O Bloco Ondé

whatsapp-white sharing buttontelegram-white sharing buttonfacebook-white sharing buttontwitter-white sharing button

Se o carnaval não estivesse praticamente proibido, afinal retirar o investimento público a menos de um mês é o suficiente para inviabilizar qualquer evento, eu faria um bloco e o batizaria com a contração do questionamento: Onde é? Assim nasceria o Bloco Ondé.

Como muitos outros pelo país afora, o Bloco Ondé teria por missão, durante a folia, fazer perguntas que não querem calar e que têm licença para serem feitas durante o reinado de momo sem ofender ninguém. E assim, o Bloco Ondé sairia botando o dedo nas feridas anestesiadas pela pomada da hipocrisia e cobertas pela casca grossa da ignorância.

O Bloco Ondé perguntaria primeiro, claro, pelo dinheiro que a prefeitura tinha até o dia 13 de janeiro para financiar o carnaval e que, agora, não tem mais. Ondé que foi parar o dinheiro? E ainda sobre esse tema poderíamos mudar o tempo do verbo e perguntar: Ondé que vai parar o dinheiro que iria para o carnaval? Já que a prefeitura falou, falou, falou mas não disse nem como, nem com o que, nem quando vai investir a fortuna economizada com o fim do carnaval.

O Bloco Ondé também perguntaria pela paz e tranquilidade que perdemos nos últimos anos. De Ondé  que saíram tantos bandidos para aterrorizar a cidade? Seriam drogas? De Ondé que está saindo tanto dinheiro pra pagar tanto vício? Também poderíamos perguntar Ondé que esses bandidos se escondem nessa cidade de 84 mil habitantes que só as autoridades não os encontram? Ondé?

Ah, o nosso desfile seguiria pela avenida Deputado Quintino Vargas relembrando os bons tempos em que era possível transitar com alguma fluidez por aquela via e por todas as outras ruas da nossa espremida Paracatu. Até pararíamos no meio da rua e perguntaríamos: Ondé que vai caber tanto carro? Por Ondé que passa o planejamento de trânsito dessa cidade? Se é que ele já existe.

O Bloco Ondé não ficaria satisfeito com as desculpas oficiais e insistiria em questionar: Ondé que foram parar mais de R$ 130 milhões que o município recebeu só em repasses do Estado e da União em 2015? Pelo menos uma parte dessa resposta já teríamos: nos bolsos do padre sertanejo, do cantor gospel e do sertanejo universitário que encantaram paracatuenses no 217º aniversário da cidade. Riríamos muito perguntando: Ondé que estavam os problemas de saúde, educação e infraestrutura naqueles dias, há pouco mais de três meses atrás? Não importa, eles são prioridade agora.

A bateria do nosso bloco furaria os tambores e enferrujaria os trombones de tanto por a boca neles, não conseguiria respostas pra tudo o que perguntasse e mesmo assim nossos foliões continuariam “proibidos” de sair à rua por aqueles que têm pistolas nas mãos e por aqueles mais conhecidos por serem pistolões. Não tem jeito, ficaremos sem marchinha, apenas chorando com uma marcha fúnebre acompanhando o cortejo. Pra Ondé que vai a nossa Paracatu?

Murilo Caldas é paracatuense,  jornalista desde 1994 e folião desde os 5 anos.

XMCred Soluções Financeiras
whatsapp-white sharing buttontelegram-white sharing buttonfacebook-white sharing buttontwitter-white sharing button