O PT merece ir para o céu e para o inferno

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          Pelo andar da carruagem, o reinado do Partido dos Trabalhadores (PT), seja pelo impeachment da presidente Dilma Roussef, seja pela voz rouca das ruas, caminha para melancólico fim. Pelo que fez, e, também, pelo que deixou de fazer, o PT, a um só tempo, merece ir para o céu e ir para o inferno. Para o céu porque, em doze anos, contabilizou grandes feitos, rompeu grilhões históricos e promoveu uma revolução social que o Brasil jamais conheceu em mais quinhentos anos de história. E sem derramamento de uma gota de sangue.  Para o inferno porque, ao permitir que a corrupção se instalasse em suas hostes e em seus governos, recrudesceu no eleitor e cidadão comum uma dúvida: vale a pena abraçar as bandeiras que as esquerdas desfraldam há séculos,  se elas mesmas cuidam de rasgá-las quando assumem o poder?
          Qualquer homem ou mulher de boa vontade, em tendo o mínimo senso de justiça e análise crítica, há de reconhecer: em apenas uma dúzia de anos, os famélicos espantalhos que infestavam as ruas, golpeando a nossa consciência social e cristã, desapareceram. Milhões de brasileiros – as “massas sobrantes” que eram numericamente superiores à população de muitos países – foram arrancados da miséria e da exclusão crônica. Porque havia poder de compra e em consequência do pleno funcionamento dos programas sociais governamentais, os pequenos produtores rurais não tinham mais  que entregar os seus produtos a atravessadores por preços aviltados para  esses especuladores repassá-los,  depois, com ganhos exorbitantes,  aos sofridos consumidores.
          Naquela dúzia de anos, alguma coisa começou a ser modificada na injusta pirâmide social tupiniquim, coisa que as elites jamais perdoaram. Nos bancos das universidades, o jovem rico, de repente, começou a olhar para o lado e constatar que ali agora havia o nunca dantes imaginado estudante pobre. Nas ruas, os donos de carrões passaram a ter dificuldade de estacionamento, simplesmente porque, antes, lá chegara um miserável trabalhador de antanho e estacionara o seu carro zero quilômetro. As delícias consumistas capitalistas, antes privilégio dos ricos, passaram a ser de todos porque, afinal, ninguém é de ferro!  Éramos o maior produtor mundial, dentre outros produtos, de minérios, frangos, cana de açúcar, grãos e carnes para saciar um mundo faminto. Os Estados Unidos da América, inatingível sonho de consumo de poucos, passaram a ser caminho de roça, com muita gente indo lá apenas para conferir as delícias da terra de Tio Sam e comprar algumas peças de roupas.
          Ninguém sequer recordava mais dos tristes idos em que a economista Ana Maria Jul, do Fundo Monetário Nacional, chegava ao Brasil quando bem entendia e metia a colher nas contas públicas brasileiras, nem dando bola para a nossa soberania. Agora, o Brasil, em dia, é que emprestava dinheiro ao FMI. E o presidente americano, Barack Obama, – quem diria – dizia que Lula, o nosso presidente, “era o cara” – cara que elegeu a sua sucessora na maior classe. De repente, o impasse que só vai ser completamente entendido pelo grosso da população no futuro: os festejados gastos para a Copa do Mundo de futebol passaram a ser criticados e objeto de ruidosas manifestações. A política desandou e, em boa parte por causa dos seus desarranjos, a economia foi pro brejo. As manifestações de rua tomaram corpo. E a situação parece ter chegado àquele ponto de fogo morro acima, água morro abaixo e mulher que quer trair: não há quem dê jeito…
          Sim, em determinado momento, o PT mereceu ir para o céu. Fez acreditar, e depois passou do sonho à prática, que a construção da Cidade do Sol, de Campanella,  da Utopia, de Thomas Morus, e da Brotherhood of men, sonhada por John Lennon,  em solo tupiniquim, era possível; que uma pátria justa, igualitária e fraterna, com a eliminação da fome, redução das desigualdades e abertura de oportunidades para todos estava a caminho. O primeiro passo, dando a cada um de acordo com as suas necessidades básicas, estava dado. O próximo seria dar a cada um de acordo com os seus méritos ou capacidade. Mas, como diria Drummond, o poeta de Itabira, “no meio do caminho tinha uma pedra”. Ou, como ensina a sabedoria dos adágios, “quando Deus dá a farinha, o diabo vem e fura o saco”. O PT não soube, não pôde ou quis policiar adequadamente seus quadros, seus governos e escolher seus parceiros. A corrupção, explorada à exaustão por uma mídia que não tratou de forma idêntica os seus antecessores, foi largamente alardeada. Sonhos e bandeiras que tremularam alto e acenderam esperanças foram parar na lama.  E a Utopia e  a Cidade do Sol, mais antigas, e a Brotherhood of men, mais recente,    voltaram ao lugar em que se encontraram: os corações e mentes dos homens.
          Por ação e/ou omissão, pelos seus méritos e defeitos, pelo despertar de consciências e ideais que já existiam muito antes da sua criação, em 1980, e  pelo posterior despedaçar de sonhos seculares,  o PT merece ir para o céu e para o inferno ao mesmo tempo. Para onde mandá-lo é opção de cada um…

Do Toco do Pecado – Comentários de Florival Ferreira

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