros, enteados. Cabe considerar que a geração mais jovem, muitas vezes, parece interessada em outras coisas.
Cuidar para que a família não seja caracterizada mais pelo papel de proprietária do que de gestora no futuro da organização é uma forma positiva de antecipar problemas na sucessão. Conflitos de interesse entre família e empresa podem existir e culminar em alguns riscos de insucesso como descapitalização, falta de disciplina ou excesso de personalização dos problemas administrativos. Merece atenção especial o uso indevido de recursos da empresa por membros da família, que acabam por transformá-la em um erário dos familiares. Muitas vezes, a falta de planejamento e a resistência à modernização impactam nos resultados e impedem uma gestão eficiente. Outro ponto negativo, que merece critérios de avaliação bem estabelecidos, é a promoção e premiação de parentes não por competência, mas por favoritismo.
De forma geral, nas empresas familiares de sucesso se pratica uma maior profissionalização da gestão, o que as diferencia das convencionais. O sucesso também está ligado à importância que estas organizações dão à busca pelo conhecimento, por orientação especializada e por capacitação. É evidente que nas empresas familiares bem-sucedidas, mesmo não sendo totalmente profissionalizadas, existe um nível mais elevado no processo de gestão se comparadas com as similares convencionais.
De modo especial, fatores como a qualidade dos produtos e serviços e o uso da tecnologia fazem parte dos avanços na estratégia de uma pequena empresa, além da criatividade, inovação e do bom desempenho no relacionamento com os clientes. Por último, cabe salientar que a realidade da empresa familiar está nos desafios e impasses de ordens muito diversas. Na realidade, empresa familiar é um enigma em estudos por vários autores e pesquisadores; ou a entendemos ou fracassaremos.
Sucessão familiar no agronegócio
Pai rico, filho nobre, neto pobre. Este provérbio vem sendo um dos mais repetidos quando se fala em sucessão familiar. E não é diferente para o setor do agronegócio, onde grande parte do legado construído por uma geração se desfaz até a terceira. E assim as famílias veem evaporar suas conquistas, ideais e sonhos. Nem sempre o sonho do pai é o sonho do filho.
No passado, normalmente o filho mais novo, considerado a bengala de sustentação dos pais, era quem assumia a propriedade. Hoje, muitos jovens dão mais importância para o estudo e se sentem atraídos pela cidade. A conta não fecha quando pensamos em quem fica e quem sai da zona rural. O resultado nos mostra que está faltando sucessor no campo.
Pensando no futuro, uma preocupação é a produção de alimentos em quantidade suficiente, já que há uma tendência de aumento da demanda diante de uma redução na oferta. Estímulos e incentivos são necessários para a permanência dos jovens na zona rural. Mais tecnologia, melhoria na comunicação e avanços no sistema de educação podem ser atrativos para eles. Desta maneira, dispondo de melhores condições, espera-se que os jovens queiram, por sua própria vontade, permanecer no campo e, cada dia mais, desenvolver esta profissão, tão importante quanto qualquer outra.
Rosely Vaz
Analista Sebrae Minas